“As questões do Currículo sempre me interessaram, mas sempre enraizadas numa Filosofia da Educação e do Currículo. No dia 18 de julho de 2003 defendi, também na Universidade dos Açores, a minha Tese de Doutoramento sobre o tema A Filosofia como Centro do Currículo na Educação ao Longo da Vida, publicada, em 2005, pelas Edições Piaget, rigorosamente como foi defendida, publicamente.”
De acordo com o “Ciência Vitae”, (Plataforma Europeia de Registo Científico), a minha Grande Área e “Domínio de Atuação” é: “Ciências Sociais – Ciências da Educação” e “Humanidades – Filosofia, Ética e Religião”.
A Educação pode ser entendida em várias aceções, na sua essência e nas suas intencionalidades. A Educação visa várias finalidades. Falamos de Educação para os Valores, de Educação para a Cidadania, de Educação para a Saúde, de Educação para os media, isto é, de Educação para Comunicação social, etc,. Várias podem ser as preposições mas a essência é que é o fundamento. Num tempo em que se olha para a educação como solução para tudo, não faltaria colocar a preposição para, no sentido de expressar e dar visibilidade a determinados aspetos da vida humana em que se entende que a educação deve intervir. E a educação só pode alguma coisa se estiver nas mãos de pessoas que se queiram educar e que queiram ajudar a educar, se estiver nas mãos de líderes competentes e carismáticos, com valores e caráter, se integrar um sistema vivo de valores. Na década de oitenta e de noventa, no nosso País, assistimos, talvez, até hoje, à tentativa de uma profunda Reforma Educativa e Curricular. Foi uma Reforma que deixou muitas sementes e raízes. Depois, já no início deste século, assistimos à reorganização do sistema curricular do Ensino Básico e à Revisão Curricular do Ensino Secundário. Tudo isso acompanhei.
As minhas Provas Académicas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica, (Provas de APCC) com a duração de quatro anos, (defendidas, em fevereiro de 1997, em dois dias, como era de lei, tudo pré-Bolonha), tiveram por tema A Filosofia na Educação Secundária. Uma Reflexão no Contexto da Reforma Curricular e Educativa. Tinha – e tenho – experiência e vivências do lançamento, ainda numa fase experimental, aqui nos Açores, quando, em 1990/91, era Professor, Licenciado e Profissionalizado, a exercer, na Escola Secundária Domingos Rebelo. Passaram tantas reformas e contra-reformas educativas, mas ficou como um dos aspetos essenciais para a Educação escolar a importância de darmos valor, nas práticas educativas, e na avaliação, a cinco dimensões: atitudes, valores, conhecimentos, capacidades e competências. Volto sempre as estas dimensões, até porque cada (des)governo tem sempre a tentação de querer fazer a sua reformazinha, muitas vezes sem consistência, sem pensamento.
Muitas vezes dar continuidade ao que vem detrás poderia ser mais inovador. Em Educação, e não só, temos muitas dificuldades em conjugar tradição, inovação e renovação. A Inovação em Educação não se institui, programa-se e realiza-se, com criatividade, pelos diversos sujeitos educativos, em múltiplos contextos, escolares e não escolares. E são tantos os sujeitos da Educação. Numa dimensão escolar e não escolar todos somos poucos para realizar a Educação, em todas as idades, em todos os tempos e em todos os lugares. Ganham sentido as conceções de “Sociedade Educativa” e de “Sociedade do Conhecimento”. Mas mais do que “Sociedade Educativa”, o que verdadeiramente importa é saber organizar e dinamizar uma Comunidade Educativa. Sociedade (des)liga-se com sócios, enquanto a comunidade se liga e aprofunda com laços afetos, finalidades e valores comuns, partilháveis, para educar as pessoas e as próprias comunidades, desde logo a educação familiar. Quem educa os pais? Quem educa os pais para serem bons filhos face aos seus idosos? Não se educa sem amor. E é o amor que liga (Erick Fromn). Numa época sem espírito, onde prolifera o ódio, a mentira, a maldade, a corrupção, e outros males, a Educação e a Cultura são chamadas, mas com Princípios e Valores. É interessante notar que, depois do Ministro Nuno Crato, que arrasou com as competências pelas competências, vazias, (que, no limite, poderiam formar incompetentes), o próprio Conselho Nacional de Educação (CNE) passou a explicitar a importância a dar aos conhecimentos e aos valores nos sistemas de ensino, tanto mais que vivemos numa época sem consistência, em que tudo se evapora. Por isso me parece muito importante saber dosear, em educação, dinâmicas, permanências e incertezas.
As questões do Currículo sempre me interessaram, mas sempre enraizadas numa Filosofia da Educação e do Currículo. No dia 18 de julho de 2003 defendi, também na Universidade dos Açores, a minha Tese de Doutoramento sobre o Tema A Filosofia como Centro do Currículo na Educação ao Longo da Vida, publicada, em 2005, pelas Edições Piaget, rigorosamente como foi defendida, publicamente.
Na Educação tem faltado Pensamento, Filosofia da Educação e “Educação da Filosofia”, uma expressão do Professor Doutor José Ribeiro Dias, que foi o meu Orientador Científico das Provas de APCC e do Doutoramento, uma Figura Maior da Educação, da Pedagogia, da Filosofia da Educação e um foi um Sapiente pioneiro da Educação de Adultos em Portugal.
Em Educação tem-se andado à deriva, sem pensamento, sem consistência e a suposta avaliação – interna ou externa – só pode realizar-se com base numa Filosofia da Educação, que é sempre pluridimensional, vai aos fundamentos e ao Sentido, em questionamento. Nada é estranho aos Filósofos da Educação e à Filosofia da Educação, muitas são as figuras, temas e problemas, áreas a tematizar, em interligação de sentidos, para a compreensão do humano, como, por exemplo, a poesia, a literatura, ensaios, as artes e expressões, a comunicação, etc.
Têm-se gastorios de dinheiros inutilmente e com grande sobrecarga para os contribuintes. São mudanças de currículos, sem nexo nem fundamento, que, depois, levam a várias ações de (de)formação, consoante os casos, à venda e compra de novos manuais escolares, que, atualmente, têm outra regulamentação e relativa estabilidade. Mas a Educação não se reduz a um currículo estrito e estreito, a Educação exige um Currículo em sentido amplo e verdadeiramente formativo, na dimensão integral do ser. Na perspetiva do Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício, de Saudosa Memória, importa uma matriz cultural da Escola. Por isso me parece que nas orgânicas governamentais, a Educação, – ensino regular e profissional – e a Cultura devem estar na mesma coordenação. Ao longo do tempo, a Educação foi sempre mais e melhor quando tem, naturalmente, e intrinsecamente, a Cultura como seiva, uma temática e problemática que pretendemos desenvolver em futuros escritos, tendo em conta a sua simplicidade, complexidade e profundidade. E terminamos com uma questão: o que é educar?
Artigo de Autoria, publicado, originalmente, no jornal Diário da Lagoa.
Emanuel Oliveira Medeiros*Professor Universitário
- Doutorado e Agregado em Educação e na Especialidade de Filosofia da Educação. Professor da Universidade dos Açores e Membro Fundador do Centro de Estudos Humanísticos da UAç