“Na actualidade o que mais admiramos no jornal Diário dos Açores é o ajuntamento da décima ilha com as outras nove. Sem pontes, nem barcos, nem aviões, andamos de uma região à outra, e sentimo-nos sempre em casa.”
Cento e cinquenta e cinco anos ao serviço dos Açores e dos açorianos é uma bonita idade, pelo que a data de 5 de Fevereiro deve ser celebrada pelos jornalistas, editores, todo o pessoal da redação e tipografia, colaboradores, e por todos aqueles que tornam possível a publicação diária de um jornal que dos outros se distingue por formas diversas.
Esta bonita conta não está disponível a todos os órgãos de comunicação social, muito menos aos de imprensa escrita, que nos tempos que correm representam uma raridade. Nos nossos dias, para qualquer jornal a luta pela sobrevivência é notória, principalmente para aqueles que vivem das suas edições impressas.
Mas a vida do Diário dos Açores tem deixado marcas históricas e vitoriosas, nas quais sem deixar vestígios dos obstáculos tem vencido todas as dificuldades.
Surgindo a primeira edição a 5 de Fevereiro de 1870, com o propósito de ser um periódico diário, enfrentou o Açoriano Oriental, que tendo sido criado em 18 de abril de 1835, já tinha atingido a maior idade, e designava-se dono do terreno, embora não se publicasse diariamente. Eis a razão das diferentes designações: o “mais antigo jornal português” (Açoriano Oriental), e o “quotidiano mais antigo dos Açores” (Diário dos Açores).
Convém recordar que, na segunda metade do século dezanove apareceram jornais por toda a parte em terras micaelenses. Mas poucos sobreviveram a infância, acabando por morrer na adolescência. Por outras palavras: viveram pequenas temporadas. Mas o Diário dos Açores manteve-se vivo, e bem vivo, até aos nossos dias.
Nisto, aproveitamos a dica, e expressamos a nossa opinião, dizendo que as segundas e terceiras séries de alguns periódicos nunca deveriam ter existido. Acreditamos no nascimento, na vida e na morte. Morreu, Deus lhe dê o Céu. Se tiver de ressuscitar, ressuscite. Mas com outro nome.
Segundo as nossas contas, com provas dos nove calculadas no aparelho de bolso, porque somos suficientes em matemática, neste dia 5 de Fevereiro sai à rua a edição número quarenta e três mil, quinhentos e noventa e sete.
Fazemos votos que estas edições quotidianas cheguem ao número mais longínquo que podemos imaginar. Que seus dirigentes, e toda a equipa que mantém o jornal em funcionamento esteja de saúde daqui a um ano, e depois mais um, e mais outro…
Sim, cremos que levando o dia-a-dia, um atrás do outro, é a melhor forma de conquistar tempo e idade. Haja saúde e tudo de bom.
Se a São Miguel tu fores
Repara no calendário:
O Diário dos Açores
Tem mais um aniversário.
Dá-lhe um alto louvor,
Sem esquecer de ninguém.
Cumprimenta o diretor
E a sua equipa, também.
Seus leitores e ardinas,
E aqueles que colaboram,
E os que estão nas oficinas,
Qu’esta data comemoram.
Se bem recordamos, até alguns anos atrás – o que não deve ultrapassar duas décadas – as edições do jornal Diário dos Açores eram vespertinas. Por isso ganhavam vantagem em relação aos outros jornais do mesmo porte, dando a maioria das notícias em primeira mão.
Nas nossas lembranças aparece-nos a figura do ardina ribeiragrandense. O responsável pela entrega dos jornais aos assinantes locais. Era um homem maduro. Um cinquentão, ou pouco mais; e usava uma velha bicicleta para se deslocar nas ruas do velho burgo nortenho. Pimpão. Por alcunha, pois o seu verdadeiro nome nunca soou nos nossos ouvidos. Quem dele se recorda dirá que o surdo era ele. Não, não era surdo, mas sim rijo de ouvido, como se costumava dizer. Morava no Cabo da Vila, numa das primeiras casas da Conceição, à esquerda, na direção poente-nascente. A camioneta das cinco, da empresa Caetano Raposo & Pereira, que vinha de Ponta Delgada, ao passar pela sua porta deixava-lhe a quantidade das cópias necessárias para as entregas, e talvez mais uma dezena, para vendas de ocasião.
Ainda nos lembramos que quando concluída a entrega no Café Central, subia a Rua Gonçalo Bezerra, na qual tinha dois clientes. Depois virava em São Vicente, na direção da Ponte Nova, para deixar a encomenda na casa do Sr. Plínio Ponte. Daí perdíamos a rota, porque não o tínhamos debaixo de observação. Mas todos nós sabíamos que a tinta naqueles papéis ainda escorria, e os jornais, em si, por ainda estarem “quentinhos”, tinham o cheiro da tipografia – aquele aroma inconfundível, de papel cortado e de tinta derramada.
Completando mais um ano,
E pela graça que tens,
Meu jornal quotidiano,
Quero dar-te os parabéns.
Um feliz aniversário,
Desejo nestas quadrilhas
Ao mais antigo diário
Que se publica nas ilhas.
Na actualidade o que mais admiramos no jornal Diário dos Açores é o ajuntamento da décima ilha com as outras nove. Sem pontes, nem barcos, nem aviões, andamos de uma região à outra, e sentimo-nos sempre em casa.
Com o jornal micaelense, por vezes, ficamos sem saber se estamos a ler o Diário dos Açores ou o Portuguese Times. É que a proximidade da Nova Inglaterra com os Açores nunca foi tão curta, e isto faz-nos um bem danado. Um bem que não tem preço. E a amizade relativa que há entre estes dois órgãos de comunicação social é de louvar. Entre si trocam notícias, opiniões, informação útil, experiências e habilidades profissionais. Jornalismo no seu melhor estado. Deus queira que isso perdure por muitos e muitos anos.
Amigo Osvaldo Cabral,
Diriges este jornal
Com muita dedicação.
Como diretor tu brilhas,
Trazendo a América às Ilhas
Sem sair da redação.
Recebe um grande abraço,
Porque assim eu satisfaço
Minhas recomendações.
Divide-o com teus colegas,
Porque assim também entregas
Boas felicitações.
Resta-nos gravar aqui os melhores cumprimentos a toda a equipa do Diário dos Açores, fazendo votos para que haja muitos e muitos mais anos para celebrar, com felicidades e sucesso.
Haja saúde!
Fall River, Massachusetts
Alfredo da Ponte