Caro leitor, esta crónica é um apelo ao bairrismo. O aeroporto da ilha de São Miguel, João Paulo II, tem um nome que impõe respeito. Com uma bênção papal, evoca a santidade e peregrinação: um nobre nome que abençoa a ilha.
Já o Aeroporto Civil das Lajes… Blergh. Soa mais a parque de estacionamento com uma pista de aviões como anexo. Se isto fosse um jogo de futebol, ao intervalo estaria: São Miguel 1 Terceira 0. Entretanto, no banco da ilha Terceira, um guitarrista afina as cordas. Fique para a segunda parte, que isto não vai acabar assim.
Penso que é seguro afirmar que Nuno Bettencourt, guitarrista e compositor, é amplamente conhecido no panorama açoriano. Mas pergunto: será que sabemos o nível absolutamente monstruoso de importância que este homem tem no universo musical? Não acredita em mim? Peço-lhe o seguinte: agarre no telefone, abra a aplicação do Youtube e escreva “Brian May talking about Nuno Bettencourt”. Com os seus próprios olhos e ouvidos, veja o Sir Brian May, guitarrista dos Queen, doutorado em astrofísica e cavaleiro da coroa britânica, comportar-se como um fã obcecado, a gabar a técnica inatingível do nosso terceirense, como quem acaba de assistir à chegada de um mito das entranhas do Olimpo. E não é só o Sir Brian. Por todo o lado, músicos de renome, e como eu, meros mortais osciladores de palhetas se rendem ao génio deste – Açoriano!
A Rolling Stone Magazine, conhecida por lançar elogios a conta gotas, inclui o Nuno Bettencourt na sua lista de melhores guitarristas de sempre. Não acha suficiente? Então lembre-se da música More Than Words. Sim essa mesmo. Uma das baladas mais badaladas de sempre, foi composta pelo nosso ilustre. Conta com quase 800 milhões de visualizações no Spotify, e outras mesmas quantas no Youtube. Caro leitor, 800 milhões tem seis zeros a seguir ao 800. É quase o número de vezes que São Miguel é melhor do que a Terceira. Estou a brincar, amigos. É só para meter o sangue da ilha lilás a ferver. E quando pensavam que o homem já tinha dado tudo, em 2024, com o novo álbum da sua banda Extreme, os solos do Nuno causaram tanto impacto no mundo das guitarradas, que foram descritos como um sopro de vida numa manobra de ressuscitação do rock and roll moderno. Um solo em particular, da música Rise, foi tão falado e analisado, esmiuçado e considerado, que provavelmente gerou teses de mestrado sobre “movimentações harmónicas dedais ininteligíveis”.
Na semana passada, o mundo assistiu a um momento histórico: o concerto de despedida de Ozzy Osbourne e dos lendários Black Sabbath. O palco foi testemunha de um verdadeiro desfile das personalidades mais relevantes do heavy metal mundial. Entre eles, e na minha opinião – e partilhada por muitos outros – a luz que brilhou com mais intensidade foi a de um guitarrista nascido na ilha Terceira. A convite pessoal de Ozzy, participou em 12 músicas ao longo do evento, deixando o público de queixo caído com a sua versatilidade e genialidade. Inclusive, durante um dos momentos altos da noite, numa interpretação emocionante da Changes, dos Black Sabbath, vestiu a camisola do saudoso Diogo Jota, prestando uma homenagem tocante, prova do extraordinário carácter do Nuno Bettencourt, bem conhecido por quem com ele já privou, e evidente a quem, sem o conhecer, o acompanha à distância.
Aeroporto Civil das Lajes… Blergh. Vamos lá acabar com o civismo. Está na hora do heroísmo tão característico da ilha Terceira. O jogo está a acabar e São Miguel ainda ganha 1-0. Nuno Bettencourt desce pela linha com o seu estilo inconfundível. O público levanta-se, emoções em alta. Será que vão marcar?
Aeroporto Internacional Nuno Bettencourt. Seria, sem sombra de dúvida, o nome mais rock and roll de qualquer aeroporto no planeta. Os madeirenses podem ter um aeroporto com nome de jogador da bola, mas os terceirenses? Os terceirenses podem ter uma lenda da guitarra e estrela global.
Imaginem os pilotos americanos da base das lajes a dizer “please take your seats for landing at Nuno Bettencourt Airport” com a dicção esforçada e respeitinho na língua. Todos os Açorianos, após a comunicação do comandante, ficariam a saber que aquela é a ilha da cultura e respeito pelos artistas.
Por isso, caro leitor, lancei uma petição online: “Mudança do nome do aeroporto civil das Lajes para Aeroporto Nuno Bettencourt” (https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT126361).
Assinem. Partilhem. Anunciem ao mundo.
Esta ideia não partiu de mim. Não parte de um micaelense. Foi um sopro das musas do rock ao encontro do primeiro cronista disponível de forma a repor justiça ao universo.
Amigos da Terceira, São Miguel não pode ganhar isto.
Philip Pontes