Mal ou bem, aproxima-se um novo acto eleitoral que será crucial para o futuro próximo – e quem sabe longínquo? – do nosso país. Temendo-se, contudo, que se venha a assistir a um fratricida lavar de roupa suja: o pior que poderá acontecer num momento internacional em que é essencial cerrar fileiras em torno dos valores da liberdade e da democracia.
Os partidos tradicionais e fundadores da nossa jovem democracia têm, agora, uma boa oportunidade para iniciarem uma renovação, apresentando propostas claras e concretas que respondam às preocupações dos eleitores, renovando a sua credibilidade através do combate à desinformação e promovendo um debate político responsável.
Se assim não for, todos terão a perder, seja quem ganhe ou perca.
Está, mais do que claro, que os eleitores pretendem estabilidade política e o país dela precisa, como de pão para a boca. O que significa que aqueles partidos terão de demonstrar, inequivocamente, que põem o interesse das pessoas e do país acima dos interesses pessoais e partidários.
Discutindo e apresentado soluções credíveis para os inúmeros problemas do país e, desse modo, não gerando mais combustível para o crescimento da extrema-direita e para quem aspira a um “novo” sistema ditactorial. Mas antes fortalecendo a coesão, a inclusão e a equidade como combustível para consolidar a democracia e captar os eleitores que encontraram abrigo no voto de protesto.
A crise económica em Portugal, agravada por problemas como o aumento do custo de vida, a crise imobiliária e as percepções (como agora se diz) de corrupção, gerou a um descontentamento generalizado entre os cidadãos. O que, aliado a uma má comunicação, levou ao crescimento dos arautos da desgraça e que dela vivem.
Correndo-se o risco real de o país se tornar ingovernável, os partidos fundadores da democracia terão de assumir posições que sustentem a possibilidade de haver governos minoritários de legislatura promovendo um diálogo interpartidário e estabelecendo pactos de regime que garantam estabilidade e assegurem as alternativas. Isso deveria ser assumido na campanha eleitoral, reduzindo o ruído e o folclore partidário, mas, antes, promovendo consensos e partilha de responsabilidades.
Muitos acharão tudo isto lírico e/ou utópico.
Contudo estamos confrontados, para alem dos inúmeros problemas do país, como uma gravíssima situação internacional que não augura nada de bom e que não se compadecerá com crises institucionais como aquelas em que o país tem estado mergulhado.
O desafio do regresso à credibilidade da política e dos políticos cabe, não apenas mas muito, aos partidos democráticos. E, para esse efeito, as eleições que se aproximam serão cruciais dado que não podemos, objectivamente, correr o risco de termos outra dose letal de-mais-do-mesmo.
Antonio Simas Santos