A projectada integração a 21 de Março, do triângulo formado pelas ilhas do Pico, São Jorge e Faial, na Rede Internacional de Bio-Regiões constitui um marco exemplar para os Açores e para todos aqueles que acreditam num desenvolvimento sustentável e numa economia baseada na valorização dos recursos naturais, na cooperação entre territórios e na preservação da identidade açoriana. Esta adesão não é apenas uma conquista regional, mas sim um passo que deveria ser seguido por todo o arquipélago, pois os Açores possuem condições únicas para se afirmarem como um dos territórios mais importantes dentro desta rede internacional. Mais uma vez, o triângulo surge como pioneiro, demonstrando que é possível conciliar desenvolvimento com sustentabilidade, tradição com inovação e identidade com projecção internacional.
A Rede Internacional de Bio-Regiões assenta num modelo de desenvolvimento que promove a sustentabilidade dos territórios através da valorização da agricultura biológica, do turismo sustentável e da cooperação entre diferentes agentes locais. A filosofia subjacente a este modelo está perfeitamente alinhada com os valores que os Açores devem preservar e potenciar: um território onde a produção agrícola respeita os ciclos naturais, onde o mar é visto como um recurso a ser protegido e onde o turismo é entendido como uma actividade que deve respeitar a identidade e a autenticidade das ilhas. A adesão do triângulo a esta rede demonstra que existe uma visão estratégica clara que deveria ser seguida pelo arquipélago de modo a posicionar os Açores a nível global, como um exemplo de desenvolvimento sustentável, diferenciando-se de outros destinos que sacrificam os seus recursos em nome do lucro imediato.
Aqui, importa destacar o papel fundamental da AMT – Associação de Municípios do Triângulo – nesta conquista. A AMT tem demonstrado uma resiliência notável, uma capacidade de cooperação exemplar e uma visão estratégica que coloca o interesse comum, deste triângulo virtuoso, acima de bairrismos ultrapassados e de visões políticas fragmentadas. Num tempo em que tantas vezes se assiste à divisão entre regiões e à incapacidade de trabalhar em conjunto, a AMT surge como um modelo de governação colaborativa, onde os municípios souberam unir esforços, ultrapassar diferenças e construir um caminho comum para o futuro. Este é um exemplo raro de como a política pode ser feita com inteligência, colocando os Açores no centro das discussões internacionais sobre sustentabilidade e desenvolvimento territorial.
A adesão do triângulo à Rede Internacional de Bio-Regiões deveria ser encarada como um primeiro passo para uma estratégia mais ampla, que envolvesse todo o arquipélago. As ilhas dos Açores partilham um património natural único, uma cultura agrícola profundamente enraizada e um potencial extraordinário para se afirmarem como um modelo de desenvolvimento sustentável. Expandir este modelo a outras ilhas significa reforçar a posição dos Açores como uma região que não apenas preserva a sua identidade, mas que a transforma numa vantagem competitiva no panorama global.
Num mundo onde os consumidores estão cada vez mais atentos à origem dos produtos, à forma como são produzidos e ao impacto ambiental das suas escolhas, os Açores têm uma oportunidade única para se posicionarem como uma referência na produção sustentável.
O triângulo já mostrou que é possível caminhar nessa direcção. Agora, cabe a todo o arquipélago seguir este exemplo e afirmar-se, de forma inequívoca, como um território onde a natureza, a cultura e a economia coexistem em equilíbrio.
Os Açores são um dos últimos refúgios ecológicos genuínos do planeta, um território onde a sustentabilidade não pode ser apenas um conceito teórico, mas sim uma prática diária, alicerçada em políticas concretas e estratégias bem definidas. A adesão do triângulo à Rede Internacional de Bio-Regiões mostra que é possível conjugar tradição e inovação, respeitar a natureza e, ao mesmo tempo, criar oportunidades económicas. Cabe agora às restantes ilhas seguir este caminho e consolidar a posição dos Açores como uma das grandes referências mundiais na preservação ambiental e no desenvolvimento sustentável.
Victor Silva Fernandes *
- Comandante Jubilado da TAP Air Portugal