Imediatamente após o anúncio público do governo regional, qual grande vitória (só se for de Pirro…), de que a privatização da SATA Internacional iria avançar negociada com o antigo grupo aventureiro que ficou à beira da desclassificação, agora transformado de facto num outro dito mais seguro, a que se juntaram novos capitalistas, mas sem o crivo lógico de qualquer novo concurso público ou alteração do caderno de encargos, os trabalhadores, pela voz dos seus sindicatos mais representativos (SITAVA e Pilotos), imediatamente vieram a terreiro denunciar a marosca e alertar quem de direito para os graves riscos que se continuam a correr com esta privatização forçada e a mata-cavalos que o governo de todas as direitas consertadas tanto glorifica como positiva para os Açores, para os açorianos e em particular para os trabalhadores da empresa.
Segundo o SITAVA, “apesar de todos os alertas”, quer o executivo quer a atual administração do grupo SATA, mantêm a intenção de “entregar o futuro dos trabalhadores nas mãos de um consórcio” que “deixa sérias dúvidas acerca das suas verdadeiras intenções”. “Serão os trabalhadores da SATA e todos os açorianos a pagar a dívida que a SATA Internacional acumulou…” diz o comunicado sindical, onde mais adiante se exige do governo regional “…uma posição de verdadeira responsabilidade social para com todos os trabalhadores da SATA e para todos os açorianos, na defesa intransigente dos interesses dos Açores e do serviço público prestado pela empresa”.
E sobre estas garantias, népias! Nem da parte do governo de Bolieiro com as direitas consertadas, nem da parte do conselho de administração da empresa.
Entretanto já em pré-campanha para as legislativas na República, registamos algumas declarações (infelizmente) esclarecedoras das intenções de fundo dos dois partidos com maior representação parlamentar: o PSD e o PS.
Por um lado, o pré-candidato presidencial do PSD, o comentador televisivo (mais um) Marques Mendes, defende um futuro onde PSD e PS se entendam para não ter que haver maiorias relativas e governos minoritários e certamente para manter abertas as famosas portas giratórias entre governantes e grandes empresas, conforme está um ou outro dos dois partidos no governo.
Por outro, um histórico do PS e ex-candidato presidencial, Manuel Alegre, dá a entender que é preciso apoiar a permanência de Luis Montenegro à frente do PSD e se necessário dum futuro governo, em lugar de qualquer outra “geringonça” com partidos à esquerda do PS, para impedir alianças com o Chega. Ora aí está, como por caminhos enviesados e linhas tortas se chega sempre direitinho a um eventual entendimento entre PS e PSD, “para acabar (dizem) com a instabilidade governativa” e, dessa forma defender a continuidade ad eternam da distribuição mútua de cargos de poder, tanto políticos como económicos, a nível nacional, isto em troca da condição de que as suas políticas favoreçam sempre de forma inquestionável os grandes grupos económicos em lugar de serem aquelas de que as pessoas mais carecem, conforme preconiza, e bem, a nossa Democracia nascida com Abril.
E da União Europeia, respigamos as oportunas palavras de Sofia Lisboa, na revista “Abril Abril” desta semana: “Ligamos o televisor e vemo-los falar de como o aumento dos gastos em armamento pode ser uma oportunidade para a nossa economia. Porque não há conforto maior do que saber que proporcionamos trabalho a investigadores e operários dedicados a assegurar que o mundo se destrói com eficiência.” … e com rentabilidade assegurada, à custa da saúde pública e das pensões de milhões de outros, para aqueles poucos que mandam na guerra sem que lhes passe alguma vez pela cabeça andar metidos nela (direi eu) …
Mário Abrantes