Continuação
Muitos anos depois, isto é, em 1995, no decurso de um colóquio no qual participava, em Tulare, Califórnia, surgiu-me a ideia de organizar uma antologia de poesia açoriana. Pareceu-me pertinente, sobretudo tendo em conta a Comunidade Portuguesa dos Estados Unidos e do Canadá. Contudo, deparava-se-me um problema de ordem prática: Como apresentar o produto, um livro, em ambiente assaz alienígeno, que é o comércio da saudade? Que perspectivas teria de venda em directa competição com postas de bacalhau e latas de azeite? Na diáspora podem-se contar pelos dedos as livrarias existentes. Com o apoio e a disponibilidade de pessoas amigas, organizações sociais, culturais e académicas, foi-me possível fazer alguns lançamentos da Antologia. Recordo com gratidão o apoio de Onésimo Teotónio de Almeida, Universidade Brown, Casa dos Açores da Nova Inglaterra, Biblioteca Casa da Saudade em New Bedford, Diniz Borges em Tulare, Goretti Silveira em San José, Califórnia, e, finalmente, Regina Calado em Vancouver. Essa primeira edição saiu com a chancela da Seixo Publishers, uma pequena editora que criei e já se encontra extinta.
Quatro anos mais tarde surgiu-me uma oportunidade para a sua reedição. Desta feita através do Instituto Camões. O volume surgiu no mercado substancialmente melhorado e com uma gravura do pintor angolano Ferreira Pinto. Foi oficialmente introduzida ao público durante as Pontes Lusófonas que decorreram em Maputo, Moçambique, no ano 2000. Teve outra apresentação em Lisboa, no Palacete do Instituto Camões, no âmbito do lançamento de um outro livro meu de poesia, Um Dia Qualquer em Junho, também editado pela mesma instituição.
A terceira edição apareceu com um prefácio do ensaísta açoriano Vamberto Freitas, com distribuição por todas as embaixadas portuguesas espalhadas pelo mundo.
Passou-se entretanto uma década sobre estes acontecimentos. Entretanto criei a Seixo Review, revista online de artes e letras. De carácter internacional, foram publicados autores de vários quadrantes geográficos em português, inglês, italiano, castelhano e galego. Foi incluída, no âmbito dos recursos digitais, em instituições académicas como, por exemplo, no Departamento de Estudos Germânicos e Românicos da Universidade de Deli, no Instituto Politécnico de Beja, ou em páginas individuais com a Webteca (Galiza), Marco Scalabrino (Itália), Instituto Camões em Lisboa, entre outros lugares na Internet. Embora a sua publicação se encontre suspensa neste momento, continua disponível através do endereço www.seixoreview.com.
A revista foi uma extensão mais abrangente da Antologia. Interessava-me sobremaneira o diálogo entre os criadores açorianos e outras culturas, não só na esfera lusófona mas também noutras partes do globo, em aéreas diversas como a ficção, poesia, ensaio e artes plásticas. A verdade é que cheguei ao número 10 com todo o cansaço de um projecto ambicioso às costas e que exigia, além de mim, nas suas várias frentes, uma equipa e meios económicos necessários para contornar alguns óbices. Fiz uma pausa que poderá ser definitiva ou temporária. Só o futuro o dirá.
Não obstante novos e variados interesses, os Açores ocuparão sempre o meu imaginário e o meu afecto. A Antologia Os Noves Rumores do Mar é e continuará a ser, um dos fascículos mais significativos da minha vida literária.
Fecho este texto com uma palavra de homenagem muito sentida aos poetas açorianos entretanto desaparecidos: Álamo Oliveira, Emanuel Félix, Pedro da Silveira, Madalena Férin, Carlos Faria, José Martins Garcia e Mário Machado Fraião. Gostaria também de mencionar os escritores Dias de Melo, Fernando Lima e Fernando Aires. Aprendi com todos a ver a ilha através do translúcido espelho da sensibilidade.
E Regina Calado, de Vancouver, que amou a sua língua como o próprio rosto. Ao ler poesia, os seus olhos cantavam como o mar.
Eduardo Bettencourt Pinto