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Diário dos Açores,154 anos num contexto difícil

No dia 5 de fevereiro de 2024 o Diário dos Açores completa a bonita idade de 154 anos, o que constitui para o jornal, os jornalistas, a Direção do jornal, os colaboradores, os leitores e os acionistas um motivo de alegria por tão longo percurso e nem sempre isento de dificuldades, sendo que algumas delas são bem pesadas.
Os Açores constituem um exemplo notável a nível nacional e mesmo mundial na criação de jornais nestes últimos três séculos, num percurso extraordinário de resiliência e que certamente é um laboratório de estudo para os estudiosos que trabalham na área da comunicação social. Devemos ser uma das Regiões do mundo que mais títulos de jornais criou e que mais tempo resistiram aos desafios do tempo, aos ciclos da vida dos seus diferentes acionistas e às diferentes crises económicas e financeiras.
Um jornal como o Diário dos Açores cumpre com as funções de quotidianamente informar os seus leitores do papel e online, formar com os artigos de opinião e numa linha pluralista, e praticar um rumo editorial independente, em síntese, serve o propósito de serviço público, ainda que os seus acionistas sejam privados.
Este aniversário dos 154 anos do Diário dos Açores está a ser vivido num contexto difícil, a que não é alheia a crise instalada no Grupo Global Média e dono de vários títulos de referência nacional, como são o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, o Jogo, a TSF e o também nosso centenário Açoriano Oriental, com consequências graves para os jornalistas e colaboradores destes Órgãos de Comunicação Social, mas também a nível regional com as dificuldades assumidas por vários jornais e de que é exemplo recente a suspensão em papel do jornal Incentivo do Faial.
A todas as empresas, sejam privadas ou públicas, mesmo nos açores, devem ser exigidas boas práticas de gestão, independentemente do setor de atividade em que atuam, e os seus gestores avaliados e responsabilizados pelos resultados obtidos. Outra coisa é, reconhecermos como absolutamente indesmentível que existem nos Açores, como uma pequena economia insular, dispersa, afastada do continente português e dos principais centros europeus, desafios e constrangimentos específicos, que já estão transpostos para a Constituição da República Portuguesa e para o seu Estatuto de Região Ultraperiférica no contexto das Regiões da União Europeia, o que tem resultado para a Região Autónoma dos Açores em medidas específicas e programas especiais de apoio aos custos da insularidade e de apoio à coesão social e territorial.
Tendo em consideração estas especificidades transversais a todos os setores de atividade e empresas nos açores, é aceitável que dado o papel informativo e formativo que os Órgãos de Comunicação Social (OCS) independentes e de qualidade cumprem nas sociedades democráticas possam ter um tratamento discriminatório positivo, desde que transparente e que não provoque efeitos perversos. Também é verdade que não fácil definir as fronteiras da independência e da qualidade e como são certificadas? É fundamental que se assuma que este é um terreno difícil e permeável a alguma demagogia, que no nosso caso só pode ser ultrapassada com decisões democráticas com origem nos Órgãos de Governo Próprio dos Açores, sob pena de termos efeitos perversos que não interessam às empresas e à própria Autonomia.
Medidas de apoio à formação profissional dos jornalistas e colaboradores dos OCS, modernização dos equipamentos e até à própria distribuição destes Órgãos de Informação parecem colher um amplo consenso, já outras iniciativas carecem de esclarecimentos, fundamentação e amplos consensos.
Finalmente, o meu reiterado apreço e parabéns pela forma independente e ativa como o Paulo Viveiros e o Osvaldo Cabral tem sabido conduzir o Diário dos Açores e fazendo Votos para que o jornal tenha uma longa vida num ambiente independente, democrático e autonómico.
Certamente que os Parceiros Sociais dos Açores e membros do Conselho Económico e Social dos Açores (CESA) se associam a estes meus Votos, até porque o Diário dos Açores é uma manifestação de referência da nossa Sociedade Civil que importa preservar e valorizar.

Gualter Furtado*

  • Presidente do CESA
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