Atualmente tem-se verificado um aumento substancial do número de pessoas idosas, à escala mundial existindo, não só, a necessidade de se definirem parâmetros biológicos para caraterizar os adultos em idade avançada mas, também, de se verificarem as consequências das mudanças decorrentes do processo de envelhecimento e de se avaliarem as implicações sanitárias, sociais e económicas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou a pessoa idosa como qualquer indivíduo de 65 anos ou mais (cf. OMS, 2009).
A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (Montenegro, 2006) apontou os fatores necessários para um envelhecimento bem-sucedido e, consequentemente, para um bem-estar psicológico, a saber: promoção de um envelhecimento ativo e saudável; estimulação das ações intersectoriais; existência dos recursos necessários para a qualidade da atenção à saúde do adulto em idade avançada; e estimulação da participação e fortalecimento do controlo social.
O envelhecimento ativo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (2005) consiste no processo que permite a otimização das oportunidades de saúde e de participação e segurança das pessoas idosas no seu processo de envelhecimento.
Os programas de promoção da saúde podem conter atividades de estimulação cognitiva. Nesse âmbito, Goyaz (2003) dá relevo à importância da integração de atividades que apelem à memória, através da estimulação cognitiva, para que a pessoa idosa aumente o seu bem-estar, a sua autoconfiança, a sua satisfação com a vida e que estabeleça mais relações sociais.
A estimulação cognitiva, especificamente, consiste numa dinâmica de reabilitação cognitiva dirigida, quer aos pacientes, quer aos familiares e/ou cuidadores de forma individual ou coletiva, que tem como principal objetivo resgatar as funções comprometidas, estimular as funções cognitivas, fornecer suporte psicológico e dar informações que promovam a saúde e a socialização do cliente (Câmara et al., 2009).
Os estudos efetuados em relação ao treino da memória têm evidenciado que as pessoas idosas têm capacidade, quer de aprender, quer de empregar estratégias mnemónicas, o que implica que consigam gravar e evocar informações novas de forma mais eficaz, pressupondo-se a noção de plasticidade da memória no envelhecimento.
Ball et al. (2002) realizaram um estudo com o intuito de verificar a eficácia dos treinos cognitivos, no qual participaram aproximadamente 2800 adultos em idade avançada, com idades compreendidas entre os 65 e os 94 anos, os quais eram independentes na realização de atividades de vida diária (AVD) e tinham um bom status cognitivo. Aquando o seu estudo, os autores comprovaram que 11 sessões de treino cognitivo melhoraram, numa parcela representativa dos participantes, habilidades como a velocidade de processamento, o raciocínio indutivo e a memória.
De Vreese, Belloi, Iacono, Finelli e Neri realizaram, em 1998, uma investigação com dois grupos de pessoas idosas: o primeiro formado por 30 indivíduos com queixas subjetivas de memória e o outro por 20 adultos em idade avançada com queixas subjetivas e objetivas de memória (declínio da memória episódica verbal sem repercussões nas atividades de vida diária). Os grupos foram submetidos a sessões de treino de memória com duração de 90 minutos, uma vez por semana, por um período de três meses (Ávila e Miotto, 2002). No final do tratamento, verificou-se que os sujeitos que tinham também queixas objetivas de memória tiveram maior benefício dos treinos e que os ganhos qualitativos eram maiores do que os quantitativos.
Bottino et al. (2002) avaliaram os resultados de um programa de estimulação cognitiva para pessoas idosas com demência, no qual 29 foram submetidas a dez sessões de estimulação durante cinco semanas, sendo comparadas a 27 não estimuladas, que foram utilizadas como grupo de controlo. As avaliações feitas na primeira e na sétima semana, mostraram uma melhoria significativa no MMSE (p<0,01), no Teste de Memória Verbal (p=0,09) e numa bateria neuropsicológica adicional (p<0,01).
No âmbito da estimulação cognitiva, os Psicólogos têm como principais funções avaliar previamente as necessidades do grupo-alvo; avaliar, sistematicamente, os resultados obtidos, tendo em conta os objetivos que foram delineados; dinamizar as parcerias necessárias para que o indivíduo se envolva na comunidade; ter um discurso adequado ao público-alvo e mensagens preventivas adequadas às características do desenvolvimento quer psicológico quer social dos destinatários e à credibilidade das fontes de transmissão da informação (Teixeira, 2007).
Em síntese, a literatura é consensual face à importância de um leque de atividades de lazer e de estimulação cognitiva para que a qualidade de vida dos indivíduos, sobretudo os institucionalizados, seja salvaguardada, designadamente os programas de promoção da saúde e as técnicas de reabilitação cognitiva.
Carmen da Silva Pereira