A Direção da Câmara do Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo (CCIAH) veio ontem, através de comunicado, demonstrar “a sua perplexidade com as notícias vindas a público relativamente às obras de ampliação do Hospital Divino Espírito Santo (HDES), lamentando a ausência de uma política de saúde regional e a inexistência de critérios técnicos que justifiquem essa intervenção”.
Para a CCIAH, liderada por Marcos Couto, “não se questiona a importância da ampliação do HDES ou do crescimento daquela infraestrutura, mas sim a falta de transparência e a ausência de critérios técnicos que fundamentem o investimento em causa”.
A CCIAH considera que, “após o incêndio que afetou a unidade hospitalar, os processos subsequentes têm-se desenrolado de forma opaca, dificultando a compreensão das opções tomadas, como a escolha pelo Hospital Modular e, agora, pela ampliação que custará aproximadamente 300 milhões de euros. Estamos perante uma nova SATA”.
“Numa região com recursos financeiros limitados e que enfrenta dificuldades para cumprir os seus compromissos, custa-nos entender um investimento dessa magnitude sem um adequado enquadramento. Esta decisão que nos parecer ser tomada em cima do joelho, revela um despesismo que compromete o presente e o futuro dos nossos filhos e netos, ameaçando a própria Autonomia. Trata-se, para a CCIAH, de uma opção tomada de forma pouco clara que coloca o sistema regional de saúde sob a influência de um centralismo irresponsável, bafiento e ignorante. A atual Secretária Regional da Saúde não passa, pois, de mais uma vítima desse centralismo”, afirma a Câmara de Comércio.
“Importa, pois, que a sociedade civil critique e questione de forma veemente esse tipo de opção que nos parece ter que ser devidamente explicada a todos os Açorianos. É por isso que a CCIAH coloca as seguintes questões: qual é, afinal, a política para o sistema regional de saúde? Que papel cabe a cada hospital, nomeadamente no que diz respeito ao investimento feito, aquando da construção do HSEIT, como muitas das suas valências ainda por serem exploradas e colocadas ao serviço dos Açorianos? Com base em que critérios foram determinados os investimentos no HDES? Quais serão os custos operacionais (recursos humanos e de funcionamento) associados a uma ampliação megalómana como a prevista para este hospital? Qual o impacto dessa intervenção nas contas da região nos próximos 30 anos?”, questiona a Câmara do Comércio de Angra.
E acrescenta: “Em todo o caso, a posição da CCIAH não deve ser interpretada como bairrista, como alguns poderão alegar. Trata-se de uma postura responsável e genuinamente comprometida com a boa gestão dos recursos públicos, algo a que a nossa região não está habituada na história da sua complexa, conturbada e cada vez mais falhada Autonomia”.
Para a CCIAH, “o desperdício significativo que se prevê devido à má gestão do processo de recuperação do HDES terá um impacto devastador em todo o sistema regional de saúde, que já carece há muito de investimentos estruturais. O HSEIT, por exemplo, ainda possui diversas valências por serem exploradas, e alocar recursos financeiros para a ampliação megalómana e desajustada HDES sem um estudo aprofundado, comprometerá ainda mais a distribuição equitativa dos serviços de saúde nas várias ilhas, hipotecando, por exemplo, o funcionamento do Laboratório SEEBMO que continua, em estado absolutamente deplorável e indigno, à espera de novas instalações. Todos estes investimentos ficam, mais uma vez adiados, para se investir o dinheiro que não temos no HDES. Não é aceitável. Não podemos esquecer que é na ilha Terceira que se localiza a maior pista do Atlântico Norte, uma referência para as evacuações nos Açores e em todo o vasto espaço geográfico do Atlântico Norte, devia, pois, ser uma prioridade para o Governo Regional dos Açores”.
“Ainda sobre esta matéria, na quarta-feira presenciamos mais um preocupante episódio que evidencia a má gestão política, entendemos que até danosa para o erário publico, relacionada com a recuperação do HDES. Em audição parlamentar, ficamos a saber que o anterior Conselho de Administração do HDES foi afastado do processo de decisão relativo à construção do Hospital Modular que custou mais de 30 milhões de euros, opção que merecia a discordância daquele órgão de gestão hospitalar por ser onerosa e não justificada. Ficamos também a saber que tinha sido possível reestabelecer o funcionamento do HDES em 2 ou 3 meses, com menos prejuízos para a população da ilha de São Miguel e de todos os Açorianos. Tudo de uma gravidade sem precedentes na história da Autonomia”, acrescenta.
“A CCIAH tem tomado ao longo do tempo várias posições que se prendem com uma boa gestão dos dinheiros públicos. Esta é mais uma. Assim, a CCIAH reitera a sua posição de uma gestão transparente e fundamentada dos recursos públicos, especialmente num setor tão crítico como a saúde. A falta de clareza nas decisões que envolvem investimentos significativos, como a ampliação do HDES compromete a confiança da população nas instituições e pode colocar em risco a sustentabilidade do sistema de saúde regional. Por tudo isto urge um esclarecimento de toda esta situação”, conclui.