Pudemos seguir todos nos últimos meses, quase se pode dizer em directo, o desenrolar da guerra entre Israelitas e Palestinianos, que aliás decorre há bastantes décadas, com períodos de acalmia e outros de confrontação aberta.
O ataque de 7 de Setembro, com a correspondente mortandade e raptos de reféns, alguns ainda crianças, explica a resposta inicial de Israel, mas não justifica de modo algum o que se tem seguido, em termos de bombardeamentos e destruições e mortes, incluindo de velhos, mulheres e até jovens de tenra idade, entre os civis da Faixa de Gaza e também da Cisjordânia. O excesso é tal que tem sido qualificado por entidades para tal competentes como configurando crimes de guerra e até crimes contra a Humanidade. Por isso há altos dirigentes israelitas com mandatos de captura para responderem por tais crimes perante o Tribunal Penal Internacional, que funciona na Haia.
É preciso recuar muitos anos para recordar as origens do conflito. Os judeus foram banidos da Palestina no século I da Era Cristã, após a destruição de Jerusalém pelas tropas do Imperador Romano Tito. Desde então espalharam-se pelo Mundo, mantendo bem forte a sua identidade e os seus costumes. Em boa parte pelo sucesso económico alcançado, tais comunidades foram sendo expulsas sucessivamente de vários países e foram-se estabelecendo noutros, por vezes deles sendo expulsas também ou forçados a converterem-se ao Cristianismo, mesmo que com pouca convicção. Assim aconteceu em Portugal, para onde os judeus vieram depois de expulsos de Espanha, onde se haviam estabelecido depois de terem sido expulsos de França.
Contra as Comunidade Judaicas foram sendo cometidos crimes horríveis, de perseguição, prisões, esbulhos e morticínios vários, os quais hoje nos envergonham. O estabelecimento da Inquisição em Portugal, reclamado pelo Rei Dom João III ao Papa, numa altura em que se considerava a religião como factor de unidade nacional, está relacionada com a perseguição aos judeus e judaizantes e permitiu abusos detestáveis, constituindo uma página negra da História de Portugal e da Igreja Católica em Portugal.
O nazismo proclamou os judeus como responsáveis por todos os males que afectavam a Alemanha e o Mundo e planeou a sua extinção. Os campos de concentração e de extermínio e os poucos sobreviventes deles dão testemunho de até onde pode descer a violência contra as pessoas, reduzidas à escravidão, numeradas a fogo com se fossem animais e por fim abatidas aos milhões e reduzidas a cinzas em fornos crematórios. Julgo que é difícil descer tão baixo na crueldade contra pessoas humanas, mas o certo é que já estamos a ver a repetição da cena dos comboios de judeus a caminho dos matadouros, agora utilizando aviões carregados de imigrantes ilegais ou candidatos a refugiados, levados de volta aos seus países de origem a mesmo para outros, contratados para os reterem por tempo indefinido – e isso é organizado por governos tidos por democráticos e com base em leis até votadas nos respectivos parlamentos.
Já contei aqui alguma vez como o Sionismo nasceu, entendido como o restabelecimento de um Estado que garantisse uma efectiva protecção aos judeus. Theodor Herzl, um jornalista austríaco, pertencente à Comunidade Judaica então ampla e pacificamente estabelecida no Império dos Habsburgos, que cobriu o julgamento de Dreyfuss, em Paris, chocado com o anti-semitismo que ressumava na sociedade francesa do fim do século XIX, começou a viajar pela Palestina e a comprar terras lá, tendo em vista o futuro estabelecimento nelas de colonos judeus.
A Declaração Balfour, em plena Grande Guerra, veio dar apoio à ideia da reconstrução de um Estado Judaico, mas hoje sabe-se que o governo britânico pensou fazê-lo em Angola, que era então colónia portuguesa; em alternativa chegou a pensar-se em Madagáscar.
Acontece que os líderes judaicos o que queriam mesmo era voltar ao território, que segundo os seus livros sagrados lhe tinha sido dado pelo próprio Jeová. Consta que quando discutiu o assunto com o Rei Saud, da Arábia, o Presidente Roosevelt ouviu qualquer coisa do género: “ E porque não os leva para a América, que é tão grande?”
Quando as vagas de sobreviventes do Holocausto começaram a chegar ao território, que era então o Mandato da Palestina, confiado pela Sociedade das Nações à Inglaterra após o desmantelamento do Império Otomano, a situação tornou-se insustentável. Os ingleses acabaram por ser forçados a sair, após a destruição do Hotel do Rei David por um acto de terrorismo do movimento pró-Israel.
O problema é que havia gente na Palestina (como de resto também havia, quando Moisés guiou o Povo de Israel através do Deserto do Sinai, obrigando-o a conquistar, de armas na mão, a Terra Prometida, onde correriam o leite e o mel)… Forçados a abandonar as suas casas e terras, os palestinianos, por decisão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, foram confinados na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Mas pelos vistos até isso lhes querem agora tirar, forçando-os à emigração para a Jordânia ou para o Egipto. Não é justo!
A solução dos dois estados, com garantia de respeito mútuo, partilhada pelos outros países da zona e aliás também preconizada pela Assembleia Geral da ONU, é que deve prevalecer. O Governo de Portugal está comprometido com tal solução. E já tarda, para a tornar eficaz, o reconhecimento formal do Estado da Palestina.
João Bosco Mota Amaral*
*(Por convicção pessoal, o Autor não respeita o assim chamado Acordo Ortográfico)