José Manuel Bolieiro está de pedra e cal.
É escusado apontarem-lhe a falta de jeito para galvanizar congressos ou a sua vulnerabilidade perante as teimosas reivindicações dos seus parceiros de coligação.
Bolieiro compensa tudo isso com a imagem de político sério e paciente que soube assumir enquanto Presidente do Governo dos Açores.
Sejamos realistas: as expectativas iniciais dos próprios sociais-democratas eram muito baixas nos primeiros meses de governação, mas hoje estão rendidos ao efeito ‘low profile’ de Bolieiro, apesar dos elefantes na sala.
E o maior de todos, no Congresso do fim de semana, foi aquela história dos 150 milhões de euros que os Açores querem, a todo o custo, para não voltarem à banca, mas que o ministro das Finanças não está muito virado para aí.
A vinda de Luís Montenegro poderá ter sido vantajosa neste aspecto, pelo menos para sentir o pulso de um congresso que não o recebeu com muito entusiasmo.
Ao que parece, terá ficado assente (finalmente!) uma data para a cimeira a três, ainda antes da aprovação do Orçamento de Estado, o que traz alguma luz às pretensões das duas regiões autónomas.
Este foi o único senão no congresso, em que muitos esperavam o tão desejado anúncio, mas o ministro das Finanças, segundo sabemos, só aceita aceder à pretensão dos líderes dos Açores e da Madeira depois de uma revisão da Lei das Finanças Regionais, coisa que não parece encaminhada para este ano.
A oposição ficou desarmada com o anúncio da descida das passagens para Lisboa e Madeira, sendo óbvio o incómodo como reagiram no final do congresso, apontando apenas para o caso dos 150 milhões.
Se Bolieiro conseguir o que pretende – o que parece, agora, menos longe do que estava antes da vinda de Montenegro -, então é caso para dizer que valeu a pena ameaçar com os votos contra dos deputados insulares na Assembleia da República.
É preciso, agora, não perder esta firmeza e manter o que Bolieiro disse no final do Congresso: o interesse dos Açores está acima de tudo, mesmo do partido.
****
O NOVO PS – O fim de semana foi profícuo para os dois principais líderes regionais.
Francisco César prometeu e cumpriu, também no fim de semana, com uma pequena revolução no interior do PS-Açores.
Introduziu novas caras, manteve os outros rostos cansados mais longe do comando do partido e fez um secretariado à sua imagem, com as peças de que disponha.
Os três novos Vice-Presidentes são boas escolhas, com destaque para a surpresa da guerreira picoense Ana Brum, sendo o único senão o facto de muita gente não se esquecer do que fez Cristina Calisto, quando perdeu as eleições regionais e de imediato se refugiou com um regresso à sua Câmara Municipal (de onde nunca devia ter saído).
Francisco César e a sua nova equipa precisam, agora, de afinar o discurso.
Têm um problema complicado, que é o passado recente de uma governação desastrosa, que os adversários se encarregarão de lembrar a toda a hora.
Aquela de dizer que deixaram como herança uma boa situação financeira para o governo de Bolieiro estar a fazer os brilharetes que tem feito, é uma negação da realidade e até uma contradição.
Se a situação era boa, então não souberam baixar as tarifas aéreas, nem tão pouco os impostos, votando mesmo contra.
O novo PS precisa mesmo de olhar para a frente e deixar-se de avaliar o que ficou para trás.
Sempre que voltar atrás, vai tropeçar na tal herança, que, como todos sabemos, não é lá grande coisa.
Osvaldo Cabral
[email protected]