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Ponta Delgada: presente e futuro

  1. O município de Ponta Delgada celebrou a 2 de abril o 479º aniversário da sua elevação a cidade, por decisão de D. João III. A vila fora criada em 1499 por seu pai, D. Manuel I.
    Na carta régia, o Rei Piedoso relevou que “a Vila de Ponta Delgada da ilha de São Miguel e agora tão acrescentada em povoação e assim tão enobrecida, que merece bem ser cidade, havendo a isso respeito e assim aos muitos serviços que dos moradores da dita vila tenho recebido, assim nos socorros e provimentos que dão às minhas armadas e naus da Índia quando à dita vila vão ter (…)”. É curiosa esta referência às “armadas e naus da Índia”. Raramente é referido este apoio marítimo às naus vindas do Oriente, nem a própria cidade ostenta este papel histórico na época da expansão.
    Ao longo de cinco séculos, Ponta Delgada construiu um enorme historial de figuras e fatos que merece ser conhecido com maior profundidade tanto por naturais como pelos residentes.
    É frequente associar-se, devido as suas dimensões, a cidade e a ilha a atividades económicas de valor apreciável que marcaram ciclos de progresso e empreendedorismo empresarial nas atividades agro-industriais, comerciais e nos transportes marítimos e aéreos. Esses empreendimentos foram dinamizados por destacadas figuras pertencentes a famílias abastadas e terra-tenentes.
    Um deles foi o morgado Manuel Medeiros da Costa Canto Albuquerque, Barão das Laranjeiras, nascido nesta ilha em 11 de abril de 1788. Segundo Gervásio Lima1 “Toda a sua fortuna, a sua vida e tranquilidade arriscou pela causa liberal”. Em 1838 assumiu as funções de administrador geral da Ilha de São Miguel. “Pela sua dedicação, patriotismo e amor à causa liberal” D.Maria II conferiu-lhe o título de Barão das Laranjeiras. O seu empenho pela vitória na luta contra os castelhanos fez com que mandasse construir a Igreja da Conceição, em Ponta Delgada (LIMA: p126), em cumprimento de um voto.
    Esta uma importante nota histórica que devia ser destacada naquele templo.
    O mesmo acontece com outras informações relativas a palácios e edifícios particulares que se destacam no velho burgo micaelense. Alguns encontram-se, infelizmente, em avançado estado de degradação, embora mantenham sacadas com varandas de ferro forjado com motivos naturalistas de fino recorte e grande beleza.
    A cidade de Antero, de Teófilo de Braga e de Natália Correia, encerra um vasto património arquitectónico e uma plêiade de figuras notáveis na política, nas letras e nas artes, no jornalismo, na dimensão religiosa, etc. que aqui fizeram suas vidas e a quem os Açores devem realizações que ultrapassam o tempo em que vivemos.
    Uma dessas figuras esquecidas é o franciscano Frei Afonso Benevides, Bispo de São Tomé de Meliapôr, no sudoeste da Índia. Por ter morrido a 5 de abril de 1636, não tomou posse do cargo. Curiosamente, o último Bispo de Meliapôr (1937/1951) foi o lagoense D. Manuel Medeiros Guerreiro. Afonso Benevides era filho de Pedro Afonso, escrivão da Alfândega de Ponta Delgada.
  2. Ponta Delgada é uma cidade em profunda transformação. A fuga de milhares de residentes para a periferia urbana e rural representou um duro golpe na dinâmica empresarial citadina que, desde a década de 80, demonstrava um apreciável incremento da atividade económica e uma forte atração e fixação das populações mais jovens.
    Para esse fenómeno, típico de cidades em expansão, muito contribuiu a Universidade. Novos cursos adaptados às carências do tecido empresarial, da administração pública e do setor educativo regional deram lugar à criação de novos quadros e de mais empregos.
    Mesmo assim, não se conseguiu suster o envelhecimento populacional, provocado pelos surtos emigratórios dos anos 60 e 70 e que hoje constituem um problema demográfico de difícil solução também nas ilhas menos populosas.
    Pensar o futuro de Ponta Delgada é urgente e necessário neste “século das cidades”, sobretudo porque a evolução impõe novos caminhos em áreas fulcrais ligadas à “sustentabilidade” e à chamada “cidade inteligente” e se não agirmos bem, os erros vão refletir-se no futuro.
    Os efeitos da subida das águas do mar, por exemplo, já se verificam em todas as ilhas, em zonas ribeirinhas, e se não forem tomadas medidas de protecção e salvaguarda, em breve teremos pequenas ilhas dentro das ilhas.
    Ponta Delgada merece uma atenção especial de todos: cidadãos e responsáveis públicos e privados pois a cidade exige novas ideias, maior atratividade e melhores respostas nos domínios da mobilidade, da preservação ambiental e natural, e na promoção da identidade patrimonial e cultural.
    Sem gente, sem comércio, sem serviços e sem vida Ponta Delgada é uma cidade morta.
    Esta é a maior questão que está na ordem do dia.
    1 LIMA, Gervásio, BREVIÁRIO AÇOREANO, Tipografia Andrade, 1934

José Gabriel Ávila*

*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

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