Amanhã é o oitavo Dia Mundial dos Pobres.
A efeméride será assinalada pelo Papa que irá almoçar com cerca de 1500 pobres, na Sala Paulo VI do Vaticano, onde decorreu o último Sínodo.
Na sua mensagem Francisco recorda que “os pobres têm um lugar privilegiado no coração de Deus” e que “Deus está atento a cada um deles” (n.4). Daí recomendar-lhes: “não percam esta certeza: Ele não se esquece de vós, nem nunca o poderia fazer.” (n.6)
O Papa salienta também a violência e os efeitos das guerras no aumento da pobreza: “Quantos novos pobres produz esta má política das armas, quantas vítimas inocentes! (4) E acrescenta: “Somos pobres de paz!”
Perante este cenário “não podemos passar e olhar para o outro lado. A indiferença é cúmplice da injustiça. E não há mais tempo para indiferença”, apelou o Papa em mensagem à COP 29. E acrescentou: O egoísmo – individual, nacional e de grupos de poder – alimenta um clima de desconfiança e divisão que não responde às necessidades de um mundo interdependente no qual deveríamos agir e viver como membros de uma única família que habita a mesma aldeia global interligada.”
E não ficou por aqui a sua análise ao momento político e económico que se vive:
“O desenvolvimento económico não reduziu as desigualdades. [Pelo contrário], “favoreceu a prioridade do lucro e dos interesses particulares em detrimento da proteção dos mais frágeis, e contribuiu para o agravamento progressivo dos problemas ambientais”.
Dias antes, numa mensagem enviada ao “Comité Pan-Americano de Juízas e Juízes pelos Direitos Sociais e a Doutrina Franciscana”, o Papa afirmara: “O Estado, e não o mercado, é quem gera a harmonia e garante a justiça social”. E instou os magistrados a não ajudar a “limpar as ruas de pobres”, mas sim a “ajudar para que não haja pobreza”; antes uma “distribuição de riqueza equitativa e justa para que não haja mais excluídos e todos façam parte do sistema económico e social de maneira igualitária e integrada”.
Na sua mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, Francisco acrescenta que este problema que divide os países ricos dos países pobres, “tornou-se um compromisso na agenda de cada comunidade eclesial. É uma oportunidade pastoral que não deve ser subestimada, porque desafia cada fiel a escutar a oração dos pobres, tomando consciência da sua presença e das suas necessidades.” (n.7) E recomendou as pessoas a “parar, aproximar-se, dar um pouco de atenção, um sorriso, uma carícia, uma palavra de conforto… (n.9).
A parte final da Mensagem do Papa responde, que nem uma luva, às controversas propostas do futuro presidente-norte-americano: “O egoísmo – individual, nacional e de grupos de poder alimenta um clima de desconfiança e divisão que não responde às necessidades de um mundo interdependente no qual deveríamos agir e viver como membros de uma única família que habita a mesma aldeia global interligada.”
A economia açoriana vive quase o pleno emprego, dizem os governantes. O turismo bate recordes de visitantes e do volume de receitas. Todavia, mantemo-nos nos mais baixos índices sociais de bem-estar do país e cerca de ¼ da população açoriana é pobre.
Em Ponta Delgada, há cerca de 100 pessoas a viverem na rua. No arquipélago os sem-abrigo aproximam-se das quatro centenas e já existem nas “ilhas pequenas”.
Quer isto dizer que muito pouco foi feito ao nível dos direitos sociais e humanos e que a justiça social não passou das palavras aos atos. Nem a Igreja católica, nem a sociedade em geral, os poderes políticos e os agentes económicos tomaram a peito o problema. Antes limitaram-se a resolver casos pontuais, à caridadezinha e não foram capazes de diminuir significativamente o problema.
Em finais dos anos 60, Onésimo T. Almeida descreveu a sociedade em que se vivia neste poema: “De maravilhas e sonhos/dizem que as ilhas são. É, sim, p’ra olhos jantados,/mas p’ra meu povo ‘inda não!”
Sessenta anos depois, a situação mantém-se. Até quando?
José Gabriel Ávila*
*Jornalista c.p.239 A
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