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Quando a colunase parte em silêncio

A dor nas costas é muitas vezes vista como algo banal, quase inevitável com a idade. Mas por trás de muitas dessas dores silenciosas está uma fratura osteoporótica da coluna — uma lesão que afeta cerca de um terço das pessoas com mais de 65 anos e que, se não for diagnosticada e tratada, pode mudar profundamente a vida de quem a sofre.
Estas fraturas ocorrem frequentemente após esforços mínimos — levantar um saco, tossir ou até espirrar. O que as torna perigosas é a sua natureza discreta: muitas passam despercebidas, confundidas com “mais uma dor nas costas”, até que o doente começa a perder altura, a postura se inclina para a frente e a autonomia se esvai pouco a pouco.
Quando uma vértebra colapsa, todo o corpo se ressente. Surge dor intensa, dificuldade em respirar profundamente, perda de apetite e de energia. A imobilidade instala-se — e com ela a sarcopenia, a perda de massa muscular — que aumenta ainda mais o risco de novas quedas e fraturas. É um círculo vicioso que pode ser travado apenas com diagnóstico precoce e uma abordagem ativa.
O diagnóstico começa com uma radiografia, mas a tomografia computorizada (TAC) e a ressonância magnética (RMN) são muitas vezes essenciais para melhor as caraterizar e para excluir causas mais graves, como tumores ou infeções. É um erro comum tratar apenas a dor e ignorar a causa subjacente — a osteoporose. Uma fratura vertebral é quase sempre um sinal de alerta de uma doença silenciosa que precisa de ser tratada.
Na maioria dos casos, o tratamento é conservador: controlo da dor, tratamento da osteoporose e regresso gradual à atividade. É importante sublinhar que existe muito pouca evidência científica de que os coletes sejam eficazes — e o seu uso prolongado pode até estar associado a atrofia muscular e a uma recuperação mais lenta. O essencial é não perder a mobilidade nem a autonomia, pois o repouso prolongado é um dos principais inimigos da recuperação.

Quando, apesar do tratamento conservador, a dor se mantém e impede o doente de retomar a sua vida normal, pode estar indicada uma pequena intervenção cirúrgica chamada cifoplastia. Este procedimento minimamente invasivo consiste em injetar cimento ósseo na vértebra fraturada, estabilizando-a e aliviando a dor quase de imediato. É uma cirurgia segura, realizada frequentemente em regime de ambulatório e apenas com anestesia local, que permite recuperar rapidamente o movimento e reduzir complicações associadas à imobilidade.
Mas o essencial vem depois: prevenir a próxima fratura. Isso implica tratar a osteoporose com a medicação adequada, garantir uma alimentação rica em proteínas e vitamina D, e sobretudo manter o corpo em movimento. O treino de força e de equilíbrio têm mostrado, em múltiplos estudos, reduzir o risco de quedas e fraturas, mesmo em pessoas com idade avançada. Envelhecer com força é possível — e deve ser um objetivo.
As fraturas osteoporóticas da coluna não são um destino inevitável. São um sinal de que precisamos de cuidar da nossa mobilidade, da nossa postura e da nossa saúde óssea.
Olhar pelas costas é olhar pela vida.

Ricardo Rodrigues Pinto*

* Prof. Dr. Ricardo Rodrigues Pinto, Médico Ortopedista,
Cirurgião da Coluna, Professor Universitário;
Diretor da Unidade Vertebro-Medular da ULS de Santo António, no Porto; Diretor do Serviço de Ortopedia do Hospital CUF Trindade

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