A privatização da SATA não é apenas uma opção, mas uma necessidade incontornável para assegurar a sua sobrevivência e competitividade no setor aéreo. A companhia aérea regional tem sido um peso excessivo para os cofres públicos e precisa de um parceiro estratégico que assegure a continuidade da operação, implemente uma lógica empresarial eficiente e viabilize o financiamento da reestruturação. Sem esta mudança, a SATA permanecerá numa trajetória insustentável.
Décadas de prejuízos acumulados, gestão deficiente com diversos “cachalotes” e custos insustentáveis tornaram a companhia dependente do erário público. As tentativas estatais de recuperação falharam, evidenciando a necessidade de uma nova abordagem. O atual processo de privatização deve ser conduzido de forma transparente e eficaz, garantindo que a SATA se torne viável sem continuar a comprometer as contas da Região.
No passado, erros como a falta proatividade do vendedor e a ausência critérios claros na seleção de investidores, ou um caderno de encargos politizado comprometeram o sucesso da privatização. Agora, é essencial garantir rigor e competência técnica, com regras bem definidas para escolher um parceiro privado capaz de gerir a companhia de forma eficiente e alinhada com o desenvolvimento dos Açores. A transparência deve ser um pilar central. Os critérios de seleção do parceiro privado e o impacto da privatização na economia regional devem ser claros para a população. Esta decisão afeta todos os açorianos e exige uma comunicação aberta e responsável.
A privatização não pode ser um ato isolado do governo. Envolver a oposição e outros stakeholders confere legitimidade ao processo e reduz resistências futuras. O diálogo com partidos, trabalhadores e a sociedade civil é crucial para garantir estabilidade e atratividade para investidores. A inclusão real do principal partido da oposição é fundamental para um compromisso sólido, evitando um mero acordo simbólico. É fundamental garantir a mensagem de estabilidade, não esquecendo o que se passou com a TAP e como potenciais investidores vêem o estado Português como vendedor. Para tal, a inclusão de, pelo menos, os dois principais partidos da oposição será fundamental.
A SATA precisa de um parceiro do setor com uma estratégia realista e sustentável. O investidor deve modernizar a frota, otimizar rotas e melhorar serviços, garantindo um modelo de gestão eficiente e adaptado às necessidades da mobilidade regional. Um parceiro que acima de tudo tenha uma estratégia para empresa assente em experiência e fundamentada com racionalidade, algo que está ausente há décadas.
Outro desafio crucial é o financiamento da reestruturação. Com as regras europeias a impedir novas injeções de capitais públicos, o parceiro privado deve atrair investimento ou garantir financiamento. Não precisa de ser um financiador direto, mas deve apresentar um plano financeiro sólido para assegurar a sustentabilidade da empresa.
O prazo definido para a privatização, final de 2025, é extremamente exigente e só terá margem de flexibilidade por parte de Bruxelas se houver evidências de que está em curso um processo sério, profissional e avançado. A Comissão Europeia tem estado focada na consolidação da indústria da aviação europeia e prefere encerrar companhias inviáveis a perpetuar situações como a da SATA. Qualquer sinal de indefinição ou atraso poderá resultar numa decisão implacável de Bruxelas, colocando em risco a continuidade da empresa. Adiar a decisão enfraquece a posição da companhia, afasta investidores e agrava a sua situação financeira. Cumprir este prazo significa assumir um compromisso sério com a resolução do problema e garantir um futuro sustentável para a SATA.
A companhia não pode continuar sob o peso de dívidas acumuladas e sem um rumo claro. O prolongamento do processo pode levar ao colapso da empresa. É tempo de avançar com a privatização e assegurar um futuro sólido para a aviação nos Açores.
André Silveira