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Quadros de Mérito: A Democraciada Excelência para Poucos

Os quadros de mérito são frequentemente apresentados como ferramentas de motivação, acompanhados por discursos que exaltam o esforço e o desempenho académico. As instituições de ensino justificam a sua implementação afirmando que incentivariam a dedicação dos alunos, sugerindo que o reconhecimento público seria um estímulo poderoso para que todos busquem a excelência. No entanto, uma análise mais profunda desta prática permite questionar se os quadros de mérito cumprem realmente este papel ou se acabam por reforçar desigualdades e promover uma visão limitada do que significa “ter sucesso” na educação.
A primeira questão que surge é: mérito para quem? Os quadros de mérito costumam premiar alunos que alcançam as melhores notas ou que se destacam em determinadas áreas, sem considerar as condições individuais de cada estudante. Aqueles que têm acesso a recursos, como explicações, um ambiente tranquilo para estudar em casa ou apoio emocional adequado, estão claramente em vantagem. Por outro lado, os alunos que apresentam necessidades, como a necessidade de trabalhar, responsabilidades familiares, dificuldades financeiras ou problemas de saúde mental, muitas vezes ficam excluídos deste reconhecimento.
Será justo um sistema que ignora o contexto individual de cada aluno? Ao destacar apenas os melhores, os quadros de mérito podem promover uma divisão entre os estudantes, colocando alguns num pedestal e desvalorizando os restantes. Alunos que, apesar dos seus esforços, não atingem o desempenho necessário para serem incluídos no quadro mérito podem sentir-se desmotivados, reforçando a sensação de que, para eles, o sucesso académico não é alcançável. Desta forma, o sistema que deveria incentivar pode, na realidade, desincentivar muitos alunos.
Outro ponto a considerar é a natureza da competição que este sistema alimenta. Será que a educação se resume a uma disputa por quem obtém o melhor desempenho? Não seria mais produtivo valorizar o processo de aprendizagem e o esforço individual de cada estudante, em vez de promover uma competição baseada apenas nos resultados? Esta cultura de rivalidade pode distorcer o verdadeiro propósito da educação, que deveria ser o desenvolvimento integral do aluno, e não apenas uma corrida para ver quem atinge a linha de chegada primeiro.
Além disso, levanta-se uma questão delicada sobre o verdadeiro propósito dos quadros de mérito. Embora sejam apresentados como uma forma de estimular os estudantes, muitas vezes servem mais para o prestígio das próprias instituições. Afinal, exibir alunos “exemplares” pode melhorar a imagem de uma escola ou universidade, mas a que custo?
É claro que o mérito é importante e que o reconhecimento do esforço deve ser incentivado. Contudo, será que o formato atual dos quadros de mérito cumpre realmente esta função de forma justa e inclusiva? Talvez seja altura de repensarmos esta prática, procurando formas de valorizar o desenvolvimento de todos os alunos, independentemente das suas circunstâncias, e reconhecermos que o sucesso na educação não pode ser medido apenas por notas e diplomas. Afinal, de que serve premiar alguns se, no processo, deixamos a maioria para trás?

Rita Simas Bonança*

*Doutorada em Educação, Universidade Iberoamericana

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