“Nunca sei se valerá a pena recordar as dezenas (ou talvez já centenas) de acusações que o seu partido já conta, ao fim de poucos anos de existência.”
Vânia Ferreira, Marco Martins e Francisco Lima entram num bar. Poderia ser assim o começo desta sucinta análise. Não se trata de um mergulho nos programas eleitorais dos partidos, porque ainda não estão disponíveis, tanto quanto é do meu conhecimento, à hora que escrevo estas linhas. É uma abordagem a duas entrevistas em podcasts, feitas à atual presidente e ao candidato socialista, bem como a uma entrevista por escrito do candidato do chega.
Rodrigo Maia da Silva lançou recentemente um PodCast, a que chamou «Talvez não saiba nada», em parceria com o Ramo Grande Studio, onde entrevista figuras locais. Aproveitando o ensejo das autárquicas, dedicou-se às entrevistas às e aos candidatos para Angra do Heroísmo e para a Praia da Vitória, dentro da disponibilidade dos mesmos. De forma dinâmica, diferente e, até, divertida, começou esse meritório périplo com a atual presidente a oriente, Vânia Ferreira, seguindo-se Marco Martins, pelo PS.
A social-democrata apresentou-se numa postura evidentemente desconfortável. Não o digo de forma pessoal. Respeito as dificuldades de uma mulher na política, em todas as suas dimensões. Só que Vânia não é, desde logo, uma pessoa carismática, como qualquer munícipe praiense saberá. Pior do que isso foi a forma como respondeu a quase todas as simpáticas provocações do anfitrião, com carregado e frio semblante de quem não estava a gostar da brincadeira. Pelas palavras da própria, gosta mais de discutir, ao que parece. Já Marco Martins, candidato pelo Partido Socialista e antigo diretor regional da Solidariedade Social, veio de sorriso na boca, revelando o seu carácter genuíno de quem sabe estar na política e, fundamentalmente, de quem sabe a função da mesma. Talvez demasiado fácil, dirão alguns. Certo é que ficou demarcada a postura entre estas duas faces.
Quando confrontado com o passado, Marco Martins assumiu que erros foram cometidos e que outras opções terão que ser pensadas para o futuro daquele concelho. Assinalou-se a presença de uma voz bem experiente na sua candidatura para a Assembleia Municipal, algo que Marco partilha com Fátima Amorim. Importa realçar que Luísa Brasil, reside nas Lajes, e o seu percurso pessoal e político. Uma figura incontornável na Cultura e referência para muitas pessoas. Na minha perspectiva, uma pessoa que faz falta no panorama político. Por seu lado, Vânia entra na sua zona de conforto quando confrontada com os despedimentos promovidos pelo seu executivo. Há uma mudança radical na forma como a atual presidente se comporta, falando de terminar contratos como quem fala de erradicar doenças ou receber prendas, replicando a certa altura que “tudo foi calculado” e apontando o exemplo da sua gestão de casa, para comparar com a gestão da autarquia. Fico a pensar que se assim fosse, com o número de despedimentos efectuados, e o dinheiro gasto em contrapartida na novela da SIC, seria projeto para comprar uma garagem nova para a casa e meter os sogros a dormir no quintal.
Fala, também, na gestão empresarial como bom exemplo. Sempre os números acima dos seres humanos. Coisa do neoliberalismo. Nada social-democrata. O que se esqueceu de mencionar, mas que também é revelador da sua postura, foi o atraso no pagamento de retroativos àquelas pessoas que fez questão de despedir, mas não o conseguiu. Refiro-me às e aos trabalhadores da Praia Cultural.
Vânia joga em casa com as questões administrativas e as polémicas do dia, assumindo-se com perseverança, mas também estranhamente orgulhosa de ter nascido no dia da Praia, como se isso fosse um feito seu, e não uma coincidência universal.
No final das entrevistas, feitas em separado, mas aqui abordadas em conjunto por falta de tempo, o que resulta é uma ideia de possibilidades imensas, e poucas certezas, para além da de Marco Martins ter o perfil necessário para devolver a credibilidade que tanto a política necessita. Assume os seus desagrados internos, demonstra conhecimento e revela uma enorme empatia.
Já Francisco Lima, em entrevista ao Diário Insular, no dia 9 de agosto, diz-nos ao que vem. Um discurso apocalíptico que veste a Praia da Vitória com cores de sangue nas ruas, e empossa-o como salvador de uma pátria entre brumas. Acusa os adversários de fomentar um clima de medo, intimidação e perseguição. Nunca sei se valerá a pena recordar as dezenas (ou talvez já centenas) de acusações que o seu partido já conta, ao fim de poucos anos de existência. São tantas as alegações de ameaça, que já se torna redundante procurar falar delas, para além de ser passível de uma futura e mais contundente vingança.
Opto, antes, por agradecer as suas amáveis palavras quando refere em quem procurou ajudar as e os trabalhadores da Praia Cultural. Nisso, não se enganou. Pena que não o faça mais vezes. Como, por exemplo, quando refere que o PS perseguiu empresários, e depois fala na necessidade de reinvestir no projeto Terceira Tech Island, um projeto dizimado por Vânia e Bolieiro. O que não identifica é o empresário que foi perseguido, e porque é que regressa para crucificar os perseguidores, vindo das sombras do obscurantismo salazarista. O senhor quer extinguir a Praia Ambiente, depois de ser contra a maneira como se fizeram os despedimentos na Praia Cultural. Talvez seja uma proposta para aplicação de glifosato contra os supostos tachos que defende exterminar. Quer investir, e crescer. Não diz é como. É que com veneno, as plantas não crescem. Mas há uma proposta de música na cidade e aproveitamento do areal. Talvez, o seu líder regional se comece a deslocar mensalmente à Praia da Vitória para realizar um concerto de angariação de fundos para o município.
Assim, sai do bar o Marco. Esperemos que optem por deixar Vânia e Francisco lá dentro. Nada de bom virá daqueles ventos. O senhor que nos quis vender o jornalismo como cobra afiada que vai decapitar com inteligência artificial, não traz boas novas na sua candidatura.
Não sendo residente no concelho, mas acreditando na potencialidade da Praia da Vitória como alavanca para o desenvolvimento sócio e económico, da Região, quero acreditar que as e os residentes reconhecerão os valores que Marco Martins carrega, e que o voto secreto, depositado em urna, será a ferramenta democrática que o elegerá, para alterar o rumo do concelho. A Praia não pode desesperar.
Alexandra Manes