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2025 Augúrios de Paz e Esperança

Depois do TE DEUM de acção de graças pelo ano que findava, todos se recolhiam a casa. O silêncio e o escuro da noite só se rompiam por alguma lamparina acesa. Os adultos partiam para festejar a passagem de ano. Perto da meia-noite, ainda acordada, escutava, sem perceber, a voz doce e maliciosa da minha avó a ver se eu atingia o sentido da estória.
-Vai haver uma grande briga aqui na rua à meia-noite. É um velho e um menino, eles vão travar uma luta terrível e quem vai vencer é o menino.
Sem compreender a sabedoria daquelas palavras, eu imaginava esse velho e o menino na rua numa grande briga.
Mas Crono é implacável. O velho sempre dá sempre lugar ao novo. É a ordem do mundo. As crianças representam tudo o que há de novo e puro. As crianças são o ponto fraco dos pais. Inconscientemente temem ser substituídos.
O passado é porém um tesouro que nos deve humanizar em vez de petrificar, como no mito, e deposita sentido ao dia que nasce. A memória dá-nos essa consciência que nos dá uma permanência de retalhos do que já fomos e só por isso temos perceção da realidade. Um imaginário impossível de evitar cobre tudo como se a memória não nos atraiçoasse.
Como num velho novelo de lã, o fio das lembranças desenrola-se, prende-se, enrola-se de novo, num enredado confuso que se solta sem tino, nem ordem, senão de sons, vozes, perfumes, terra molhada, vultos e imagens vagas, muito queridas, e tudo vai e vem desordenado, sem mais data ou pretexto, que a ressurreição dos afetos.
Segredos e mistérios do tempo ser sempre uma criança mesmo no adensar da noite e na vaga luz crepuscular da invernia tão forte. A Primavera palpita na alma, no perfume que é o nosso planeta azul. Que ilusão maior a de ter colhido o tempo, nos meus breves anos e trazê-lo sempre comigo.
O mito do Eterno Retorno lá do Oriente parece surgir na repetição da Natureza que dorme e acorda por estações que nos lembram a nossa vida. Talvez façamos promessas de uma Vida Nova, de uma escolha diferente e um projecto existencial desenha-se no tempo que chamamos novo. Com o mundo em convulsões e mudanças espantosas a cada instante que espaço temos para sonhar? Mas o sonho é uma imperiosa necessidade para dar sentido a qualquer existência. Afinal chegamos até aqui. Sobrevivemos e, contrariando tudo e todos, queremos ter o direito de sonhar.
Se, por um lado, o Mal assola a face da Terra, o Bem caminha no silêncio e há vozes de tamanha Esperança com desejos de Paz como jamais houve.

No dia de Paz e um mundo em guerra, quando tudo é escuro e o medo se esconde no brilho dos olhos, a esperança evoca a primavera, uma lucidez face a toda a alienação e um Menino que derrota o Velho para termos direito a um coração novo, no meio de todos os males terríveis que assolam o Planeta, esta única casa comum, onde o nosso grito de Esperança tem de ser o mais forte.
Vamos a caminho em dia de celebrar a Paz neste novo Jubileu. Há um novo santuário no alto dos montes. E, para que mais forte pulse o nosso coração, subamos até ao novo Santuário da Senhora da Paz. Ao ver a longa paisagem cumpre-se de novo a vitória da Esperança. Feliz Ano Novo!

Lúcia Simas

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