Os Açores abriram os telejornais do país quase todos os dias, na última semana, pelos piores motivos.
Foi uma semana negra para a reputação da nossa Região e dos açorianos.
Temos o caso do deputado açoriano suspeito de roubar malas, foi o juíz açoriano que vai ser julgado por pedofilia e foi o alarmismo local, aproveitado pelo jornalismo sensacionalista nacional, sobre uma hipotética deportação em massa de açorianos dos EUA.
É verdade que dois ou três casos envolvendo açorianos não fazem um julgamento generalizado, mas a vergonha alheia existe e da chacota nacional ninguém se livra.
O caso envolvendo o deputado do Chega é grave, não só do ponto de vista reputacional, mas também de consequências políticas com forte dimensão.
Miguel Arruda foi eleito por cerca de 17 mil açorianos, que hoje devem estar com a consciência pesada.
É verdade que não devem ter votado especificamente nele, mas no partido, pelas circunstâncias que sabemos em eleições nacionais, onde ganha relevo o líder do partido candidato a primeiro-ministro.
Mas também é verdade que, quem votou Chega nos Açores, devia saber que estava a eleger uma lista escolhida por José Pacheco.
Miguel Arruda vai argumentar sempre que representa 15% dos eleitores açorianos para continuar sentado no parlamento e pode dar as explicações que entender, mas já teve o julgamento popular.
Tem a sua carreira política arruinada, seja qual for o desfecho deste caso, pelo que a sua decisão em continuar expor-se politicamente no cargo, agora como independente, seria um erro crasso, porque continuaria a ser desgastado e sem condições para intervir no parlamento. A própria entrevista à TVI foi uma coisa penosa. Fez bem em corrigir a estratégia, anunciando que vai meter baixa psicológica.
A ironia disto é que o Chega sempre gostou de fazer julgamentos na praça pública, pelo que agora bebe do próprio veneno.
É o que está a acontecer, também, com o Bloco de Esquerda, no caso das funcionárias despedidas.
Como alguém disse, Miguel Arruda poderá ter roubado malas, mas o BE também roubou a coerência política de quem votou no partido.
André Ventura, que é um político astuto, percebeu que estava perante um “factor perturbador” e começou logo a fazer o controlo de danos, abrindo a porta de saída para Miguel Arruda.
José Pacheco foi menos prudente, não se apercebeu da dimensão do problema que tinha nas mãos e fez declarações disparatadas, acusando toda a gente e atacando a comunicação social. Ficou, obviamente, contaminado politicamente.
É quase certo que tudo isso vai ter consequências eleitorais no Chega, porque tudo isso faz mossa e tem dimensão de grotesco.
É só esperar para ver, já nas próximas autárquicas.
Outra situação a seguir atentamente é a posição da coligação regional face a este desastre que atingiu o Chega.
O cordão sanitário à volta deste caso, que André Ventura percebeu que tinha de fazer, é conveniente que também seja feito pela coligação governamental.
Se José Manuel Bolieiro e o seu governo não quiserem ser contaminados por esta desgraça, o melhor que fazem é manterem-se afastados do Chega nos próximos tempos.
O parceiro privilegiado da coligação, de entre os partidos da oposição, não será a melhor companhia nos tempos mais próximos e os candidatos autarcas da coligação que poderiam estar a contar com um apoio do Chega nas próximas eleições, o melhor que fazem é arrumar a viola no saco se não quiserem ser “emalados”.
A dimensão reputacional deste caso é gravíssima em termos políticos e a permanência do deputado na actividade política, votando ao lado dos seus, mesmo que na qualidade de independente, não favorece ninguém.
Foi uma semana negra.
Sobretudo para quem tem vergonha alheia.
Osvaldo Cabral
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