É possível não comunicar? A resposta é não! Tudo em nós é comunicação!
As palavras que utilizamos interferem na nossa estrutura mental e nas nossas relações interpessoais. Desta forma, a maneira como comunicamos não afeta apenas a mensagem que queremos passar mas também as interações consequentes da forma de comunicar.
Sabemos que a comunicação não depende apenas das palavras, aliás cerca de 7% são palavras e os restantes 93% estão associados ao tom de voz e linguagem corporal. Daí a expressão “não foi o que disseste mas a forma como o disseste, o tom de voz que utilizaste”.
Importa assim estarmos cada vez mais conscientes da forma como comunicamos e o quanto esta influência a forma como nos relacionamos com os outros.
Para comunicar eficazmente devemos ter em conta quatro aspetos: observar sem avaliar, identificar e expressar as emoções e sentimentos, quais as necessidades que preciso que sejam satisfeitas e ser eficaz no pedido concreto a fazer.
Mais especificamente, observar sem avaliar implica que a comunicação seja baseada em factos concretos e não interpretações que podem levar ao enviesamento da informação, como por exemplo “és sempre tão generoso”. Sempre que utilizamos palavras como “Sempre, jamais, nunca ou raramente” provocam respostas defensivas no outro, podem ser consideradas um excesso de linguagem. Devemos também aprender a identificar e expressar mais eficazmente as nossas emoções. Por vezes comunicamos sem expressar especificamente o que estamos a sentir ou que emoção determinado acontecimento provocou de forma a ser mais claro para o outro, como por exemplo “ninguém me compreende” em vez de “fico frustrada quando estou a falar e estás no telemóvel”. De seguida devemos ser capazes de aceitar que a responsabilidade pelas emoções e sentimentos é nossa, ou seja aquilo que os outros dizem ou fazem pode ser um estímulo para os nossos sentimentos mas não a causa. Desta forma, os outros não são culpados pelo que sentimos, depende de cada um gerir da melhor forma o que o outro faz sentir. Assim existem quatro opções a fazer ao receber uma mensagem negativa: Culparmo-nos, por exemplo “a culpa é minha”, ou culpar os outros, por exemplo “a culpa é tua”, ou perceber quais as necessidades que não estão satisfeitas, por exemplo “Magoa-me ouvir-te a dizer isso, gostava que reconhecesses que quando pude ajudei-te.”, ou perceber as necessidades dos outros, por exemplo “Estás magoada porque precisas que as tuas preferências sejam levadas em conta?”. Por fim, devemos ser capazes de expressar eficazmente um pedido quando comunicamos com o outro. Quanto mais claros formos a propósito do que desejamos como respostas mais prováveis é conseguirmos que o outro o satisfaça, por exemplo “Provavelmente nem te apercebeste, mas da próxima vez é importante que o material utilizado fique todo arrumado para bom funcionamento da equipa.”
Assim, saber comunicar eficazmente é um trabalho continuo que implica autorreflexão, autoconhecimento, flexibilidade, capacidade de adaptação e mudança.
Fique bem pela sua saúde e a de todos os açorianos.
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses
Catarina Cordeiro*
*Psicóloga no Serviço de Cuidados intensivos e Urgência do HDES e vogal da Direção Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.