O regresso às aulas é tempo de reflexão para pais e filhos, adultos e jovens. É altura de saudosismos dos que se recordam dos dias passados nos recreios, entre os livros, os apontamentos e a folia de não ter responsabilidades. E é também altura de relembrar as instalações antigas, insuficientes, onde passávamos frio de estremecer no Inverno e calor assolador no Verão.
É tempo de recordar a falta de professores, colmatada de forma perpetua mente insuficiente, e incapacitada. E a ausência de auxiliares de educação, nos corredores desertos de uma escola sobredimensionada, afastando as crianças das suas freguesias, de onde só restam corredores vazios e promessas vagas.
Terão sido essas memórias de outros tempos, agora que a atual secretária, que tutela a Educação, se revelou a salvadora da Educação nos Açores? Numa primeira análise, e conforme atestaram as últimas eleições regionais, poderia parecer que tudo navegava com bom vento nas escolas do nosso arquipélago. Muitas pessoas decidiram-se publicamente pelo anuir com as políticas deste governo, naquele setor. A imagem de marca pareceu positiva, e a secretaria fez por assim a manter.
Mas sempre chegará o mês de setembro, altura do ano em que nem a melhor máquina de propaganda poderá salvar a máscara que a senhora secretária colocou sobre a educação regional. Sucederam-se notícias em vários jornais locais, apregoando uma realidade escondida de muitas e de muitos, mas sabida por quem passa por ela. A Educação não foi salva. Foi apenas reabilitada, e adaptada ao novo normal deste aparelho político-partidário.
Comecemos por uma carência evidente, transversal às nove ilhas: faltam pessoas para trabalhar no auxílio escolar. Aquelas ocupações que agora se designam por assistentes operacionais, outrora batizadas com outros nomes, e que são fundamentais para o funcionamento de qualquer escola. São cerca de duzentas vagas em todo o arquipélago. Duas centenas de postos de trabalho que correm o risco de ficar por preencher pela intransigência do modelo estratégico de Sofia Ribeiro, que afastou oportunidades nestas áreas, e permitiu a criação de graves deficiências. Correm atrás do prejuízo, anunciando que serão vagas a preencher com recurso aos programas de emprego e aos estágios.
Formam-se novas gerações de precários. O governo de Bolieiro recua, uma vez mais, na palavra que deu.
Outra realidade comum é a de falta de estruturas em condições. Edifícios que necessitam de intervenções, humidades e débeis alicerces, com piores recursos do que nunca e total falta de manutenção. Escolas instaladas em espaços históricos, abandonadas ao vento.
Complexos escolares novos, que já revelam incapacidade de dar resposta ao que lhes é pedido. Orçamentos, como o da escola na Lagoa, onde a verba total para tomar conta dos espaços é insignificante.
Condições profundamente indignas, onde não há papel higiénico, lâmpadas, projetos, materiais de laboratório ou simples marcadores. De tudo um pouco se encontrará, se se souber procurar. Talvez seja falta de pergunta por parte dos jornalistas, uma vez que tal parece ser a única maneira de resgatar algum comentário à Secretaria em questão.
Não podemos deixar de recordar as faltas de professores que agora são tornadas públicas. No Corvo, quatro vagas podem parecer pouco, mas numa ilha com responsabilidades pedagógicas muito específicas, rapidamente correm o risco de criar uma bola de neve capaz de afetar toda uma geração de alunas e alunos.
Na ilha vizinha, as Flores lidam com uma dura realidade. Para além do encerramento de turmas e outros problemas do passado que já referi, perpetuamente ignorados e empurrados para debaixo do tapete, o novo ano letivo trouxe um problema de cinquenta e seis vagas na sua Escola Básica e Secundária. Um número verdadeiramente apocalíptico, numa escola que deveria contar com oitenta e seis docentes, mas que na verdade nem sequer apresenta uma pessoa que seja para o agrupamento de biologia e geologia, ou apenas uma para português ou para história. Quem lá viver e desejar seguir essas áreas, pode ter a certeza de que a solução não virá de quem manda.
Trata-se de um problema de trampolim, como tão bem nos relatou Francisco Maciel de Freitas. Os professores inscrevem-se naquele estabelecimento, mas nem sequer são obrigados a lá lecionar um ano que seja, antes de poderem solicitar destacamento noutra ilha. E as Flores permanecem, esquecidas por Bolieiro e pela sua equipa, votadas à solução da Bolsa de Emprego Público, incapazes de admitir a dura realidade de que se trata de uma questão política, reflexo de um executivo que não deseja criar condições de atratividade para as ilhas pequenas, que almeja largar.
Nem tudo está bem na Educação. Diria, aliás, que muito mais é que o nos dói do que aquilo que nos une. Durante os primeiros anos da sua governação, foi evidente a tentativa de capitalizar as inseguranças e os descontentamentos de uma classe que se sentia abandonada. Só que agora revela-se claro qual terá sido o verdadeiro plano em ação. Centralismos, promessas por cumprir e elitismos estratégicos que deram muitos votos, só que prejudicam as escolas, atacam diretamente as periferias, e colocam em risco o futuro da unidade e da igualdade no nosso arquipélago.
Nem tudo vai bem no reino daquela área.
Termino este texto lembrando que a Educação não pode ser gerida unicamente do ponto de vista sindical, e, citando Sérgio Nascimento, aquando do encerramento do Congresso Insular Olhar o Futuro Educação, Cérebro e Menterealizado na ilha Terceira, que de forma assertiva afirmou: “Os agentes de mudança não são as organizações, são cada um de vós. São as pessoas.”. Seria bom que o Governo Regional entendesse o seu papel.
Alexandra Manes