Na política, muitos dizem que não vale tudo. Mas a realidade mostra que, entre palcos e bastidores, há sempre espaço para o menos recomendável — desde que obviamente seja para o bem comum. Não exijo santos de altar, mas sim políticos que respeitem a ética fundadora da civilização europeia e ocidental. A permanência no poder exige todo o tido de acrobacias: negociação constante, cedências, pactos, e, por vezes, compromissos.
Veja-se António Costa: para afastar o PSD de Passos Coelho e garantir uma legislatura estável, aliou-se à esquerda radical. O resultado? Uma governação que, em áreas como saúde, habitação e imigração, deixou marcas de catástrofe iminente. A estabilidade política foi conseguida, sim, mas a que custo? Passos, que começara um trabalho de recuperação das finanças públicas do país, via PS de José Sócrates, foi liminarmente ultrapassado pela direita. Nem pestanejou e Portugal perdeu um grande 1º Ministro.
Olhemos agora também para França. Emmanuel Macron, também oriundo da esquerda, tem usado dos mais avançados malabarismos para se manter à tona numa crise política aguda. Incapaz de gerar consensos duradouros, vê o país — pilar do projeto europeu — mergulhar numa crise institucional agravada pela pressão migratória. A nomeação repetida de Le Cornu, figura controversa, é vista por muitos como uma tragicomédia best seller. “Isto não é solução!”, gritam os franceses nas ruas e nas redes, mas o Eliseu tem as janelas bem fechadas.
A democracia exige, pois, mais do que sobrevivência política. Exige clareza, coragem e, sobretudo, respeito pelos cidadãos. E isso, convenhamos, não se negoceia. O equilíbrio de forças não pode justificar tudo. A ética não é um acessório descartável, mas o alicerce da confiança pública. Quando os líderes se afastam dela, o projeto europeu vacila — e com ele, a esperança de uma política que sirva, antes de mais, o bem comum.
Luís Soares Almeida