Os trabalhadores de terra da SATA vão estar em greve ao trabalho suplementar, a partir de 24 de julho, contra o “tratamento discriminatório” pela empresa de aviação dos Açores, anunciou o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC).
Num comunicado publicado na página na internet do sindicato, o SINTAC considera “inaceitável” que a revisão salarial não seja “equitativamente” distribuída por todos os trabalhadores.
“Não pode o SINTAC aceitar que os trabalhadores de terra do Grupo SATA, independentemente da sua filiação sindical, tenham tratamento discriminatório em relação a outros do grupo”, lê-se no comunicado de imprensa.
A estrutura sindical diz não subscrever, nem concordar com “a aplicação aos associados do SINTAC de um acordo feito com outro sindicato”, porque “é injusto quando comparado com outros”.
O SINTAC aponta também para “as condições precárias” em que muitos trabalhadores exercem a sua atividade, com “recurso sistemático ao trabalho suplementar”, o que “esgota os recursos humanos física e psicologicamente” e provoca um “sentimento de injustiça”.
O sindicato denuncia ainda “a falta de resposta da empresa sobre as necessidades de revisão de carreiras”.
Tudo isto, acrescenta, resulta “numa instabilidade social no Grupo SATA” que “preocupa sobremaneira” o SINTAC.
“Os trabalhadores da SATA vivem entre o mercenarismo de alguns que não se comovem pela destruição que causam e causaram na empresa e o messianismo eterno de que alguém vai vir salvar a SATA”, sustenta.
Para o sindicato, “a SATA não precisa de ser salva, precisa de ser bem gerida, por gente competente que respeite a missão social par a qual foi criada, servir os Açores e os açorianos”.
A greve ao trabalho suplementar no grupo SATA, marcada pelo SINTAC, terá início às zero horas do dia 24 de julho e término a 31 de dezembro de 2024, é referido no comunicado do SINTAC.
O sindicato diz que os trabalhadores “estão mobilizados” para a paralisação, alegando ser “a única forma” de se fazerem ouvir perante “a incapacidade da empresa em perceber a gravidade dos seus atos”.
Rui Coutinho contra
“má gestão”
do passado
Na sexta-feira, o novo presidente do conselho de administração da SATA, Rui Coutinho, considerou que houve “muita má gestão” na companhia aérea durante “muitos anos”.
Para Rui Coutinho, “foram cometidos demasiados erros por diversos responsáveis, cujos efeitos influenciam a prestação atual” e “continuarão a condicionar todas as decisões e toda a gestão diária e estratégica do grupo”.
O gestor foi ouvido na Comissão da Economia da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, após a sua indigitação pelo Governo dos Açores para presidente do conselho de administração da SATA Holding, S.A..
O presidente recém-indigitado admitiu que “o caminho será difícil, por vezes tortuoso”, pois “todas as empresas do grupo estão tecnicamente falidas há muitos anos” – o grupo, acrescentou, “apresenta uma situação económica e de tesouraria extremamente delicada, com dificuldades imediatas e a prazo”.
Rui Coutinho afirmou que a companhia pública açoriana “tem uma estrutura muito pesada”, de acordo com o seu organigrama, com “diretores para muita coisa”, e propôs-se a “ver quais as rotas que são deficitárias e eliminar, para redução de custos”.
“Não há tempo para gastar dinheiro com rotas deficitárias”, declarou, indicando que pretende também reduzir os voos no designado regime ACMI (aluguer de aviões e tripulações) “ao mínimo indispensável”.
O novo representante quer “ganhar eficiências e maximizar os recursos humanos e materiais na companhia”, o que “neste momento não é feito”, bem como promover vendas a bordo, cobrar por bagagem adicional e encerrar lojas, transitando o pessoal para os aeroportos, para apoiar os passageiros.
O gestor não quer “mais ‘Cachalotes’ ou aviões daquela dimensão”, recusando ’leasings’ de aeronaves “extremamente caras”.
Rui Coutinho afirmou que as novas rotas “têm que ser muito bem fundamentadas” e quer aumentar os voos ‘charters’ no período de inverno, “como forma de reduzir e diluir os custos fixos que a empresa tem”.
No quadro da salvaguarda da empresa, o gestor defende um aumento do tarifário “em função da inflação, como consta das obrigações de serviço público”.
“Não se pode estar com valores de 2015”, sublinhou.
No âmbito de privatização da Azores Airlines (responsável pelas ligações de e para fora do arquipélago, integrada no Grupo SATA), há que “melhorar os rácios e indicadores”, que “estão bastante desfasados do que era o plano de reestruturação aprovado por Bruxelas”.