A política é, acima de tudo, a arte do possível. Não se governa apenas com princípios e convicções, governa-se com pragmatismo e sentido estratégico. Luís Montenegro e o PSD optaram por traçar uma linha vermelha intransponível ao dizer repetidamente que “não é não” em relação a qualquer entendimento com o CHEGA. O resultado desta posição era previsível: um governo fragilizado, condenado a uma morte anunciada.
Não se trata de gostar ou não do CHEGA. A questão essencial é perceber como funciona a dinâmica do poder. Se o eleitorado atribuiu uma maioria parlamentar à direita, a responsabilidade do PSD não era apenas liderar um governo, mas sim garantir a sua viabilidade. No momento em que decidiu rejeitar qualquer tipo de acordo de incidência parlamentar ou coligação, Montenegro entregou ao PS o destino desta governação.
A política europeia tem mostrado que o paradigma mudou. Em vários países, partidos tradicionalmente moderados têm encontrado formas de governar com forças políticas à sua direita, seja por acordos parlamentares, seja por coligações formais. Exemplo disso é a Suécia, onde os Democratas Suecos apoiam um governo de centro-direita sem fazer parte dele. Em Itália, Giorgia Meloni consolidou-se como líder de um governo de direita sem grandes sobressaltos. Mesmo em Espanha, o Partido Popular já governou a várias escalas com o apoio do VOX.
O PSD, contudo, continua a agir como se fosse o único árbitro da moralidade política, ignorando que a realidade mudou. Esta postura não só aliena parte do eleitorado de direita como também favorece o PS, que, apesar da sua crise interna, acabará por capitalizar a instabilidade causada pela queda da AD.
O argumento de que o PSD deveria governar sozinho e que, com o tempo, a qualidade da sua governação garantiria uma nova maioria eleitoral, não passa de um exercício de ilusão. Em política, boas intenções e resultados não chegam. A governação precisa de apoio parlamentar e de um terreno político estável para produzir resultados concretos. Ao rejeitar liminarmente qualquer forma de entendimento, Montenegro perdeu a oportunidade de testar uma solução governativa e deixou o país refém da incerteza.
O maior erro do PSD não foi apenas recusar o CHEGA. Foi não compreender que, sem flexibilidade política, estava condenado a ser um governo a prazo. A esquerda sabe muito bem como funciona a aritmética parlamentar: o PS já governou sem maioria absoluta, contando com o apoio do BE e do PCP sem que isso significasse uma fusão ideológica. Porque razão o PSD se recusa a jogar o mesmo jogo?
A verdade é que os eleitores não votam em partidos para que estes alimentem guerras morais ou purismos ideológicos. Votam para que sejam encontradas soluções governativas que representem a sua vontade. Se a direita teve uma maioria nas últimas eleições, então cabia ao PSD encontrar forma de respeitar esse mandato popular. Não o fez. Agora, com eleições antecipadas no horizonte, pode muito bem vir a pagar caro por essa escolha.
Se a direita não aprender a jogar como a esquerda, continuará a assistir, impotente, a novas vitórias do PS. E o eleitorado que queria uma alternativa voltará a sentir-se traído.
Carlos Pinheiro