Os Açores dispuseram, ao longo das últimas décadas, de enormes recursos financeiros comunitários e de vários instrumentos de incentivos à sua economia como nenhuma outra região conseguiu obter em tão pouco tempo.
A nossa vizinha Madeira, com menos do que nós, conseguiu crescer mais e consolidar outras actividades geradoras de riqueza que não apenas o turismo.
Nos Açores continuamos como que à procura de um rumo, agora alavancado pelo turismo, mas o ritmo de crescimento é lento, muito dependente das ajudas estatais e com orientações políticas pouco ambiciosas.
Este mal não é só nosso. No país temos visto, ao longo dos anos, muito marasmo económico, com crescimentos pífios e altamente focados na redução da dívida.
Há poucos dias o Presidente da Confederação Empresarial de Portugal, Armindo Monteiro, tocava no ponto certo do problema, ao afirmar que “não temos ambição de criar mais”.
A questão não é nova. Já anteriormente tínhamos ouvido o alerta de Daniel Traça: “em Portugal, domina ainda a aversão a falhar e a falta de ambição”.
O ex-diretor da NOVA SBE e atual diretor-geral da espanhola ESADE, em declarações ao ECO, apelava a que se arrisque mais, isto é, a que as empresas apostem em ganhar escala e em exportar e que o Estado se foque na meritocracia, melhorando o seu funcionamento.
“Autor do livro “Ambição. Preparar Portugal para a geração mais bem preparada”, o professor atira também que as empresas portuguesas têm de abraçar a transição geracional, acabando com a eternização dos gestores e aproveitando a informação e o mundo dos jovens que estão a sair das universidades”.
Os conselhos servem como uma luva ao nosso meio regional, cada vez mais envelhecido, conformado e com uma falta de ambição que influencia toda a estrutura económica e política da Região, levando os mais talentosos a procurarem asas fora das ilhas.
A criação de riqueza só se faz com mais aposta nos nossos recursos humanos e materiais, deixando a sociedade civil, especialmente as empresas e os investidores, avançarem para outras dimensões que não o nosso remediado folclore insular de coitadinhos, sempre encostados ao orçamento público.
Mas, para isso, é preciso criar condições mais ambiciosas que facilitem a criação de riqueza nas ilhas.
Quem é que quer investir numa região, sobretudo no sector produtivo, com um sistema de transportes marítimos obsoleto, desadequado e oligárquico?
Como se pode competir com economias de escalas quando nem um cargueiro aéreo possuímos?
O próprio monstro burocrático que é todo o sistema administrativo da região afasta qualquer investidor das nossas ilhas.
Não é por acaso que o investimento estrangeiro nos Açores é uma autêntica miséria (565 milhões de euros no ano passado) quando comparado com outras regiões (mais de 10 mil milhões na Madeira).
Armindo Monteiro alertava ainda para o tempo em que todos nos desgastamos a discutir coisas inúteis e a dividir o que existe. Imagine-se por cá, com nove ilhas, algumas delas divididas por trivialidades internas…
“Nem sequer temos uma visão de médio-longo prazo, quando a nossa grande missão como país pobre que somos, e com potencial de crescimento grande, deveria ser discutir o crescimento que está sempre abaixo do nosso potencial, o que é dramático”, sublinha o empresário.
Adaptando o pensamento ao nosso reduto insular, apetece perguntar o que andamos a fazer durante este tempo todo, com que resultados e a que nível de responsabilização.
Nós nem sequer conseguimos aguentar, por exemplo, uma companhia aérea, que vai ser dada ao desbarato, exactamente por incompetência nossa e sem nenhum grau de responsabilidade por quem deixou que chegássemos até aqui.
Muitos outros exemplos de fracassos políticos são conhecidos de todos nós, quase todos com um padrão comum, que é a irresponsabilidade da vida partidária viciada nos jogos do poder, todos a quererem o seu quinhão, quando devíamos estar a lutar, como diz o líder dos empresários, por uma transformação cultural, assumindo o nosso desígnio de sermos mais interventivos civicamente e ambiciosos, em vez de estarmos de mão estendida para a Europa.
Para agravar o cenário, é desanimador estarmos permanentemente em clima de instabilidade política e de tensão verbal entre os principais responsáveis políticos.
Começou nos Açores, passou para a Madeira e agora é o país.
Num clima destes, como alguém dizia, é difícil trocar o medo pela ambição. Não há ambição que resista.
Será a próxima geração mais audaz do que a nossa?
Osvaldo Cabral
[email protected]