Em plena crise no sector da habitação, derivada da escassez de oferta, acrescida do aumento dos preços, quer na compra, quer, sobretudo, no arrendamento, o mercado imobiliário vive dias atípicos.
Os Açores não são excepção, verificando-se localmente, e em certos casos com maior expressão, uma redução da oferta de alojamentos familiares para transacção, um aumento da procura e também a uma subida, sem paralelo, do preço médio dos imóveis. A conjugação de todos estes factores traduz-se na evidência de nunca como agora, as famílias estarem a investir tanto na habitação. Não por haver muitos mais imóveis transaccionadas, mas por estes serem consideravelmente mais caros. Assim o comprovam as estatísticas oficiais (INE).
Em termos nacionais, no segundo trimestre de 2025 a taxa de variação homóloga do Índice de Preços da Habitação (IPHab) foi de 17,2%, mais 0,9 pontos percentuais (p.p.) relativamente ao trimestre anterior. Relativamente à Região, exemplos concretos: entre Setembro de 2024 e Setembro de 2025, o preço médio da habitação em São Miguel registou um agravamento de 29% e na ilha Terceira de 11%.
238 milhões no 1º semestre
Nos primeiros seis meses deste ano, as transacções de alojamentos familiares nos Açores movimentaram 238 milhões de euros. No mesmo período de tempo do ano passado haviam sido 185,5 milhões, isto é, mais 28,2% em 2025! O total de transacções ocorridas em 2024 importaram em 436,5 milhões de euros. Dez anos antes, portanto, em 2014, o valor das transacções foi de 92,2 milhões de euros.
Ao longo da última década, o montante afecto a transacções de alojamentos familiares tem vindo continuadamente a aumentar, salvo em 2020, em que praticamente estagnou, e em 2023, quando se verificou um retrocesso na ordem dos 16%. A “barreira” dos 400 milhões/ano foi pela primeira vez ultrapassada em 2022 (418,6 milhões de euros) e confirmada em 2024, quando, no final do ano, se totalizaram 436,5 milhões de euros. Atendendo ao cenário actual, esse montante poderá ser ultrapassado este ano.
No valor total resultante dos alojamentos transaccionados, a parcela relativa a alojamentos novos foi, em 2024, de 24,6%. Este ano, este valor está nos 18,6%. Em 2014 era de 38,4%.
Mercado imobiliário
nos Açores cresce 10,3%
no 1º semestre
No primeiro semestre deste ano foram transaccionados, nos Açores, 1.313 alojamentos familiares, número que representa um aumento de 10,3% face ao mesmo período de 2024, quando foram transaccionados 1.190 alojamentos.
Do total de unidades transaccionadas, 1.129 eram existentes, isto é, eram alojamento familiar que no momento da transacção já tinha sido usado para fins habitacionais, e somente 227 eram novos. Face ao período homólogo de 2024, a relação é bastante próxima. Das transacções dos seis primeiros meses do ano transacto, 200 foram de habitações por estrear e 990 foram de imóveis existentes. Isto significa que no primeiro semestre de 2024, 16,6% das transacções correspondeu a novas habitações familiares.
Os números finais dos dois primeiros trimestres do corrente ano indiciam um gradual retorno do sector a uma trajectória ascendente, depois de apenas os anos de2020 e 2023 terem contrariado o ciclo continuado no aumento de transacções que se registou ao longo da última década.
Em 2020 foi transaccionado um total de 2.265 imóveis e no ano antes o total foi de 2.487, havendo, portanto, um recuo de 8,9% face a 2019. O mesmo se verificou mais recentemente, entre 2022 e 2023, com a quebra a ser, neste caso, bastante mais expressiva, situando-se nos 19,5%.
De resto, desde 2015 para cá os números são sempre a subir. Em 2014 transaccionaram-se 1.179 alojamentos familiares. Em suma, em dez anos (2014-2024) as transacções de alojamentos familiares novos ou existentes, registam uma variação positiva de 134%!!
O ano recorde é 2022, com 2.946 transacções de alojamentos familiares, sendo expectável a que as vendas totais deste ano fiquem bastante próximas daquele valor, atendendo ao comparativo entre o primeiro semestre deste ano e o de 2022 (1.474 alojamentos transaccionados em 2022 vs. 1.313 no corrente ano).
Parque habitacional
com crescimento estabilizado
O número de transacções de alojamentos familiares novos é um indicador da evolução do parque habitacional dos Açores. Analisando os dados dos últimos anos , observa-se uma relativa recessão sentida a partir de 2011. Naquele ano, verificou-se uma quebra na transacção de alojamentos novos face ao ano anterior. Enquanto em 2010 concluíram-se 865 transacções de imóveis novos, no ano seguinte estas resumiram-se a 592. Esta quebra teve o seu momento mais expressivo em 2014, ano em que a novas habitações transaccionadas foram apenas 335. Apesar dos continuados aumentos nos custos da construção, quer nos materiais, quer com a mão-de-obra construção, de 2015 para cá a situação tem-se mantido mais ou menos estabilizada, com os total anual de transacções de habitações novas a situar-se entre as 400 e as 550. A média anual dos últimos dez anos (2015-2024) é de 474 transacções de habitações novas / ano. As previsões para 2025 não serão as mais optimistas, tendo em conta que em seis meses apenas se concretizaram 185 transacções de alojamento familiar que no momento da transacção nunca tinha sido usado para fins habitacionais.
No geral, a oferta de casas à venda na ilha de São Miguel está actualmente 35% abaixo do máximo histórico de oferta, atingido no final de 2020, tal como revelam os dados mais recentes.
por Rui Leite Melo