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Acontecimentos em Janeiro

Quando se fizer a história deste ano, janeiro será um mês a não esquecer, pelos acontecimentos que ditarão alterações significativas no relacionamento entre povos e nações.
Refiro-me, nomeadamente, ao cessar-fogo entre Israel e a Guerrilha do Amas e a entrada em Funções da Administração Trump. Muito se falará ainda sobre as consequências destes dois eventos na História da Humanidade.
Concorde-se ou não, os detentores dos poderes político, económico, social e até religioso, tomarão decisões que, de uma ou de outra forma, afectarão a vida em sociedade, por mais isolada que seja.
A era das comunicações e das redes sociais, facilitou e dinamizou o acesso à actualidade internacional e às várias e até divergentes correntes de opinião.
Até nós chegou também a sociedade global. Todavia, os valores culturais e éticos que julgávamos perenes, foram sonegados, afetando, sobremaneira, a nossa identidade e a nossa História coletiva.
À inevitabilidade da globalização não soubemos contrapor a memória do passado e o melhor que ele nos deixou, transmitindo-o às jovens gerações.
O processo histórico que nos trouxe até aqui e que marcou o viver destas ilhas ao longo de cinco séculos tende a cair no esquecimento. Infelizmente, ele só está acessível a cidadãos mais letrados. Os próprios curriculos escolares, pouca importância dão à nossa história e idiossincrasia, que nos distinguem como povo.
Há cada vez mais necessidade de universalizar a nossa cultura, é verdade, mas isso não significa que desvalorizemos a nossa história coletiva e os nossos maiores.
Um deles, entre muitos outros, nasceu em 21 de janeiro de 1796. “Filho de lavradores abastados da Vila de São Sebastião,” 1 Francisco Ferreira Drumond foi, segundo o historiador José Guilherme Reis Leite “o primeiro historiador científico dos Açores”.
A sua obra “Anais da Ilha Terceira”, publicada em quatro volumes entre 1850 e 1864 pelo Município de Angra, é considerada fundamental para a História dos Açores, pois remonta do povoamento até às lutas liberais cujo ideal desde cedo abraçou “sendo por isso perseguido e obrigado ao exílio em 1823. Foi secretário da Câmara de S. Sebastião nas primeiras eleições liberais, em 1822, e posteriormente, chegou mesmo a presidir à Câmara, entre 1836 e 1839.” 2
Nesta nota só pretendo chamar a atenção do leitor para um cidadão terceirense que, como diz Gervásio Lima, “arrastou a vida por cartórios a vasculhar, na poeira dos arquivos, a mendigar pelas casas fidalgas, na tarefa inglória de guardar o muito que hoje se conhece e sabe” (LIMA:1934,45) sem outro intuito que não fosse acautelar o passado colectivo para compreender o presente e perspetivar o futuro.
E já que falo na História destas ilhas, socorrendo-me do “Breviário Açoriano” e de outras fontes, recordo que no passado dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião, patrono de algumas paróquias do arquipélago, fez 572 anos que D. Afonso V, de cognome o africano, doou ao seu tio D. Afonso, Duque de Bragança, a ilha do Corvo, inicialmente conhecida pela “Ilha do Marco” “por nela ter sido encontrada uma figura de pedra, em forma de homem, apontando para poente, como a indicar novas terras”( LIMA:1934,44).
É também interessante referir que o primeiro bispo da Diocese de Angra (1534-1540), Agostinho Ribeiro, antes fora pároco foi do Corvo.
Em 24 de janeiro de 1672, os florentinos foram surpreendidos, manhã cedo, por uma frota holandesa composta por 27 navios ancorada no porto de São Pedro, defronte à vila de Santa Cruz. Gervásio Lima, citando a “História das Quatro Ilhas” de Silveira de Macedo e “As Ilhas dos Açores”(1889) de Gabriel Almeida refere que o povo, perante a invasão daqueles corsários que pretendiam atacar as armadas vindas da Índia e do Brasil, tomou a Imagem da Senhora da Conceição existente na Matriz e, rezando o terço, invocou a protecção divina. Entretanto o mar alterou-se e as escaleres tiveram de regressar aos navios da armada e de fugir para a Ilha de Santa Catarina, Brasil.
Desde então, refere o autor do “Breviário Açoriano”, os florentinos cumprem o voto feito por terem escapado à invasão dos holandeses, mandando celebrar solenes atos litúrgicos.
A propósito de Gabriel de Almeida, no próximo dia 29 do corrente faz 131 nos que este escritor micaelense faleceu. Tinha 27 anos.
Do seu legado histórico constam alguns livros e folhetos como: “As Ilhas dos Açores”(1889); “A Ilha de São Miguel”(1885); “Os Açores e a Indústria Piscatória”(1892);“Manual do cultivador de chá”(1892); “A ilha de Santa Maria”(1893), destinado à Exposição Universal de Chicago; “Castilho na Ilha de São Miguel” (1885); “Agenda do viajante de São Miguel” (1893); Dicionário Histórico-Geográphico dos Açores”(1893), entre outros, para além de artigos dispersos em revistas e jornais onde trabalhou.
Segundo a nota da Enciclopédia Açoriana, elaborada por Eduíno de Jesus, Gabriel d’Almeida “Dedicou toda a sua vida, que foi muito breve, ao estudo da história, tradições, usos, costumes, corografia, agricultura e indústrias das ilhas de S. Miguel e Santa Maria.”
E por aqui fico, não sem antes alvitrar que alguns destes livros sejam reeditados, mais não seja para conhecermos e evolução registada entre a sociedade açoriana em finais do século 19 e os nossos dias.
Outra sugestão: por que não atribuir o nome do jovem Gabriel de Almeida a uma das novas artérias citadinas? A sua obra justifica-o.

1 LIMA, Gervásio, BREVIÁRIO AÇORIANO, Tipografia Andrade, 1934
2https://www.culturacores.azores.gov.pt/ea/pesquisa/Default.aspx?id=2820

José Gabriel Ávila*

*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

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