A intervenção psicológica procura estimular a capacidade de reflexão acerca do que pensamos, para evitar a generalização da fusão entre o pensamento e a realidade. Os nossos pensamentos são tão suscetíveis a distorções quanto menor for a nossa capacidade para refletirmos sobre o que pensamos. É nesse sentido que a categorização, enquanto processo cognitivo organizador da realidade social, encontra-se na origem do preconceito, justamente uma dessas distorções.
“Arrumar” os indivíduos em “gavetas” (categorização) consoante as suas características físicas, psicológicas e sociais é um processo primordial na formação de impressões, mas a passividade nesse processo não é uma inevitabilidade.
O preconceito é a expressão cognitiva da categorização que poderá conduzir-nos até ao comportamento discriminatório. Assim, formar uma impressão fundamentada nome do é comum e humano, mas agir conforme poderá acarretar prejuízo para o próprio e para os outros.
Analisar a realidade, com o cuidado de atender aos indícios que possam ou não confirmar os nossos preconceitos, como se estes fossem hipóteses numa experiência científica, em vez de procurar somente o que os confirma é a estratégia adequada e contrastante com a era dos algoritmos que nos coloca somente perante a informação que confirma as nossas crenças.
O confronto entre as nossas suposições e os indícios que as desconfirmam é uma experiência mais desconfortável, quanto mais arreigados forem os nossos preconceitos, ou seja, quanto maior a influência destes nas nossas opiniões, atitudes e comportamentos, mais difícil será esse confronto e maior será a resistência à mudança.
A construção da nossa identidade também se faz por aquilo que nos distingue dos outros, incluindo as nossas opiniões, atitudes e comportamentos. Portanto, a flexibilidade para evitar vieses nos nossos pensamentos é crucial para se ser auto-confiante e afirmativo.
Enfim, ter a capacidade para refletir sobre o que pensamos, assumindo que somos vulneráveis ao preconceito, permite gerir o nosso comportamento e, desse modo, prevenir a hostilidade dirigida aos outros e a perpetuação de mitos que reforçam círculos viciosos de intolerância e incompreensão.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os açorianos.
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Paulo Mendes*
*Psicólogo Clínico e da Saúde