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Páscoa

Julgo que nunca cheguei a contar aqui a minha visita aos Lugares Santos, onde viveu e morreu e ressuscitou Jesus Cristo. Foi já há bastantes anos, parece-me recordar que em 1997, por ocasião da reunião em Israel de uma Comissão da Assembleia Parlamentar da União da Europa Ocidental, de cuja delegação portuguesa eu era então membro, na qualidade de Deputado à Assembleia da República.
Tivemos uma parte oficial da viagem, que incluiu reuniões na Knesset, o Parlamento israelita, e um encontro com o então Primeiro Ministro, que era já o actual; reunimos também com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que me pareceu um verdadeiro “Sage” e mais tarde viria a ser Presidente da República de Israel, cujo nome agora não recordo, líder de um dos partidos da coligação governamental.
Visitamos também o Museu Vad Yashem, evocativo da perseguição nazi e do Holocausto, e foi com emoção que coloquei uma pequena pedra, como é por lá costume, junto do memorial de Aristides Sousa Mendes, honrado como um dos Justos entre as Nações, por ter salvado muitos judeus de serem enviados para os campos de concentração e de morte. E foi-nos proporcionada uma visita guiada à Cidade Velha de Jerusalém, incluindo a Via Dolorosa, por onde Jesus passou a caminho do Calvário, e a Basílica do Santo Sepulcro.
Mas o melhor de tudo, para mim, foi poder aproveitar os tempos mortos do programa oficial e um prolongamento da estadia para passar algum tempo sozinho nesses lugares que tanto dizem aos que têm Fé!
Assim, fui a Belém, de táxi, fazendo os 6 quilómetros que separam as duas cidades em poucos minutos. Por aquela altura, já não me lembro bem por que razão, havia muito pouca gente nos Lugares Santos, de modo que pude estar onde quis e pelo tempo que quis, sem incomodar ninguém. Em Belém, o principal foco foi a Basílica da Natividade, que me pareceu muito pobre, e a gruta que fica por baixo da capela mor, onde Jesus terá vindo ao Mundo. Quando me tinha instalado num canto da mesma, para saborear o ambiente, desceu a escada uma jubilosa peregrinação italiana cantando o Adeste Fideles… Traziam consigo um sacerdote, que imediatamente se preparou para celebrar a Missa sobre o altar existente na gruta, à qual assisti com grande satisfação, aumentada pelo inesperado privilégio.
O taxista que me levou a Belém era de religião muçulmana, e tirou-me uma fotografia a passar na porta que dá acesso à Basílica, que é muito baixa e obriga os visitantes a baixarem-se para entrar, assim evocando o abaixamento de Deus ao entrar na História tomando a nossa condição de criatura humana, em tudo igual a nós, como nos ensina a Doutrina, excepto no pecado. Recebi já depois do regresso a fotografia e ainda me carteei com ele a agradecer também a gentileza de ter esperado por mim naquele dia memorável.
Noutra ocasião fui ao Monte da Oliveiras, mesmo em frente à Cidade Velha, do outro lado do Cédron, um pequeno ribeiro que por sinal na altura não tinha água. Estive algum tempo no lugar da Agonia de Jesus, onde se ergue hoje uma igreja, no centro da qual se encontra o enorme pedregulho onde Jesus terá rezado e sofrido tanto. Depois, andei pelo Jardim das Oliveiras, onde ainda existem árvores milenárias, tidas como contemporâneas de Jesus e, por sugestão de um moço que se ofereceu para me guiar, ainda visitei o lugar da baixada do monte onde Jesus terá chorado ao aproximar-se de Jerusalém no cortejo triunfal evocado no Domingo de Ramos.
Voltei por minha conta, numa tarde, à Cidade Velha, circundando as muralhas mandadas erigir por Solimão o Magnífico, nos tempos do domínio otomano, que ficavam mesmo em frente do hotel em que se alojava a delegação da Assembleia Parlamentar, até entrar nela, passado o Hotel King David, palco de acontecimentos históricos no processo de independência de Israel, pela Porta de Damasco, se a memória não me falha. Percorri novamente a Via Dolorosa até chegar à Basílica do Santo Sepulcro, e subi até à Capela da Crucificação, mesmo ao lado da do Calvário. De novo o meu sossego foi interrompido por uma peregrinação, desta vez polaca, mas a verdade é que se foram embora depressa. Quando desci fui ao Santo Sepulcro e entrei lá dentro e fiquei lá em silencio quanto tempo quis. Por cima da Capela, que é fechada, abre-se a abóbada para o Céu, evocando a Ressurreição gloriosa de Jesus, na manhã do Domingo de Páscoa.
Andei nessa mesma tarde, que julgo ter ocorrido num Sábado, pelas ameias das muralhas, de onde divisei o Muro das Lamentações, na procura do Cenáculo, mas não o encontrei. Em contrapartida estava devidamente assinalado o Palácio de Caifás cujo valor de entrada paguei ao guarda no local, mas quase não passei da entrada, porque apareceu um cão grande a ladrar e tive de fugir dali a toda a pressa.
Num outro dia, participei numa excursão com guia até Nazaré, onde visitei a Basílica da Anunciação. Na descida, passámos por Cafarnaum e pela sinagoga onde Jesus terá anunciado a Eucaristia, no seu famoso discurso sobre o Pão da Vida. Não podia faltar ainda um passeio de barco no Lago de Genesaré, percorrido por Jesus e pelos Apóstolos em diversas ocasiões, e a passagem pelo local do Baptismo do Senhor. Quando subíamos novamente para Jerusalém havia uns pastores a guardar os seus rebanhos e até parecia que estávamos entrando no presépio.
A minha conclusão é que quem pode deve ir, ao menos uma vez na vida, aos Lugares Santos, porque aí se adquire uma impressão duradoura acerca da proximidade de Jesus. Agora nem se pode lá ir, julgo eu, por causa da horrível guerra em curso. Mas tal situação não há-de durar sempre e felizmente há na nossa Diocese de Angra e Ilhas dos Açores um serviço a tal dedicado, que já levou à Terra Santa muitas pessoas, liderado pelo Padre Jacinto Bento, a cuja ordenação e Missa Nova, na Terceira, estive presente.
Páscoa Feliz para todos!

João Bosco Mota Amaral*

*(Por convicção pessoal, o Autor não respeita o assim chamado Acordo Ortográfico)

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