Lembro-me perfeitamente do ar vetusto (na altura eu pensava “venerando”) do Diário dos Açores quando nos finais da década de 1950comecei a ler esse jornal, que chegava ao Pico da Pedra na camioneta do correio às quatro e meia da tarde. Recordo-me da edição a celebrar os seus 90 anos; essa marca etária ficou-me gravada, associada à dita ideia de instituição venerável. Isso bem antes de, com o avançar da minha adolescência, começar a olhar para ele como o tal jornal “vetusto”, marcado pela imagem dos seus respeitáveis diretores de então, que tinham para mim uma aparência de avós embora eu não soubesse exatamente a idade deles. Tudo isto para servir de introdução ao que venho.
Ao chegar-me um breve email do atual diretor – os emails dele são sempre brevíssimos – solicitando colaboração para o número celebratório do 154º aniversário, pensei de imediato que quem deve ser celebrado nesse dia é o próprio diretor, o Osvaldo Cabral – que foi quem ressuscitou um jornal que chegou a circular com ar decrépito, a arrastar as botas. Quando o Osvaldo interveio, foi num ápice que o jornal ressurgiu – mais do que simplesmente recauchutado – como novo, de cara jovem e carregado de genica. Nessa sua revira volta, uma respeitável voz se impôs de imediato: justamente a do diretor na sua coluna que, em vez de mero editorial, surgia publicando análises políticas e económicas assentes em dados que os grandes jornais conseguem apenas com a ajuda de equipas de investigação: estatísticas, informações pertinentes sobre a vida económico-política da Região, desassombradas críticas aos poderes, instituições e empresas públicas, sempre em tom analítico, com a firmeza de quem sente segurança nos números e nas suas fontes, contudo mantendo um discernimento e um equilíbrio inspiradores de confiança nos leitores.
Aqueles que inicialmente desconfiaram de se tratar de uma voz contratada ao serviço de uma cor política, ao longo dos tempos foram-se convencendo de que afinal havia mesmo isenção. Os juízos críticos do Osvaldo Cabral eram equitativos e imparciais. Imparcialidade não significa ser-se neutro; apenas significa que se toma posição por um lado ou por outro seguindo valores e princípios coerentes, aplicáveis a seja quem for que esteja em causa. Foi assim desde o começo e assim se tem mantido, inabalável e sem nenhum espalhafato, porque o levantar da voz faz perder a razão.
Foi essa injeção de juventude e profissionalismo que fez e faz do “vetusto” Diário dos Açores um grande jornal da Região e é por isso que no bolo de aniversário dos 154 anos há que escrever: Parabéns, Diário dos Açores e Osvaldo Cabral!
Onésimo Teotónio Almeida