No próximo dia 10 de Outubro (sexta-feira), comemora-se o Dia Mundial da Dislexia.
A Diretora da Associação de Dislexia Polo Açores, Rita Bonança, em entrevista ao “Diário dos Açores”, manifestou a sua preocupação com a situação dos alunos com dislexia nas escolas.
Nesta entrevista, discutimos a importância da inclusão, as dificuldades enfrentadas pelas crianças com dislexia e as propostas para uma educação mais equitativa.
Mencionou que o recente Diploma de Educação Inclusiva deveria garantir a inclusão dos alunos com dislexia, mas, na prática, isso não está a acontecer. Poderia explicar como esta situação se reflete nas escolas?
A situação é alarmante. Embora a legislação estabeleça que os alunos com dislexia têm direito a adaptações curriculares e apoio especializado, a realidade é que muitas escolas não aplicam estas diretrizes.
Por exemplo, as adaptações que deveriam ser oferecidas são frequentemente insuficientes ou inexistem.
Há um descompasso entre o que está escrito na lei e o que acontece nas salas de aula.
O que considera que está a falhar?
Um dos principais problemas é a falta de formação e sensibilização dos profissionais de educação.
Muitos professores não possuem as ferramentas necessárias para apoiar alunos com dislexia, o que resulta numa exclusão silenciosa.
Este fenómeno não apenas compromete o desempenho académico destes alunos, mas também afeta profundamente a sua autoestima e saúde emocional.
Que tipo de recursos acredita que são necessários para apoiar melhor estes alunos?
Precisamos de recursos pedagógicos especializados, como materiais didáticos adaptados e softwares que ajudem na aprendizagem.
Além disso, é fundamental que os profissionais sejam formados adequadamente para compreender as necessidades dos alunos com dislexia.
Infelizmente, as planificações que muitos departamentos elaboram não consideram as especificidades de aprendizagem desses alunos, levando à utilização de testes padronizados que não atendem às suas necessidades.
Falou sobre a falta de fiscalização como um dos fatores que perpetuam a exclusão. Pode comentar mais sobre isso?
Certamente. Há uma ausência de monitorização efetiva por parte das autoridades educativas.
Sem fiscalização, as escolas não sentem a pressão para cumprir as normas de inclusão.
Isso agrava a exclusão dos alunos com dislexia, que ficam sem apoio.
As famílias e os professores têm trazido várias queixas, mas muitas vezes não vemos ações concretas para resolver estas questões.
Quais são as consequências emocionais da exclusão escolar para estes alunos?
A exclusão escolar pode ser devastadora.
As crianças que não recebem o apoio necessário frequentemente enfrentam problemas de autoestima, ansiedade e depressão.
Elas sentem-se incapazes e, muitas vezes, acreditam que não são inteligentes.
Essa marginalização não apenas compromete o seu desempenho escolar, mas também influência as suas vidas fora da escola.
O que propõe para mudar esta realidade?
É crucial implementar medidas concretas que assegurem que os alunos com dislexia tenham acesso a um sistema educativo que reconheça as suas necessidades.
Isso inclui formação contínua para professores, recursos pedagógicos adequados e fiscalização rigorosa das normas inclusivas.
Não se trata apenas de cumprir a lei, mas de garantir que cada aluno tenha uma experiência escolar digna que respeite os seus direitos e promova o seu desenvolvimento.
Que mensagem gostaria de deixar para a sociedade e as autoridades educativas?
A inclusão deve ser uma prioridade real, não apenas uma ideia bonita no papel.
Apelo para que todos, desde pais até responsáveis pela educação, se unam em defesa dos direitos dos alunos com dislexia.
É essencial que façamos ouvir a nossa voz e que lutemos por um sistema educativo mais justo e verdadeiramente inclusivo.
Como a Associação de Dislexia Polo Açores continuará a trabalhar para defender os direitos desses alunos?
Estamos comprometidos em continuar a nossa luta pela inclusão.
Realizaremos campanhas de sensibilização, formaremos parcerias com escolas e apoiaremos famílias na procura pelos seus direitos
O nosso objetivo é criar um ambiente educacional onde todos os alunos, independentemente das suas dificuldades, possam prosperar.
Rita Simas Bonança conclui que a inclusão de alunos com dislexia não é apenas uma questão de legislação, mas um direito fundamental que deve ser garantido.
“A luta da Associação de Dislexia Polo Açores é um passo vital para assegurar que esses alunos tenham as oportunidades e o apoio necessários para alcançar o seu pleno potencial”, conclui.