Aliada à necessidade da Europa se juntar à Ucrânia e perante as dificuldades da relação transatlântica colocadas agora com a administração Trump, a Europa acordou para a concretização de um ajustado plano militar, num novo quadro diplomático. E quando digo Europa, refiro-me aos países do continente europeu que defendem os valores da liberdade e da democracia.
Reino Unido, 26 países da União Europeia, Noruega e Turquia apresentam agora uma Europa da Segurança, numa união que revela, finalmente, uma visão estratégica mais firme. Unidos num desígnio comum de defesa da soberania ucraniana, junta-se o Canadá.
Este reforço do pilar europeu da NATO peca por tardio, mas surge num momento importante como uma mensagem aos norte-americanos: – na ausência do vosso interesse, a Europa saberá ocupar esse lugar.
Porém se mais investimento é necessário, tal facto não esconde a falta de coordenação vivida até aqui, até porque o problema nunca foi realmente a falta de dinheiro. Aliás, já foi afirmado que o “rearmamento” anunciado e o custo com a Defesa não trazem risco de défice.
A ausência de compromisso aliada à falta de vontade política, é que levou a Europa a colocar a sua força de defesa nas capacidades da Nato, traduzindo-se numa menor capacidade de defesa comum europeia.
Mas muitas ideias carecem ainda de definição, tal como a concretização de prioridades assim como uma clarificação de uma autonomia estratégica europeia de longo prazo. Queremos um exército europeu ou uma união de forças? Como sincronizar a nossa capacidade de dissuasão?
Se considerarmos a actual ameaça Russa, não subestimando a preocupação dos países bálticos, será que precisamos realmente de investir mais por essa razão?
Podemos considerar alguns problemas no fabrico de munições, algum equipamento e carência de meios de defesa anti-aérea… mas só a UE tem mais cem mil soldados no activo do que a Rússia, tendo uma base demográfica com muito mais reservistas. Temos cinco vezes mais meios aéreos, três vezes mais meios navais.
Curiosamente, em percentagem do PIB, já gastamos actualmente três vezes mais que a Rússia (mas não tanto quanto os EUA). Se pensarmos que o nosso PIB Europeu é muito maior que o da Rússia, 1,7% do PIB actual deve significar algo como 400 biliões de euros investidos na nossa Defesa.
Já vamos tarde, mas não somos fracos – a história já demonstrou muitas vezes que não se deve subestimar a capacidade de rearmamento dos países europeus.
Pessoalmente considero mais preocupante a intromissão Russa nos processos de decisão europeia. A Rússia apoia grande maioria dos partidos extremistas na Europa (partidos eurocépticos, de extrema-direita e comunistas). E tem conseguido resultados preocupantes, se considerarmos que o propósito é exactamente dificultar todo o processo democrático existente.
Nos EUA da América, a intromissão Russa é (re)conhecida.
Assim, percebemos claramente que é mais o “problema americano” que leva a Europa a (finalmente) a fortalecer-se, e não propriamente a ameaça Russa.
OS EUA são agora um nosso imprevisível aliado, o tal “amigo” que intenta tomar territórios soberanos de países da NATO, como a Gronelândia ou mesmo o Canadá, enquanto expõe sem vergonha que o seu propósito não é a segurança nem a paz, mas sim o espólio e a exploração de riquezas de países destruídos pela guerra.
Filipe de Mendonça Ramos