Uma visita diversificada a algumas medidas concretas dos últimos tempos que nos têm sido proporcionadas por esta maioria direitista (PSD/CDS/PPM) que, com o suporte dos seus dois extremos (Chega e IL), nos governa hoje nestas ilhas, mostra-nos, infelizmente, depois de limpa a poeira propagandística com que nos são apresentadas, um quadro bem pouco satisfatório para a solução dos problemas que realmente se propõem resolver.
Após o incêndio no Hospital de Ponta Delgada, o governo, bem ou mal, optou por uma solução considerada transitória – o hospital modelar – para retomar com a maior rapidez possível o funcionamento pleno daquela estrutura do Serviço Regional de Saúde (SRS), começando e bem pelas urgências, que, entretanto, tinham sido reencaminhadas para o Hospital da CUF, na Lagoa.
Talvez, motivado pela exemplar filantropia do Grupo CUF que decidiu não cobrar ao SRS os primeiros 10 dias das urgências reencaminhadas após o incêndio, o governo deliberou retomar apenas as urgências NÃO urgentes (??????) no hospital modular. Para mais tarde, ficaram aquelas que certamente, após boa e rápida cobrança pelo Hospital privado da CUF, ficarão seguramente bem mais onerosas para o erário público. No negócio da saúde, nada como ser um bom “filantropo”, para depois conseguir triplicar ou quadruplicar os retornos financeiros compensadores de tanta generosidade…
Agravaram-se muito as condições da abertura do novo ano escolar, com destaque para a falta de professores. Soluções para isso apanham infelizmente o nosso governo de mãos atadas sem poder aplicar incentivos à colocação de professores, e porquê? Porque, para além do investimento público direto já cabimentado no Orçamento da RAA (740 milhões) para 2024, o governo decidiu atar as mãos a si próprio, quando deliberou prosseguir este ano, sem necessidade alguma de o fazer, a política de endividamento zero, tal como já havia feito em 2023. Tanto a educação, como a saúde, como muitos outros serviços públicos regionais, têm visto, assim, muito dificultado o cumprimento cabal das suas funções para com os Açores e a maioria dos açorianos.
As notícias que vemos e ouvimos dizem-nos que a inflação e os juros baixaram. O que sentimos é que os gastos com a alimentação (peixe, carne, azeite, legumes, etc) se mantêm muito acima do que eram há um ano atrás, quando não continuam mesmo a subir. Uma das medidas de que mais se vangloriam o governo das direitas e os seus amigos das direitas radicais, foi a baixa dos impostos nos Açores em 2021. Com a descida do IRS nos escalões superiores (de 18 % para 16%) e somando os reflexos no custo de vida dos consumidores em geral, com a descida no IRC (para 16,1%) e no IVA (para 16%), o que se verificou, enfim, é que nem os preços nem as rendas ou a habitação ficaram mais acessíveis aos açorianos em geral, e quem ganhou com tudo isso, EM DUPLICADO, foram apenas os mais ricos e os grandes comerciantes …
Por mais vergonhosos e até eventualmente criminosos (no caso da TAP), para as governações, que continuem a revelar-se os processos de privatização da TAP e da SATA Internacional, nada demove a sofreguidão governativa regional pela continuidade do processo privatizador desta última…
As consequências das atuais políticas, especialmente da falta de investimento público, de correções ao persistente desnível de rendimentos e de ajustes no desenvolvimento e mobilidade entre as 9 ilhas, têm por sua vez reflexos nas micro, pequenas e médias empresas, incluindo nos produtores agrícolas (que, no seu conjunto, geram cerca de 80% do produto regional), levando à progressiva extinção de muitas delas, particularmente na agricultura e pescas, com exceção das hiper incentivadas empresas turísticas que, desta forma progressivamente e num ciclo vicioso promotor de maiores desigualdades, inundam o mercado de baixos salários e de péssimas condições laborais…
Mário Abrantes