Agora que se fala cada vez mais na saúde psicológica, quer no trabalho, quer na escola, quer em casa, era importante que se abordasse com maior destaque a nossa higiene digital. No meu tempo de mobilidade em Barcelona, frequentei uma disciplina intitulada «Psicologia das Redes Sociais». Recordo-me de se discutir que o Facebook tornar-se-ia, mais cedo ou mais tarde, num cemitério digital. Com o recente abandono do fact-checking nas principais redes, começamos a assistir ao êxodo: muitos utilizadores desejam sair ou migrar para plataformas mais respeitadoras dos valores tradicionais, como por exemplo a BlueSky.
Para quem já se apercebeu de que a utilização das redes sociais se tornou um vício difícil de combater — em muitos estudos é já comparada ao consumo de álcool ou de substâncias psicoativas —, talvez seja tempo de recuarmos para alguma abstinência digital, ou seja, utilizarmos menos as redes sociais, em vez de nos mudarmos para outras, que simplesmente replicam o modelo com algumas diferenças morais.
Mas há um fenómeno ao qual talvez pudéssemos estar mais atentos: o vício da utilização das redes sociais é potenciado pelos smartphones. Vulgo «telefones inteligentes», na verdade a característica mais vincada é a atratividade dos seus ecrãs: são grandes, táteis, interativos, apelativos. As imagens entram-nos pelos olhos dentro, literalmente, com uma pujança ainda maior do que a famigerada televisão, naquela distância de segurança que aprendemos quando fomos crianças. «Afasta-de da televisão», gritavam os nossos pais, sem saberem que mal nos poderia fazer — da mesma maneira que muitos pais de hoje não sabem, nem imaginam sequer, que os males das crianças utilizarem os ecrãs modernos são muito piores do que a simples miopia.
Ora, soluções para esta situação? Está a emergir o movimento do minimalismo digital que nos encaminha, por exemplo, para os telefones básicos. Ninguém equaciona a possibilidade de ficar incontactável, mas muitos facilmente abdicariam de aceder aos emails, às constantes notificações, às redes sociais. Dois exemplos são: The Light Phone, e o Mudita Kompakt. Mas há outros, e o que têm em comum é o ecrã a preto e branco, como o papel eletrónico já usado nos leitores de eBooks, e as aplicações básicas que não causam viciação: telefone, SMS, alarme, música, podcast, GPS, bloco de notas, calculadora e pouco mais. Para quem não abdica de meter os ovos todos no mesmo cesto, ou enfiar a sua vida toda num potente computador de bolso, aconselha-se prudência: desinstalar apps inimigas do tempo, silenciar notificações desnecessárias (ou seja, quase todas), e desligar mais vezes e mais tempo. O cérebro precisa de folgas digitais, férias digitais, o que quiser chamar-lhe. Pela sua saúde psicológica.
Pedro Almeida Maia