A cada ciclo presidencial repetimos o mesmo ritual: surgem candidatos para todos os gostos, e muitos para gostos duvidosos. Prometem tudo, desde estabilidade institucional até milagres dignos de feira medieval. E o país, entretido com novelas, futebol e uns copos, olha para isto como quem escolhe um snack no supermercado: “este parece simpático”, “aquele fala bem”, “aquele outro promete vinho a correr na torneira”.
Mas convém recordar que, num mundo cada vez mais globalizado, o Presidente deixou de ser apenas o senhor que distribui beijinhos em feiras e abraços em inaugurações de rotundas. O cargo exige presença, firmeza, visão, capacidade de unir o país e representar Portugal lá fora sem que os outros líderes pensem: “coitados, não arranjaram melhor?”. Com beijinhos e selfies não vamos lá. Com o profeta do ombro amigo, muito menos.
Depois, claro, temos os radicais. Os que acham que o país se salva com gritarias, bandeiras esvoaçantes e discursos inflamados. Não se salva. Aliás, afunda ainda mais. O extremismo não resolve problemas, limita-se a berrar em cima deles. Mas se a gritaria não chega, sempre há quem sonhe com rigidez militar, disciplina à força e ordem unida. Pois… boa sorte. Aplicar a lógica do quartel a um país inteiro costuma correr mal, especialmente a países habituados a discutir futebol e novelas durante mais tempo do que discutem o Orçamento de Estado.
Do outro lado do espectro surgem as ideias demasiado abertas. Aquela esquerda que quer abraçar o mundo inteiro, abrir tudo, distribuir tudo, permitir tudo… e no fim, adivinhem? Vai acabar mal. Porque um país não se governa apenas com intenções fofinhas e horizontes utópicos. Governa-se com pés no chão e, de preferência, com alguma noção de contas públicas.
E claro, há sempre espaço para os candidatos do humor e do desvario. Aqueles que prometem vinho canalizado e prostitutas em cada rua para “animar” o eleitorado. Esses não entram na equação presidencial, entram apenas na secção de entretenimento nacional. Servem para nos rirmos de nós próprios e do país que temos, onde um candidato destes consegue tempo de antena só porque é… diferente.
Depois desta limpeza, os que verdadeiramente sobram são os da direita moderada e os da esquerda moderada, aqueles que pelo menos percebem que o Presidente não é um animador de festas, nem um general reformado, nem um influencer de causas fofinhas. Mas mesmo entre estes, quem está atento percebe que há por aí um outsider silencioso. Não anda nas luzes, não aparece em todas as câmaras, mas recolhe simpatias de todos os quadrantes. É o que chega aos jovens, o que já entende que o futuro exige um representante com uma postura e um estilo muito diferente dos habituais. Fala de forma direta e assertiva, sem floreados, sem o politicamente correto de catálogo. Os leitores mais atentos saberão de quem estou a falar.
E agora, a verdade que ninguém gosta de admitir: uma boa parte dos portugueses, talvez 60% ou 70%, não faz a mínima ideia do que faz um Presidente da República. Não sabe os poderes, não conhece os limites, não entende a função. Somos um país politicamente analfabeto. E a culpa não é só dos políticos. É nossa, que preferimos reality shows, bola, minis e bailaricos à chatice de perceber que é a política, afinal, que controla o mundo.
A literacia política nunca foi tão importante como agora. Porque um país que não entende o que vota acaba sempre por ficar refém de quem sabe manipular aquilo que não se sabe. E enquanto não mudarmos isto, continuaremos a viver naquela eterna melodia nacional: gente feliz com lágrimas.
Carlos Pinheiro