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Açores podem perder quase um terço da população até 2080, alerta OCDE

Os Açores correm o risco de perder perto de um terço da população até 2080, apesar de uma ligeira recuperação demográfica nos últimos anos. O alerta é lançado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) no relatório “Preparing for Demographic Change in the Azores, Portugal”, que analisa em detalhe a evolução e as projeções demográficas do arquipélago e coloca a Região entre os territórios europeus mais expostos ao chamado “armadilha do desenvolvimento de talento”.
Com cerca de 240.000 residentes, a Região Autónoma dos Açores perdeu 2,7% da população entre 2010 e 2023. A OCDE sublinha que este recuo foi fortemente alimentado pela saída de jovens: a taxa líquida de migração no grupo dos 15 aos 39 anos foi de -8,1% nesse período, mais de três vezes superior, em valor absoluto, à taxa registada para o conjunto da população (-2,4%). Ao mesmo tempo, a estrutura etária mudou de forma marcada: a população com menos de 14 anos diminuiu cerca de um quarto, enquanto o número de residentes com 65 ou mais anos aumentou aproximadamente um terço.
O relatório recorda que o arquipélago, com 2.355 quilómetros quadrados e nove ilhas, apresenta uma distribuição populacional muito desequilibrada. São Miguel, a maior ilha, concentra quase 140.000 habitantes, mais de metade da população açoriana.
No extremo oposto, nas quatro ilhas mais pequenas, o Corvo, as Flores, a Graciosa e Santa Maria, representam em conjunto menos de 6% dos residentes, sendo que o Corvo, a menor ilha, tem pouco mais de 400 habitantes.
Esta geografia reforça os custos de prestação de serviços públicos e a dificuldade em manter infraestruturas e economia dinâmica nas áreas mais periféricas
As disparidades também são evidentes ao nível municipal. Entre 2011 e 2023, o concelho do Nordeste, em São Miguel, perdeu 10% da sua população, enquanto a Madalena, na ilha do Pico, e o próprio Corvo registaram ganhos em torno dos 7%. Já as ilhas de São Jorge, Flores e Graciosa sofreram quebras superiores a 5% no mesmo período. Em grande parte dos municípios, o saldo natural é negativo, sendo o crescimento recente explicado sobretudo pelos fluxos migratórios, com as ilhas de Pico e Corvo a destacarem-se por uma imigração mais forte do que no resto da Região.
Apesar deste quadro, a OCDE nota que a tendência de despovoamento abrandou nos últimos anos. Após um mínimo em 2018-2019, a população dos Açores cresceu 1,3% desde 2019, graças à imigração, num contexto marcado pela liberalização do espaço aéreo, pelo forte crescimento do turismo e pelo aumento do teletrabalho após a pandemia de COVID-19.
Porém, o saldo natural tem-se tornado cada vez mais negativo, e a organização avisa que esta estabilização recente é provavelmente temporária se não forem adotadas políticas de adaptação mais ambiciosas.
As projeções demográficas usadas pela OCDE, baseadas no cenário de referência do Eurostat, são claras: entre 2025 e 2060, a população açoriana deverá recuar 17%, e, até 2080, a quebra poderá atingir 29%.
Em paralelo, a população em idade ativa poderá encolher cerca de um terço, enquanto o número de idosos deverá aumentar 76% até 2060, pressionando o mercado de trabalho, os sistemas de saúde e de cuidados de longa duração. Em comparação, Portugal no seu conjunto deverá perder perto de 11% dos residentes, o Alentejo poderá recuar 36% e a Área Metropolitana de Lisboa é a única região portuguesa onde se antecipa crescimento populacional, na ordem dos 5%.
A OCDE liga estes indicadores à dificuldade de retenção de talento jovem e qualificado. A Região é identificada pela Comissão Europeia como uma das 82 regiões europeias em risco de “armadilha de desenvolvimento de talento”, isto é, territórios onde a combinação de envelhecimento, saída de jovens e fraca capacidade de atrair e fixar trabalhadores qualificados ameaça o potencial de desenvolvimento económico.
O peso ainda elevado do sector primário, da administração pública e do turismo, com oportunidades limitadas para uma juventude cada vez mais qualificada, é apontado como um fator que alimenta a emigração de quadros.
O relatório associa ainda a pressão demográfica à evolução do mercado da habitação. Desde 2015, os preços das casas nos Açores têm crescido mais depressa do que em qualquer outra região portuguesa, afastando jovens profissionais e famílias das zonas de maior procura. Ao mesmo tempo, a habitação social representa apenas 2,3% do parque habitacional, um valor considerado insuficiente face às necessidades de acesso a alojamento acessível, sobretudo nas áreas urbanas e turísticas, onde se concentram população e serviç
Perante este cenário, a OCDE defende que a resposta ao declínio e ao envelhecimento populacional nos Açores não pode limitar-se a tentar “reter pessoas a qualquer custo”, mas deve passar por uma adaptação inteligente do território e das políticas públicas ao novo perfil demográfico. Entre as prioridades apontadas estão a requalificação de solo urbano subutilizado, o reforço da coordenação intermunicipal, a aposta em serviços públicos de proximidade, a melhoria da mobilidade e da conectividade digital e uma estratégia ativa de atração e integração de novos residentes, incluindo migrantes, que permita travar a perda de população e evitar que a Região caia na armadilha demográfica que hoje já se adivinha nas estatísticas.

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