Na política, como na vida, a qualidade das decisões depende largamente da capacidade de análise crítica e da experiência de quem as toma. No caso de um Presidente de um Governo, essa premissa adquire uma importância acrescida, pois a sua liderança e resposta aos desafios de uma região são profundamente influenciadas pelo aconselhamento que recebe do seu círculo mais próximo. Este círculo, corporizado no Gabinete da Presidência, não é apenas um conjunto de assessores e técnicos: é a ponte entre a realidade e o poder, entre os Açores reais e os Açores governados. Quando essa ponte falha, o resultado é uma governação desconectada, errática e reativa.
O Gabinete do Presidente, mais do que um órgão administrativo, é o reflexo da visão e da personalidade do líder que serve. Um Presidente forte e determinado rodeia-se de conselheiros experientes e com espírito crítico, que o desafiem intelectualmente e tragam dados, perspetivas e visões estratégicas que o ajudem a governar com eficácia e realismo. Pelo contrário, um Presidente frágil, inseguro ou acomodado escolhe um gabinete feito à sua medida, onde reina o conforto da confirmação em detrimento do desconforto da verdade.
No caso de José Manuel Bolieiro, o Gabinete da Presidência tornou-se uma bolha, uma fortaleza hermética que protege o líder da turbulência política e social que se vive na Região. Essa proteção é ilusória e tem um custo elevado: um Presidente mal informado, alienado dos problemas reais e incapaz de tomar decisões com base numa leitura clara da realidade. A preocupação é a manutenção do status quo, muitas vezes em benefício próprio e em detrimento das posições difíceis e desconfortáveis.
A bolha em que o Presidente é mantido traduz-se numa ausência de visão estratégica e numa gestão errática dos desafios regionais. Em vez de antecipar problemas e corrigir rotas, a comunicação institucional do Governo Regional é descoordenada, oscilando entre a omissão e a justificação forçada. O paradigma da gestão política baseada em evidências é algo desconhecido em Sant’Ana. As mensagens políticas são difusas, contraditórias e, muitas vezes, incapazes de gerar confiança na opinião pública. Esta ausência de direção resulta diretamente da falta de experiência e da ausência de espírito crítico dentro do núcleo duro do governo, impossibilitando a definição de uma estratégia clara e eficaz para o arquipélago. Enquanto isso, a lista de fracassos engrossa a cada dia que passa.
Olhando para os principais dossiês políticos e económicos da Região, percebe-se que a falta de um gabinete forte e estratégico não é um detalhe menor: é o epicentro do problema. Um Presidente que não tem quem o aconselhe com rigor e independência não pode governar eficazmente. Um gabinete que se limita a criar uma realidade paralela e a suavizar os desafios não serve o interesse público; serve apenas o conforto momentâneo do líder.
A gestão política dos dias de hoje não se compadece com amadorismos, e juntar um gabinete fraco a um governo tripartido e notoriamente deficitário de experiência política é uma receita para o fracasso.
Tal como um governo incompetente é da única responsabilidade do seu Presidente, também o seu gabinete não é mais do que o espelho da sua visão como governante. Neste caso, em defesa de José Manuel Bolieiro, o governo menos capaz é também fruto da liderança tricéfala, mas o seu gabinete é resultado apenas de si próprio.
A política não se compadece com a ausência de pensamento crítico. Um líder que se encerra numa bolha, rodeado por assessores que lhe dizem o que quer ouvir em vez do que precisa de saber, condena-se à inação e ao erro. O problema da atual governação açoriana não está apenas na ação do Presidente, mas na forma como a sua perceção da realidade é moldada por um gabinete que não o serve com a exigência e rigor necessários. No fim, o espelho de um governo é sempre o gabinete que o rodeia. E, neste caso, o reflexo está embaciado, desajustado e, pior do que tudo, completamente desligado da realidade.
André Silveira