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Governo e autarquias intensificam acções de limpeza de alga invasora

O verão de 2025 tem-se caracterizado negativamente pela presença considerável de algas invasoras nas zonas balneares e águas costeiras, com maior incidência nas ilhas de São Miguel, Faial e Pico, o que tem condicionado a ida a banhos, como a prática de alguns desportos náuticos. Também a actividade piscatória está a ser afectada.
Esta é uma situação recorrente nas costas das ilhas dos Açores desde 2019, ano em que, pela primeira vez, se registou a presença abundante da macroalga Rugulopteryx okamurae, originária das águas do Japão, China e Coreias.
O combate a tal praga é encarado como urgente, tal as implicações nefastas que acarreta ao nível ambiental, por comprometer a biodiversidade dos ecossistemas marinhos, dado produzir substâncias que afectam o desenvolvimento de outros seres. Também em termos económicos, a abundância da invasora nada tem de positivo, afectando directamente, não só a pesca, como a procura turística.
Porém, trata-se de um problema de desconhecida, ou, pelo menos, difícil solução, conforme admitem cientistas e as autoridades com responsabilidade na matéria.
O Governo da República aprovou, há pouco dias, a Estratégia Nacional para a Gestão da Macroalga Invasora Rugulopteryx okamurae, iniciativa conjunta dos ministérios do Ambiente e Energia e da Agricultura e Mar. O plano de acção contempla medidas de monitorização, resposta operacional, valorização da biomassa, investigação científica e coordenação institucional, com o objectivo de mitigar os impactos ecológicos, sociais e económicos. Entre as medidas previstas estão a remoção da alga em zonas críticas, o estudo da sua valorização para fins industriais ou agrícolas, a mobilização de equipas regionais de resposta rápida e a criação de uma base de dados nacional com registo georreferenciado da evolução da espécie.
Nos Açores, a urgência em combater o problema não é de agora. Já em Setembro de 2022, a Assembleia Legislativa Regional havia aprovado uma resolução com vista à “Implementação urgente de medidas para combater o impacto da alga Rugulopteryx okamurae nos ecossistemas marinhos”.
Cabe à Secretaria Regional do Mar e das Pescas, através da Direcção Regional das Políticas do Mar, a gestão do problema. Sobre o que tem sido feito, o seu titular, Rui Martins, explica: “A Direcção Regional das Políticas Marítimas tem acompanhado de perto esta questão, com um esforço articulado com entidades científicas e autarquias locais. O Governo Regional adquiriu maquinaria específica para a limpeza do areal de Porto Pim, para testar o equipamento, o que tem resultado parcialmente, mas demonstra limitações em arrojamentos mais massivos. As autarquias têm também procedido à remoção das algas nas suas áreas de competência. Em 2022, o Governo Regional resolveu promover a realização de um estudo multidisciplinar para melhor compreender esta espécie invasora. A continuação e aprofundamento desse estudo, que irá fornecer as bases para decisões futuras faz parte desse conjunto de respostas. Paralelamente, há reforço da monitorização costeira. Contudo, enquanto não forem conhecidas conclusões técnicas, não é possível implementar medidas específicas adicionais”.
O estudo referido por Rui Martins, adjudicado à Universidade dos Açores, iniciou-se formalmente em Fevereiro de 2024. Intitula-se “Estudo multidisciplinar para o conhecimento da alga invasora Rugulopteryx okamurae na Região Autónoma dos Açores” e está dividido em três vertentes: identificação e dispersão da espécie, avaliação do seu potencial de valorização económica, e identificação de técnicas de controlo. Até ao momento, conforme adiantou a este jornal o director regional das Politicas Marítimas, foi entregue um relatório metodológico, sendo que a entrega dos relatórios temáticos e do relatório final “está prevista, mas ainda não foram entregues nem produzidas conclusões. Como o estudo ainda está em curso e as suas conclusões não foram ainda comunicadas, não é possível implementar medidas directamente resultantes dele. No entanto, este trabalho será fundamental para informar futuras decisões e estratégias de mitigação mais eficazes”.
Entretanto, como noticiou o Diário dos Açores, na edição do passado dia 24, investigadores do Instituto de Investigação em Ciências do Mar – OKEANOS – Uac, anteciparam, num congresso em França, alguns dos mais recentes resultados sobre os microbiomas associados às macroalgas invasoras Rugulopteryx okamurae e Sargassum sp. (outra espécie presente nos mares dos Açores), evidenciando o seu potencial biotecnológico para a inovação sustentável, tendo sido obtidos resultados promissores sobre o potencial biotecnológico da alga e consequente potencial económico.
Embora não esteja identificada uma razão específica para a intensificação da Rugulopteryx okamurae nos Açores, fenómeno que ocorre igualmente noutras regiões, como o Mediterrâneo, a Madeira, grande Lisboa (AML) e o Algarve, para alguns especialistas, o aumento das temperaturas dos mares, a intensificação do tráfego marítimo e das águas de lastro deverão estar na origem do fenómeno em apreço que, definitivamente, vem marcando, pelas piores razões, o presente Verão.

Por Rui Leite Melo

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