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Portugal Brûle-T´il-Déjà

Os incêndios que caraterizam o verão lusitano voltaram em força este ano e desde domingo dia 15/9 que o norte e centro do país estão sob fogo intenso, com 7 mortos registados e prejuízos incalculáveis. Dizia-me a Anabela Mimoso que mal se podia respirar em Vila Nova de Gaia, com fogos nas cercanias e a filha que vive em Vila do Conde (sem incêndios perto) até tinha tosse tal a poluição ambiental, sol vermelho e céu carregado. Quinta-feira aliviara levemente, pois arrefecera e alguns dos maiores incêndios tinham sido controlados. Uma tragédia intensificada nestes 50 anos de abril por 1001 razões a que a incúria, desleixo, incapacidade, medo, corrupção, piromaníacos, bombeiros armados em heróis, deficientes mentais, madeireiros e outros em busca de lucro, e outras causas políticas não conseguem pôr cobro, como escrevi há já vários anos…
Quando se descobriu que os fogos não eram causados pelas faúlhas dos comboios a vapor… O governo, com uma visão notável, cortou as vias-férreas, causa de incêndios no verão (depois surgiram outras causas) e substituíram-nas por transportes rodoviários. As estradas eram más e fizeram um novo peditório a São Bruxelas para construir novas.
Temos um país que pensa ser pequeno, mas é dos maiores com a plataforma marinha das ilhas. Temos as maiores pontes, estádios, pizza, panela de assar castanhas, bolo-rei, tudo grande, caro e inútil.
No verão, chegam os incêndios pois não houve dinheiro para cortar o mato e desbravar os corta-fogo, a mata cresceu incontrolavelmente, os velhos não desmatam, os novos emigraram, o Estado nem sabe quais os matos que lhe pertencem quanto mais a mantê-los e cuidá-los e mais ninguém tomou precauções, as eleições já passaram e a TV não fala disso. Os políticos que prometeram tratar do assunto foram absorvidos por outros assuntos com mais votos e tudo passou, como sempre, ao esquecimento que é lá que estão bem. Depois, como sempre acontece, chove, o solo alaga-se, as pessoas perdem os haveres, porque não mantiveram os níveis das albufeiras, nem limparam os esgotos pluviais, emparedaram ribeiras, e os terrenos ficaram impermeáveis.
Cito de TRAGÉDIAS E INFINITOS MUTANTES, 22 AGO 2009 – CRÓNICA 73in ChrónicAçores:
Nunca há responsáveis, mas é possível atribuir as culpas a uma divindade ou a um ato da natureza. Sendo um país eminentemente católico, pelo menos de nome, a tarefa é facilitada. Não foram municípios nem construtores civis, arquitetos ou engenheiros, quem construiu prédios até ao bordo das arribas algarvias ou danificou os solos que, alegadamente, não aguentaram um pequeno tremor.
Ninguém é responsável pela especulação ou construção em zonas protegidas. Quando surgem incêndios criminosos, que consomem milhares de hectares, a culpa jamais é dos pirómanos, madeireiros ou bombeiros que querem ser heróis.
As culpas vão para as condições climatéricas, a mata que cresceu mais do que devia, os terrenos por limpar, as vias corta-fogo que não estavam desimpedidas ou a mudança de direção do vento. Os pirómanos não cumprem penas, ou estas são suspensas e os madeireiros são ilibados. De seguida, alugam-se a preço de ouro, aviões e helicópteros de combate a incêndios.
As inundações surgem ciclicamente em terrenos, ardidos ou não, pelo clima que esteve fora dos parâmetros, uma situação anómala, mas jamais dos desastres ambientais que previsivelmente acontecem, face ao desrespeito pela natureza, quando constrói em zona de aluvião ou se esqueceu do leito das ribeiras que os engenheiros camarários esconderam sob o cimento. (o tribunal europeu em 2020 decretou a culpa do Estado que terá de pagar uma indemnização) …
Nova citação, crónica de 2017. PORTUGAL BRÛLE T’IL DÉJÀ? 17-18 JUNHO 2017, CRÓNICA 170 in ChrónicAçores:
Neste país de fogos (postos ou não) e mortes inúteis, sinto impotência perante a irresponsabilidade. Há sempre uma comissão de inquérito com conclusões arquivadas, para ouvir ministros e secretários de estado dizerem que está tudo a postos para o combate (no ano seguinte) aos fogos que devastam o país para lucro das empresas de celulose. Madeira ardida é papel barato, mesmo que seja à custa de uma centena de vidas.
A versão oficial: o fogo de Pedrógão Grande, começou com um raio numa árvore em Escalos Fundeiros. É a culpa divina, esse deus é do camandro, tem costas largas. Di Caprio fará disto um filme em 2021. Não se preocupem. Existem leis e coimas, das melhores no mundo para quem não mantém a área de segurança de 50 m. A maioria dos terrenos ardidos são do Estado que não cumpre normas, nem disponibiliza vigilantes para substituírem os guardas-florestais que sem meios desempenhavam as funções.
Por mera omissão não dizem que a maioria dos donos das casas sem os 50 m. de proteção são idosos (muito idosos) incapazes de fazerem o trabalho ou pagarem 50 € à hora para a máquina de desbaste, sem dinheiro para medicamentos ou carro de praça que os leve ao centro de saúde, abandonados por filhos e netos em aldeias desertas, donde se retiraram os serviços, desde a venda, ao café, ao multibanco, à escola, à junta de freguesia amalgamada.
Por mera omissão não se mencionam as leis que selvaticamente permitem o plantio de eucaliptos, altamente inflamáveis e totalmente desajustados à orografia.
Por omissão ninguém falou dos incendiários (perfil 20-35 anos, alcoólico, desempregado, poucos estudos e julgado com impunidade, raras vezes condenado ou saindo em liberdade condicional).
Por omissão ninguém se lembrou que em vez dos milhões gastos todos os anos (aviões e helicópteros inoperacionais por falta de peças, manutenção, dinheiro para as reparações, antes de os oferecerem em 2022 à Ucrânia), se deviam contratar engenheiros agrícolas e florestais (percebem da poda) para fazer a eficaz manutenção de solos, reordenamento territorial agrícola usando árvores bombeiras, como o castanheiro, que retardam os fogos e não servem de combustível como o eucalipto. Contratem guardas-florestais como vigilantes da natureza para vigiarem e darem o alerta.
Menos leis “perfeitinhas” (mesmo bem-intencionadas) que ninguém cumpre e mais meios preventivos, bombeiros equipados, pessoal profissional, treinado e pago, em vez dos impreparados voluntários que dão a vida por nada. Vem aí a era de situações atmosféricas atípicas, temperaturas extremas (fogos no verão e inundações no inverno) num país onde se cimentaram ribeiras, plantaram árvores não-autóctones altamente inflamáveis, desviaram cursos de água, sem manutenção de solos. Não adianta culpar divindade sou natureza. Podemos minimizar ou atrasar efeitos, mas não a podemos controlar. A natureza é quem tem sempre a última palavra.
Seremos sempre o país com a fama de brandos costumes em vez de lhe chamarmos CORRUPTO… Estas duas citações de 2009 e de 2017 servem para lembrar quando houver incêndios em 2027 que já tudo foi dito e escrito… e ninguém fez nada!

Chrys Chrystello*

*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713
MEEA-AJA (IFJ)

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