Considerando os múltiplos domínios científicos, explicitados no “Ciência Vitae”, – Plataforma de Registo Científico -, as minhas áreas e Domínios de Atuação são: “Ciências Sociais – Ciências da Educação” e “Humanidades – Filosofia, Ética e Religião – Teologia”, (com naturais conexões, interdisciplinares, designadamente com o Domínio de atuação em Comunicação e “Comunicação Social – Jornalismo”, na/no qual colaboro, com iniciativas autorais, há mais de trinta e cinco anos, sem nunca levar nem um centavo nem um cêntimo.)
Na atualidade do Sistema de Educação e Ensino em Portugal, incluindo os Açores, há duas bases de orientação e de estudo: o Documento Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e as designadas, talvez com inexatidão, “aprendizagens essências”, – um tema a que voltaremos -, documentos que têm um sentido normativo para quem os tem de aplicar, de modo flexível, nos vários contextos pedagógicos, nas práticas educativas que vão da Educação Pré-Escolar até ao 12º ano de escolaridade, mas que, simultaneamente, devem ser estudados, descritos, narrados e explicados, de modo também problematológico, para além de muitos outros temas e problemas, na Formação de futuros professores/a, no Ensino Superior, desde logo no ensino universitário, designadamente nas disciplinas/unidades curriculares de metodologias de ensino e de didáticas que devem, simultaneamente, preparar os futuros/as professores/as, na atual conjuntura, a dominarem, a saberem operacionalizar e concretizar os referidos documentos, – numa dimensão prospetiva e/ou em contexto, e desenvolverem investigações que potenciem análises e reflexões, evidenciando níveis progressivos de autonomia que o ensino universitário exige e que também se deve refletir nos chamados Relatórios de Estágio, que não têm padrões únicos, mas devem seguir métodos integrados com vários processos e procedimentos de diversos tipos como sejam, por exemplo, as narrativas – narratologias -, descrições, de pendor fenomenológico e outros, procedimentos analíticos, problematológicos, reflexivos, comparativos, de matiz qualitativa e de recursos quantitativos, e mistos, sem entrar em lógicas de processos indutivos ou dedutivos. De acordo com a legislação em vigor, os estágios podem ser perspetivados e dar lugar a um dos seguintes documentos, com metodologias diferenciadas, dissertação (com base na exploração de um tema), um Relatório de Estágio, que deve dar conta das várias dimensões do mesmo, e, caso seja escolhido um tema, este deve estar articulado e enraizado no contexto que lhe deu, e dá sentido: o estágio pedagógico e, outra modalidade, é o trabalho de projeto. Embora estas três tipologias sejam distintas, tenham enquadramentos e finalidades distintas, podem, em parte, interligar-se, mas nunca de modo a confundir o que se espera de cada um. Podemos dar como exemplo os trabalhos nas escolas, também em estágio pedagógico, que podem suscitar – e suscitam – projetos vários. Aliás, há pouco tempo, cronológico, nas escolas, e no sistema de educação, houve uma sobredose de projetos, com grandes desgastes, porque nada é pensado numa lógica, que se quer, de novo, sistémica, mas aberta, procurar devidamente, procurar pensar e concretizar, o que pouco o foi: projetos educativos de escola, projetos educativos de turmas, projetos curriculares de turma, projetos de planos individuais, trabalhos de projetos, etc, etc, etc. O que levou a uma saturação. Os modismos em educação nunca dão bons resultados, uma conclusão que, há muito, devia ser uma regra de ouro a ter em conta, sempre. Muitas disciplinas de mestrados em educação e formação eram sobre projetos educativos e curriculares, para corresponder às conjunturas. Quando lecionei, durante vários anos, a disciplina/unidade curricular de Desenvolvimento Curricular – onde vários conteúdos eram abordados – um deles era a área-escola, que se fundava numa lógica interdisciplinar. E muitas vezes afirmava que, mais cedo ou mais tarde, a área-escola seria extinta – era uma questão de tempo – mas continuaria a ser sempre fundamental saberem trabalhar e desenvolver projetos em lógicas disciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares, porque continuaria a ter sentido essas dinâmicas, na ordem epistemológica (conhecer), da axiologia (dos valores), na articulação dos saberes, a partir dos objetos, dos conteúdos de aprendizagem, mas também na perspetiva dos professores e alunos como pessoas e sujeitos que, de modo natural, ou em estudos organizados, se podem mobilizar numa atitude cultural, todos somos sujeitos de cultura, a escola é, por natureza, cultura, no sentido pluridimensional, como desenvolveu e tematizou – e está na sua vasta Obra – o Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício, de Saudosa Memória, bem como a interdisciplinaridade sempre foi uma lógica que presidiu à Reforma Educativa e Curricular (lançada em 1986/90), que pessoalmente acompanhei, e vivi, em termos pessoais e profissionais, como Professor, em 1990/91, na Escola Secundária Domingos Rebelo, em Ponta Delgada/S. Miguel/Açores.
Da Grande Reforma Educativa e Curricular (lançada, em génese, com a Lei de Bases do Sistema Educativo, de 1986) ficou-me, sempre, não só o espírito que a presidia, que nunca foi verdadeiramente entendido devido a duas lógicas, que nunca deviam ter sido instrumentalizadas, como foram, mas integradas, na sua complementaridade e dinamismo: o sentido subjacente à “área-escola”, que foi entulhado e anulado, a prazo; a “área-escola” (rejeitada pela sua, suposta, inoperacionalidade) e o “movimento da escola cultural”, que sendo manipulada como sendo oposta à escola curricular, nunca deu lugar ao que sempre foi: conceber a escola como cultura, na sua pluridimensionalidade. Em rigor, na expressão “escola cultural” não estava um adjetivo, mas um substantivo, isto é, a Cultura é da Natureza da Escola. As designações dos respetivos ministérios e secretarias dão lugar, intencional, ou não, a manipulações e instrumentalizações ideológicas, sendo certo que o currículo nunca é, nem deve ser neutro, e não se deve reduzir tudo ao currículo, caso contrário cai-se num currculismo redutor e, até, nocivo à fulguração e floração da Educação e Cultura, como seiva e meios de formação integral.
Também por tudo o que disse até ao momento, – e não só – sinto a necessidade de se tematizar, com profundidade, e na sua Complexidade, uma Filosofia do Currículo, que emane da e na Educação, em Educação. Pude sentir essa necessidade, com intensidade, logo no lançamento da referida Reforma Educativa e Curricular, o que me levou à investigação científica que empreendi nas minhas Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica, apresentadas em fevereiro de 1997, cuja Dissertação foi publicada em 2002, e, depois, em amplo, e Profundo, Campo de Inovação e Investigação, em plena Abertura a outras Magnas dimensões, no meu Doutoramento, cuja Tese foi publicada, em 2005, tal como foi defendida no dia 18 de julho de 2003.
A Complexidade e a “Interpolidisciplinaridade” são, há muito, tematizados, estudados, retomados e aprofunadados, numa galáxia de ideias, conceitos, conceções e narrativas, profundas, por Edgar Morin. No que me diz respeito já lia obras de Edgar Morin desde a minha juventude, ainda como estudante, antes de lecionar, pela primeira vez, em Aulas Oficiais, aos 18 anos de Idade. E sempre continuei, e continuo, a ler, a investigar e dar a ler a vastíssima, e Original, Obra de Edgar Morin. Edgar Morin é um Grande Pensador, Profundo, e nele o Pensamento é vital na Educação, como deve ser em qualquer Professor/a que se preze, ou que seja Professor por Vocação e Missão. Já não basta falar, e praticar, como “Professor Reflexivo” (Zeichner) é preciso, urge, o Professor Pensadore, mais, as sempre com ligação ao Campo e à Raízes, às Funduras e Alturas, Educadores – Filósofos-Professores (José Enes, Gustavo de Fraga, José Ribeiro Dias, Manuel Ferreira Patrício, João Boavida. José Luís, Brandão da Luz, Paulo Freire, António Nóvoa, Maria Luísa Ribeiro Ferreira, Maria Pereira Coutinho, Marai da Conceição Azevedo, Paul Ricoeur, Octavi Fullat, Adalberto Dias de Carvalho, Quintana Cabanas, entre muitos e muito outros, que laboram e co-laboram no Pensar, no Agir, no Fazer Humano). Mas ainda há que levar a Reflexão mais Longe e Pensar e Agir, em Obediência à Verdade e à sua Procura. Hoje, para fazer Educação, em “Inter-Poli-disciplinaridade” é preciso ser e estar em Abertura aos campos, imensos, plurais, em diversidade e unidade. Por que será que muitos se têm querido afirmar contra Descartes?!, que nos legou a Metáfora, Vital, do Conhecimento, a Árvore do Conhecimento. Mas Mas tenhamos bem presente que, desde os Génesis, depois da queda, a “Árvore da Vida” ficou, e está, exclusivamente, reservada para Deus. Ninguém sabe o dia nem a Hora. O Homem não possui a Sabedoria, busca a Sabedoria. A Filosofia não é a Sabedoria, mas a busca, procura, da Sabedoria, da Sageza. Na sua Longevidade, Edgar Morin, hoje com 104 anos de idade, feitos a 8 de julho, deste ano de 2025, tem uma longa científica, numa vaste, e profunda, interligação de Saberes. Um dos seus pequenos-grandes livro intitula-se “Amor, Poesia, Sageza” (1997). Muitos outros livros já citei e hei-de citar, sempre a estudar, em interconexão, em Campos, aráveis, a Lavrar e, em lances, Semear Letras, a Plantar e Transplantar. Neste contexto cito: “Repensar a Reforma. Reformar o Pensamento. A Cabeça Bem Feita” (1999/2002); Os Sete Saberes Para a Educação do Futuro (199/2002). Lições de um Século de Vida (2021), De Guerra em Guerra. De 1940 à Ucrânia (2023), e muitas e muitas obras, e Realidades, que nos levaria – levou, levará- à Metodologia do Ensino, à Oficina da Didática da História, à Metodologia e Didática da História, à Educação História, à História do Quotidiano, à Metodologia e Didática do Estudo do Meio, à Metodologia e Didática da Filosofia. À Educação, à Cultura e à Barbárie, que tanto também ocupou, e ocupa, Edgar Morin e tantos e tantos outros.
Á Saída da Escolaridade Obrigatória não deve estar, finalisticamente, o cidadão, mas, antes, durante, à saída, e depois, deve ser e estar a Pessoa, em Desenvolvimento Integral e Pluridimensional, em que uma dimensão da formação, transversal, é a Cidadania, mas a Pessoa, é o Núcleo. Em todas as etapas da vida, com intensidades e modalidades diferentes, é sempre no centro da Pessoa que se edifica o cidadão e o (futuro) profissional. E todos os Saberes, os bons Saberes, contribuem para a Formação da Pessoa, como um Todo, em Abertura, em direção a si mesmo, aos outros, a outras realidades e mundos, com Princípios e Valores, no Sentido da Transcendência. Todos os Relatórios de Estágio, por melhores que sejam, são apenas contributos para a vivência, estudo e compreensão da escola, da educação, da cultura, da pessoa, em dinâmicas de ensino, aprendizagens e desenvolvimento, ao longo da Vida.
Emanuel Oliveira Medeiros*
Professor Universitário
*Doutorado e Agregado em Educação, Especialidade de Filosofia da Educação
Centro de Estudos Humanísticos da Universidade dos Açores
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas