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Reforma sem esperança de vida?

“Entre as várias regiões do norte, centro e sul de Portugal, incluindo a R. Autónoma da Madeira, os Açores estão na cauda da tabela da esperança média de vida e muito longe de atingir o patamar médio nacional.”

Foi recentemente anunciado que a esperança de vida à nascença, em Portugal, no triénio 2021-2023, situou-se em números redondos, nos 81 anos – 78 anos para os homens e 83 anos para as mulheres.
Com estes dados, o nosso país mantém-se praticamente a meio da tabela dos 27 estados membros da União Europeia: a Espanha ocupa a primeira posição, com uma esperança média de vida de 84 anos, a Itália logo a seguir e a ilha de Malta com 83,6 anos.
Na cauda da Tabela estão a Estónia, a Letónia e a Roménia, com idades médias de vida entre os 75 e 76 anos.
Nos Açores, a esperança média de vida de homens e mulheres está, em média, nos 78 anos, ou seja três anos abaixo da média de vida nacional. A diferença, porém acentua-se nos homens, pois estes vivem menos 6 anos do que as mulheres.
Os números fazem pensar qualquer pessoa que pretende ter uma vida longa e saudável e mais também os responsáveis pela saúde e pelo bem-estar da população.
Se o projeto de vida de qualquer ser humano é atingir a longevidade com saúde e conforto, estamos muito longe de conseguir esse intento.
Entre as várias regiões do norte, centro e sul de Portugal, incluindo a R. Autónoma da Madeira, os Açores estão na cauda da tabela da esperança média de vida e muito longe de atingir o patamar médio nacional.
Pode, portanto concluir-se que o serviço regional de saúde (SRS) não está a desempenhar convenientemente as funções para que foi criado. Merece, por isso uma séria e profunda reflexão de toda a sociedade em geral e dos responsáveis em particular que, normalmente, dão mais atenção aos cuidados de saúde diferenciados e aos serviços hospitalares, do que aos cuidados de saúde primários.
Uma proposta governativa foi anunciada para baixar o limite da idade da reforma nos Açores, como se, a redução da sua atividade profissional lhes proporcionasse maior longividade. Pode, eventualmente, acontecer, mas não é consequência segura.
Penso que a solução proposta pelo Governo traduz sobretudo a incapacidade e inoperância do executivo dos Açores em reverter a situação, de que alguns trabalhadores já beneficiam com reformas antecipadas.
Não é diminuindo a idade da reforma, como já sucede em países europeus mais evoluídos, que a média de vida aumenta. É educando os cidadãos desde tenra idade e ao longo da vida, tendo acesso a cuidados de saúde de qualidade, quando deles se necessita.
O que as pessoas pretendem é viver, viver com saúde e bem estar e poder dispor de serviços médicos e hospitalares, com a qualidade dos disponibilizados aos utentes do continente.
Não se vai ao médico ou ao hospital para morrer, mas para melhorar da doença e continuar a viver. Infelizmente isso não acontece em situações tardiamente detetadas, não por incúria dos doentes, mas por incompetência ou incapacidade dos serviços de saúde.
Nos últimos meses tem-se falado muito sobre Saúde, mas mais na perspetiva das instalações hospitalares, das carreiras médicas e de enfermagem e de outros profissionais do ramo. Todavia, muito pouco se reflete sobre a prevenção e os cuidados de saúde primários – parente pobre desde que o Serviço Regional de Saúde foi criado.
Dizem os entendidos que os melhores índices de saúde e bem-estar atingem-se com campanhas persistentes sobre a alimentação saudável, os benefícios da vida ativa, a prevenção e tratamento das toxicodependências, do tabaco e do álcool, sobre a integração e realização pessoal, social e comunitária dos cidadãos, em ações constantes desde os bancos da escola até ao fim da vida.
Não chega celebrar dias nacionais e mundiais da alimentação, do coração, da infância, da juventude e da terceira idade, lançar campanhas de vacinação e efetuar rastreios de doenças crónicas com co-morbilidades que afetam as comunidades mais idosas e ultraperiféricas.
A educação para a saúde é tão ou mais importante que os cuidados de saúde diferenciados. Todavia nem os programas escolares contemplam essa área do currículo, nem as dotações orçamentais justificam a sua importância na promoção da saúde.
Enquanto a saúde significar apenas consultas médicas, exames e cirurgias e não se conseguir mudar mentalidades de responsáveis e de cidadãos, a esperança média de vida levar-nos-á ainda mais cedo ao destino final.
Por isso mudar de rumo é a única solução para podermos ter uma vida digna, mais longa e saudável.

José Gabriel Ávila*

*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

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