Já são em número interessante o movimento de jatos privados provenientes do exterior do espaço Schengen no Aeroporto do Pico. Este conjunto de 27 países europeus funcionam essencialmente como um único país para fins de viagem internacional, com controlos de fronteira externos reforçados para quem entra e sai da área. Voos provenientes de outros países estão sujeitos ao controlo de fronteira. Os turistas que chegam nestes voos procuram os investimentos hoteleiros de luxo que têm aberto portas na ilha ao longo dos últimos anos. Têm poder de compra muito elevado, procuram exclusividade e privacidade, valorizam muito o tempo, a discrição e conveniência, são clientes muito exigentes com interesse em experiências autênticas e personalizadas.
Atualmente, o Aeroporto da ilha montanha não dispõe de controlo de fronteiras (antigo SEF), a tempo inteiro. Isso implica que qualquer voo proveniente de fora do espaço Schengen, faça escala em aeroportos de Portugal que tenham esse controlo. Recentemente voos privados com destino ao Aeroporto do Pico tiveram de efetuar escala à priori em Cascais, Faro, Santa Maria e Porto Santo, onde fizeram o controlo de fronteira. Na única vez em que um voo privado do exterior aterrou no Pico em 2023 (devido ao nevoeiro que se verificava no Aeroporto da Horta, aeroporto de escala originalmente planeado para o controlo de fronteira), o proprietário da aeronave foi multado pela NAV e Controlo de Fronteiras.
O AIP (Publicação de Informações Aeronáuticas) da NAV para o Aeroporto do Pico, que indica as condições de operacionalidade do mesmo, indica a disponibilidade de pedido de controlo de fronteiras com 24 horas de antecedência. Mas a realidade é que tal não se concretiza por não existirem funcionários na ilha que o façam, o que na prática inviabiliza voar do exterior do espaço Schengen diretamente para a ilha do Pico.
Quando se pretende turismo de valor acrescentado, esta condicionante demonstra como a economia do Pico fica a perder, uma vez que várias são as desistências devido a esta condicionante. A própria SATA Gestão de Aérodromos (que gere esta infraestrutura aeroportuária) perde em taxas aeroportuárias. Para o turista, a penalização é duplo, com a escala noutro aeroporto para realização do controlo de fronteira e respetivo pagamento de taxas nesse aeroporto. Este grande constrangimento afasta este tipo de turista com elevado poder de compra de visitar o Pico e de contribuir para o desenvolvimento económico local da ilha.
Bruno Rodrigues*
*Grupo Aeroporto do Pico