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SATA Não é uma Empresa

A SATA é nossa: O sentimento quase unânime e transversal, vincado nas mentes açorianas, é um lugar dito por todo o lado a que chamamos Açores. A frase “o propósito da SATA é servir os açorianos” é repetida (quase ao expoente da loucura) por políticos de todos os partidos e reflete um sentimento transversal às forças vivas da região, salvo as honrosas excepções, deixando claro que a SATA não é uma empresa como as outras. Acima de tudo, é um projeto político.
Quando uma empresa subordina sua gestão a objetivos políticos em vez de empresariais, é inevitável que a eficiência operacional e os resultados sejam comprometidos. Os objetivos não seguem lógicas empresariais, mas sim políticas, atendem a capital político e não ao melhor interesse do acionista, nós todos. Ainda mais, quando os objetivos não são assumidos, mas sim mantidos sub-repticiamente nas mentes deste, ou daquele político.
A SATA, desde que é detida a 100% pela Região, esteve sempre ao serviço do poder político. A empresa é usada para ganhar votos e agradar interesses, ou pior, como faz parecer a recente notícia da investigação judicial ao célebre negócio do Cachalote. Criar novas rotas, adequar tarifas sem racional económico ou manter rotas deficitárias não são decisões de gestão – são decisões políticas.
Por exemplo, as recentes declarações de Artur Lima acerca da possibilidade de a SATA voar para São Tomé, revelam bem como são traçadas as prioridades, e como cada vez que existem este tipo de afirmações, razoavelmente extemporâneas, a própria empresa, que querem privatizar, perde valor. Como se pode explicar a opção de continuar a operar as rotas do continente para Santa Maria, Pico e Faial, sem qualquer compensação depois do término do contrato de OSP’s, a não ser com razões políticas, válidas ou não? Essas escolhas priorizam ganhos políticos imediatos, como votos ou simpatia popular, em detrimento da sustentabilidade de longo prazo. E isso faz toda a diferença.
Nos Açores, onde o transporte aéreo de passageiros e carga reveste-se de particular importância, a SATA é vista como um serviço público. O povo quer voos acessíveis e frequentes, e a classe política sabe bem, e por isso, usam a empresa para agradar, mesmo que isso prejudique a saúde financeira da SATA e, frequentemente, sem ter em conta os efeitos de médio e longo prazo, com os resultados que se sabem.
A confusão entre o que é ser accionista de uma companhia aérea a operar no mercado concorrencial, e o que é a necessidade de haver obrigações de serviço público, sempre foi uma realidade, apesar de os instrumentos legislativos existirem, e apesar de existir consenso político à volta da necessidade de existirem OSP’s, como acerca da necessidade de financiar esse sistema.
Esse modelo político tem custado caro aos Açores. Além da necessidade de assumir a totalidade da dívida da Azores Airlines, a necessidade de financiamento manterá-se no futuro até à hipotética privatização, e isso pesa nas contas de uma região pequena e com parcos recursos como são os Açores. Para uma região pequena e pobre, a dimensão atual e potencial do problema, configura-se como o desafio do século para os Açores, e, para os mais atentos, já o assim é há pelo menos década e meia.
Curiosamente, embora os políticos muitas vezes usem a SATA para ganhos políticos de curto prazo, como criar novas rotas ou baixar preços, o impacto financeiro negativo acaba por ser tão grande que não só limita a capacidade da empresa de operar eficazmente, como também mina a confiança do eleitorado na gestão pública. Essa combinação de problemas financeiros e perceção negativa tem levado, a médio e longo prazo, a perdas políticas significativas, como ficou claro no caso de Vasco Cordeiro, que, após anos de dificuldades financeiras da SATA, acabou por perder expressão eleitoral e, no final, o próprio poder. José Manuel Bolieiro corre o mesmo risco, se não conseguir resolver este dossier em tempo útil e sem mais danos para a região.
A SATA é, antes de tudo, política, e isso é o principal fator para entender as dificuldades que enfrenta num setor tão complexo e competitivo. Enquanto a lógica política prevalecer sobre a lógica empresarial e até sobre o bom senso, alcançar a sustentabilidade continuará a ser um objetivo distante, independentemente da qualidade da equipa de gestão. Para enfrentar este desafio, é essencial adotar uma abordagem corajosa que afaste de imediato a SATA da influência política, através de um processo de privatização ágil que garanta uma maioria significativa do capital em mãos privadas. Afinal, que investidor privado estaria disposto a aceitar uma intervenção política constante na gestão da empresa? Se o aceitar, será também muito mau sinal.

André Silveira

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