A desigualdade de género tem um impacto significativo na saúde psicológica, afetando tanto mulheres (M) quanto homens (H) em várias esferas da vida pessoal, familiar, profissional, escolar e social. Embora seja um problema da sociedade, e com impacto na sua evolução, afeta individualmente e dificulta o acesso a uma vida plena. Para melhor compreensão deste fenómeno, segue-se uma lista dos principais efeitos psicológicos para ambos os géneros:
- Baixa Autoestima
M: A constante desvalorização das capacidades femininas, especialmente em contextos de trabalho ou liderança, pode gerar uma sensação de insuficiência e baixa autoestima. Por vezes está internalizada a ideia de que são menos competentes, o que pode limitar a procura de oportunidades e o desenvolvimento pessoal e profissional.
H: A pressão para ser bem-sucedido e ocupar posições de poder pode afetar a autoestima masculina, podendo gerar sensações de ineficiência quando os objetivos não são alcançados. - Ansiedade e Depressão
M: algumas enfrentam sexismo, violência de género, sobrecarga de trabalho e limitações financeiras impostas pela disparidade salarial. Estas dificuldades facilmente despoletam quadros depressivos e ansiosos.
H: podem sentir-se pressionados a cumprir papéis de “força” e “sucesso” e quando não conseguem, podem sentir que fracassaram e sentir a sua “masculinidade” afetada. Também lhes está associada a responsabilidade do “sustento do lar” e, portanto, situações de desemprego são sentidas com maior dureza, gerando sintomatologia ansiosa e depressiva. - Sentimento de culpa e síndrome do Impostor
M: quando alcançam sucesso por vezes sentem-se culpadas por priorizarem a carreira em vez da família. Outras sofrem da síndrome do impostor, duvidando das suas próprias conquistas e habilidades, acreditando que não são merecedoras das suas posições laborais.
H: podem sentir-se pressionados a priorizar a carreira gerando culpa se não o fizerem e a síndrome do impostor pode revelar-se quando ocupam posições que exigem habilidades não-tradicionalmente atribuídas a eles, como nas áreas dos cuidados e educação. - Transtornos relacionados com o corpo e a imagem
M: os estereótipos de beleza e aparência resultam em pressão para atender a padrões irreais. Isso pode gerar transtornos como anorexia, bulimia e dismorfia corporal.
H: podem sentir-se pressionados a exibir uma aparência forte e atlética, o que pode levar a transtornos corporais e ao uso de substâncias como anabolizantes, prejudicando a saúde física e mental. - Stress e Burnout
M: a acumulação da vida profissional e a gestão familiar e doméstica pode resultar num esgotamento físico e psicológico. Essa sobrecarga afeta o sono, as emoções e a saúde mental como um todo, podendo levar ao burnout.
H: os que assumem maior envolvimento na vida familiar podem sentir-se julgados socialmente, resultando num tipo diferente de burnout, marcado pelo conflito entre as responsabilidades familiares e as expectativas sociais. - Impacto na Educação e no Desenvolvimento Pessoal
M: podem evitar determinadas áreas de estudo ou carreira por temerem a discriminação ou a falta de apoio. Isso pode limitar o desenvolvimento de habilidades e interesses, gerando insatisfação e dificuldade de realização.
H: podem afastar-se de áreas relacionadas com o cuidado e a educação por receio do estigma e assim limitar a expressão completa dos seus interesses e habilidades. - Impacto nas Relações Interpessoais
A desigualdade de género pode afetar a maneira como homens e mulheres se relacionam. Mulheres que ocupam papéis de liderança podem enfrentar resistências nos relacionamentos, e os homens podem sentir dificuldade em lidar com mulheres independentes devido a expectativas de dominância e autoridade.
Para mitigar estes efeitos, é essencial promover políticas de igualdade de género, verificar se as leis contra a discriminação e a violência são cumpridas, criar oportunidades de trabalho e representatividade para mulheres, reconhecer o problema e desafiar estereótipos de género, e fornecer apoio psicológico a quem precisa. A mudança requer a participação ativa de homens e mulheres, pois só juntos poderemos construir uma sociedade mais justa e inclusiva.
A educação e a comunicação são as duas áreas que mais contribuem para reproduzir e reforçar as conceções de género e, portanto, as que mais poder têm para as questionar e transformar.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses. - Joana Amen *
- Psicóloga e Vogal da Direção da Delegação Regional dos Açores