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A Herança do “Tartaruga”

Todos nós achamos as tartarugas animais engraçados. Os que aparecem nas margens da minha ribeira não são tartarugas, porque aqui não há água salgada. São sim uns simpáticos cágados, acocorados em pedras à tona de água, passando horas de pescoço esticado ao sol. As crianças gostam de os descobrir no meio da vegetação e o meu neto Tiago, que há poucos dias completou 4 anos, fica zangado quando lhes grita, a ver se eles saltam para a água e os malandros não lhe ligam pevide.
A tartaruga a que me refiro em título também não pertence à espécie, nem tão-pouco à dos cágados – a menos que me esqueça do acento. É um humano que tem o azar de ser vítima dos caricaturistas, que só vêem nele… uma tartaruga. De facto, as características da fronha do Mitch fazem-no parecer um réptil, para além de as semelhanças se acentuarem mais com a idade; os oitenta e tal anos que ele já conta em cima do casco não ajudam nada.
Mas, afinal, porque é que deixei que a “tartaruga” Mitch McConnell, um dos mais antigos senadores republicanos, se arrastasse e viesse meter o bico neste Diário? Apenas porque penso que ele é um dos maiores culpados pela ascendência política do nosso atual criminoso-presidente. Talvez houve ocasiões em que não se entenderam muito bem, Mitch até tinha fama de ter tendências moderadas. Mas foi ele o grande arquiteto que desenhou as bases que sustentam todo o arcaboiço das defesas do Trump: conseguiu nomear um grande número de juízes federais conservadores e, acima de tudo, criou o ambiente que tornou possível que Trump, no primeiro mandato, nomeasse três (!!!) juízes para o Supremo Tribunal. Foi com grande descaramento que, no Senado, Mitch M. não autorizou que Obama tivesse a oportunidade de eleger um juiz para o S.T. porque “Estávamos a 8 meses das eleições gerais (de 2020)”, mas arranjou maneira de Trump nomear um juiz quando apenas faltavam quatro semanas para terminar o seu 1º termo.
Teve este senhor uns laivos de hipocrisia-em-reverso, se é que tal coisa existe. Na famigerada noite de Jan.6, Mitch saiu da casca e, com a sua voz de barítono, atirou à cara do presidente uma frase que ficou famosa: “Trump foi, na prática e moralmente, o responsável pelo ataque ao Capitol”. Mas, passadas semanas, aquando do julgamento no Senado do segundo impeachment, a “tartaruga” voltou a mergulhar nas águas lodosas e aconselhou todos os republicanos a votarem a inocência do presidente. Aliás, ele tinha já feito a mesma coisa anos antes, no primeiro impeachment de Trump.
Não sei quais são os motivos que levam agora Mich McConnell a votar, sozinho entre os republicanos, contra a nomeação de alguns dos secretários apontados por Trump. Será para que tenhamos pena dele, velhinho como está, a cair frequentemente pelos cantos do Senado? Será por distração provocada por sintomas de doença? Qualquer que seja a razão, ele não se redime das grandes asneiras que fez. Será sempre culpado pelas trumpalhices que nos apoquentam a vida. Triste e pesada herança que nos deixa.

João Bendito

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