“Ser presidente da República Portuguesa é o expoente de todos os que profissionalizaram a carreira política do sistema português. É igualmente o cargo de maior peso democrático, dado tratar-se de eleição direta pelo povo, sem passar pelos imbróglios e confusões, por vezes fraudulentos, das listas partidárias impostas pelas várias ideologias e utopias da política do sistema instalado e manipulado há cinquenta anos pelas forças partidárias do retângulo ibérico.”
Começam a enfileirar-se às portas das ambições que o cargo acarreta. Ser presidente da República Portuguesa é o expoente de todos os que profissionalizaram a carreira política do sistema português. É igualmente o cargo de maior peso democrático, dado tratar-se de eleição direta pelo povo, sem passar pelos imbróglios e confusões, por vezes fraudulentos, das listas partidárias impostas pelas várias ideologias e utopias da política do sistema instalado e manipulado há cinquenta anos pelas forças partidárias do retângulo ibérico. O que eu chamo de partidocracia.
Assim, a representação máxima da hierarquia política, transforma-se no troféu, no “Óscar” que premeia toda uma vida entregue ao complexo ditame de dirigir as sociedades. Ou pelo menos assim devia ser.
Só que por vezes existem surpresas inesperadas.
Segundo a Constituição, qualquer cidadão pode concorrer à presidência da República. Os cidadãos eleitores portugueses de origem, maiores de 35 anos.
Num horizonte ainda não perfilhável, apareceu um nome, por perceção popular, de um Almirante, que se distinguiu – ironia das ironias – comandando as forças cívicas e militares durante a pandemia Covid19. Foi chamado e conduzido pelo sistema político, o mesmo sistema que não adivinhava que o homem faria tão bom e eficiente trabalho (coisa rara em Portugal). O Povo viu a sua eficiência. O presidente condecorou-o e daí em diante, o Almirante voltou à sua atividade normal militar na Marinha. Mas o sistema político não contava que este homem obtivesse o reconhecimento profundo do Povo, que não esqueceu o seu herói.
Figura calma, alto e bem parecido, sempre impecável quer no seu camuflado, quer na sua farda branca da Marinha, o Almirante Gouveia e Melo caiu nas graças do apoio popular, que logo pensou em voz alta naquela figura como candidato a presidente da República, sem que ele se manifestasse, entrando numa clausura estratégica de silêncio espectável. À medida que o sistema encomendava as suas controladas sondagens, começou a aparecer, à cabeça, esse fantasma branco diante dos soberbos pretendentes ao trono. E não tardaram os habituais e encomendados intervenientes televisivos, a comentar tal inerência desse pré-candidato, que parecia, ele próprio, o vírus que havia combatido meses antes.
O mal-estar instalou-se nas fileiras do sistema. Como poderia um outsider ousar ou mesmo sonhar ter a pretensão ao trono, se nada havia feito com eles? Se não era, sequer, membro de nenhuma loja da Maçonaria? Nem membro efetivo e participante das atividades confusas do partidarismo?
E a partir dos ninhos informáticos ‘balsemãosistas’, tanto televisivos como todos os meios de propaganda à sua fácil disposição, começaram num programa de “retificação mental” sobre o Povo. Não aceitavam que alguém militar tivesse aspiração a comandar o país. Para eles, as sondagens estavam infetadas. O problema é que em todas as auscultas feitas até agora, o Almirante continua “ao leme” no espírito dos sondados. Começaram os nervos a aquecer e toca a lançar candidatos do sistema a torto e a direito. Na sua maioria, candidatos medíocres e minúsculos, já reprovados no passado como líderes partidários – caso de Marques Mendes. Repare-se que muitos começam como comentadores semanais (aconteceu com o atual presidente Rebelo de Sousa), para de seguida se lançarem a voos mais altos.
Outro dos candidatos com vestígios vingativos partidários, é António José Seguro, figura simpática e bem-falante, com fortes oposições no próprio partido socialista. Igualmente se serve da exposição mediática como comentador televisivo em rampa de lançamento.
Por outro lado, a competência e experiência de António Vitorino é quase silenciada na praça pública.
O Almirante Gouveia e Melo, conjuntamente com António Vitorino, seriam os únicos politicamente honestos, com provas dadas ao país, para almejarem a presidência. E se Vitorino avançar, a corrida torna-se interessante. Os outros são, simplesmente, déjà-vu. De especial interesse será o facto de Mariana Leitão ser candidata já assumida. Ter mais uma mulher nesta corrida é um bom sinal, dada a minguada participação feminina em eleições presidenciais.
Não esquecer que Ramalho Eanes foi presidente da República enquanto militar. Deixou gratas recordações e ainda hoje é lembrado como pessoa que não alinhava no sistema e cuja dignidade enquanto democrata, nunca foi posta em causa.
Será que o sistema se sente incomodado em ter a disciplina como diretiva na condução do país?
José Soares