A qualidade da água para consumo humano nos Açores manteve, em 2024, um desempenho global de excelência: o indicador “Água Segura” atingiu 99,26% na Região, com cumprimento integral da frequência regulamentar de amostragem (100%), segundo o Relatório Anual do Controlo da Qualidade da Água para Consumo Humano publicado pela ERSARA em julho de 2025.
O documento confirma ainda que 15 dos 19 concelhos apresentam “bom desempenho” e oito deles alcançaram 100% de Água Segura. Entre os pontos menos positivos, quatro concelhos ficaram abaixo da meta regional dos 99% — com Santa Cruz da Graciosa a registar 91,92%, valor inferior ao referencial de 95%, ainda que sem riscos para a saúde pública assinalados pelas autoridades de saúde.
No detalhe, Angra do Heroísmo, Corvo, Lagoa, Lajes das Flores, Nordeste, Ponta Delgada, Santa Cruz das Flores e Velas obtiveram 100% no indicador; Calheta, Horta, Povoação, Ribeira Grande, São Roque do Pico, Vila do Porto e Vila Franca do Campo atingiram valores iguais ou superiores a 99%. Já Lajes do Pico (98,48%), Madalena (96,97%), Praia da Vitória (98,20%) e Santa Cruz da Graciosa (91,92%) não chegaram à fasquia de 99%, sendo que neste último caso o desempenho ficou abaixo de 95%. A ERSARA esclarece que percentagens inferiores a 95% não significam, por si, falta de potabilidade: todas as situações de incumprimento foram acompanhadas pelas Autoridades de Saúde.
Os resultados assentam em 22.606 análises realizadas na torneira do consumidor, com 0% de falhas face ao plano (100% de cobertura em todos os concelhos). Do total de 17.844 análises com valores paramétricos (VP), 17.712 estiveram conformes, o que sustenta os 99,26% regionais.
Entre os aspetos positivos, além da cobertura analítica total e do nível “excelente” de Água Segura, destaca-se a evolução face a 2023: a conformidade com os VP subiu de 98,94% para 99,26%, com melhorias em 14 concelhos nesta métrica. Também o próprio indicador “Água Segura” melhorou em 12 concelhos, incluindo alguns dos que ainda não atingem 99% (como Madalena e Praia da Vitória). Santa Cruz da Graciosa, apesar de continuar abaixo de 95%, foi precisamente o concelho com a maior recuperação anual.
Nos pontos a corrigir, a ERSARA identifica que os incumprimentos se concentram sobretudo em parâmetros microbiológicos e químicos cuja remoção exige tratamentos específicos — como Cloretos, Sódio, Fluoretos, Ferro e Bactérias coliformes — frequentemente associados às características naturais da água bruta e a deficiências de desinfeção ou higienização de infraestruturas. Ainda assim, não foram emitidos alertas de restrição de consumo nem há evidências de surtos associados à ingestão de água da rede em 2024.
A recomendação central é investir em sistemas de tratamento mais complexos e robustos e reforçar a monitorização operacional contínua para detetar precocemente problemas e acelerar medidas corretivas.
Nos Açores, as origens de água utilizadas para o abastecimento público são na sua maioria subterrâneas, tendência que se tem mantido ao longo dos anos, em sentido análogo ao verificado a nível nacional. Tal situação tem como fundamento a própria constituição hidrogeológica e a horográfica de cada uma das ilhas.
O retrato do sistema ajuda a explicar desafios e resultados: a Região operou 189 zonas de abastecimento em 2024 (menos uma que em 2023) e utilizou 359 origens de água, maioritariamente subterrâneas (c. 98%), com o concelho do Nordeste a concentrar o maior número de captações (51).
Em termos operacionais, todas as entidades gestoras executaram os seus programas de controlo; a fiscalização presencial não abrangeu a totalidade das EG em 2024 por limitações de recursos, mas foi retomada a cobertura total em 2025.
Não é possível relacionar o número de origens de água utilizadas para consumo humano com os concelhos de maior índice populacional. De facto e à semelhança dos anos anteriores, continua a ser no concelho de Nordeste onde é utilizado o maior número de captações, num total de 51, verificando-se igualmente uma quantidade elevada de captações nos concelhos de Ponta Delgada (46), Calheta (34) e Ribeira Grande (30).
Em termos volumétricos, cabe aos SMAS de Ponta Delgada o maior volume de água distribuída (13 446,00 m3/dia), numa relação diretamente proporcional com a dimensão da população total abastecida.
No universo dos sistemas particulares, a IRAE realizou uma ação inspetiva em 2024 e não registou infrações ou processos, enquanto a Direção Regional de Saúde acompanhou a monitorização regular da água fornecida pelas entidades gestoras.
O relatório faz um balanço largamente favorável às água da rede nos Açores. O foco para o corrente ano de 2025, refere o relatório, passa por consolidar o cumprimento nos quatro concelhos ainda abaixo da meta de 99% — com atenção especial à Graciosa — e acelerar investimentos em tratamento e monitorização de risco, garantindo que a tendência positiva se mantém e se traduz de forma uniforme em todo o arquipélago.