Os temas da semana: uma variante “muito má” chegou à Europa
O principal tema de saúde – a nível mundial – na última semana foi a declaração pela “Organização Mundial da Saúde” (OMS) de que o surto de MPOX (varíola dos macacos) representa uma “Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional” (PHEIC, em inglês). Esta decisão, anunciada no dia 14 de Agosto, resulta da rápida propagação do vírus, particularmente da variante “Clade Ib” na África Central, com possível impacto a nível mundial. Esta decisão da OMS pretende coordenar respostas globais, incluindo a vigilância reforçada, a vacinação e o controlo de fronteiras, face a um esperado aumento significativo de casos e mortes, especialmente nas regiões com sistemas de saúde frágeis.
Na mesma altura a Europa registou o primeiro caso confirmado da variante “Clade Ib” fora de África, caso reportado na Suécia no dia 15 de Agosto de 2025, num indivíduo com histórico de viagem a áreas afectadas, na África Central.
O “Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças” (ECDC) alertou para a probabilidade elevada de termos mais casos importados, embora o risco de transmissão na Europa permaneça baixo, conquanto haja diagnóstico rápido e medidas de controlo eficazes. O ECDC actualizou vários protocolos de vigilância, este mês, para abranger todos os países da “União Europeia”.
Estão a decorrer também preparativos para várias conferências sobre Saúde Pública e sobre vacinas, que irão realizar-se na Europa até ao final do ano. Esta semana não posso deixar de destacar, ainda, o surto de Chikungunya na China, com mais de 7000 casos reportados, que obrigou a medidas de quarentena semelhantes às da COVID-19.
Em Portugal, na última semana, a Direcção-Geral da Saúde reforçou a vigilância para a MPOX, esclarecendo que nenhum caso em Portugal, dos notificados, pertence à variante mais perigosa – todos os casos identificados pertencem à “Clade IIb”, menos grave.
Nos Açores, na última semana, foram realizadas múltiplas evacuações médicas interilhas, efectuadas pela “Força Aérea Portuguesa”, com o objectivo de transportar utentes que necessitavam de cuidados urgentes, entre as ilhas do arquipélago. Estas operações envolveram o helicóptero EH-101 Merlin e o avião C-295M. Registaram-se pelo menos 5 missões, incluindo transportes de doentes das ilhas de São Jorge e Pico, bem como ligações com o arquipélago da Madeira.
A homenagem da semana: à rápida resposta da Suécia, que protegeu toda a Europa. Para já.
As Autoridades de Saúde Pública da Suécia, em particular a equipa do “Instituto Sueco de Saúde Pública” (Folkhälsomyndigheten), sob a coordenação do Dr. Magnus Gisslén (especialista em doenças infecciosas), destacou-se esta semana na detecção e gestão do primeiro caso confirmado da variante “Clade Ib” de MPOX fora de África, reportado a 15 de agosto de 2025, como já referi acima. Com uma resposta extremamente rápida, em articulação com o ECDC, efectuou o isolamento imediato e rastreio dos contactos, minimizando assim o risco de transmissão na Europa. O ECDC classifica, por isso, o risco como baixo, graças a estas medidas, e sublinha a importância da vigilância proactiva em contextos transfronteiriços.
No contexto do isolamento – factual – da Região Autónoma dos Açores, é crucial termos todas as condições necessárias para que, autonomamente – no melhor espírito do preconizado no Estatuto Político-Administrativo do Açores – possamos gerir situações similares, sem estarmos dependentes da metrópole continental.
Mário Freitas*
- Médico de Saúde Pública e de Medicina do Trabalho