Quem estiver atento à actividade dos dois deputados açorianos, do PSD e do PS, no Parlamento Europeu, já deve ter reparado que andam numa roda viva em defesa das regiões ultraperiféricas, particularmente da nossa Região Autónoma.
Trata-se de um bom exemplo para toda a classe política, que deveria ser replicado nas nossas ilhas, onde é useiro e vezeiro ver deputados eleitos pelo mesmo círculo de costas voltadas, embora com posições semelhantes face aos problemas das suas comunidades.
Paulo do Nascimento Cabral e André Franqueira Rodrigues estiveram, inclusivé, esta semana, juntos, num encontro promovido pelo eurodeputado socialista, que reuniu todos os parlamentares eleitos pelas regiões ultraperiféricas, na sequência de uma promessa de André Rodrigues na noite eleitoral.
Dá gosto ver política assim, com jovens políticos motivados e que colocam os interesses das suas regiões acima das guerrilhas dos partidos a que pertencem.
É desta unidade e motivação que precisamos aqui nos Açores, entre os dois principais partidos, para enfrentar os desafios que se aproximam em Lisboa, em defesa dos Açores, no que toca ao próximo Orçamento de Estado, à revisão da Lei de Finanças Regionais, à afirmação da Lei do Mar e à revisão que se impõe da Constituição, no que toca às Regiões Autónomas.
Combate semelhante se trava na Europa, muito mais agora que se fala na eventual decisão da Comissão Europeia em renovar o Quadro Financeiro Plurianual sem a participação das regiões, numa atitude centralista sem precedentes.
O centralismo é sempre centralismo seja em que parte for, na Europa, em Lisboa ou até nos Açores, onde há a tentação de alguns políticos arrogantes em arregimentar as suas decisões sem escrutínio e sem a participação de ninguém.
Que o bom exemplo açoriano no Parlamento Europeu perdure e sirva de motivação para as outras lutas que teremos de enfrentar.
Na Europa ou em Lisboa, a luta continua!
O colapso de um modelo
O transporte marítimo de carga na região está uma miséria.
Não há uma ilha, um empresário ou um cidadão que não esteja descontente com a operação, a necessitar urgentemente de uma reforma.
O modelo actual colapsou já há algum tempo, mas nem o governo anterior, nem o actual, tiveram a coragem de ouvir os conselhos sensatos dos empresários das várias ilhas, preferindo deixar o barco navegar em águas que só desaguam para os interesses oligárquicos dos operadores.
É grave quando ouvimos um representante dos empresários dizer que “ninguém fiscaliza nada, há uma cartelização clara entre os três operadores, só que a região, porque não tem de dar qualquer tipo de pagamento pelo serviço que tem, opta por fazer como Pôncio Pilatos e lavar daí as mãos”.
Fez-se um estudo que ninguém percebeu, ainda, para que serviu, pois nomeou-se uma comissão para estudar o estudo!
Esta semana ficou-se a saber que, afinal, não serviu de nada e a decisão volta a estar nas mãos do governo.
Que estudo é que se segue? O do aeroporto do Pico também já vai no segundo estudo do primeiro estudo!
Já lá vai o tempo em que os governantes não tinham medo de decidir, mesmo mexendo com interesses instalados.
O tempo que se perde nestas indecisões é equivalente ao atraso em que nos encontramos. Não há maneira de aprendermos.
Osvaldo Cabral
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